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Saque e Voleio

Agressividade inteligente: a chave da vitória de Tsitsipas sobre Federer

Alexandre Cossenza

20/01/2019 16h50

A grande partida deste domingo foi mesmo a vitória de Stefanos Tsitsipas, 20 anos, #15 do mundo, sobre o favoritíssimo Roger Federer, 37 anos, #3, atual campeão do Australian Open. Depois de perder o primeiro set no tie-break, o jovem grego triunfou em quatro sets: 6/7(11), 7/6(3), 7/5 e 7/6(5).

Foi um duelo com altíssimo nível de tênis durante cada minuto das 3h45 de jogo e se Federer não saiu vitorioso, muito disso tem a ver com os 12 break points não convertidos. O suíço teve dois no primeiro set, oito no segundo e mais dois no terceiro. E nem dá para dizer que houve um grande vacilo do #3 do mundo. Na maioria desses pontos, Tsitsipas deu as cartas e se salvou por conta própria.

Como ele fez isso num jogo tão importante – o maior de sua carreira – e logo contra Roger Federer? A resposta veio na entrevista pós-jogo (assista acima, leia abaixo), ainda em quadra, para John McEnroe: agressividade. O grego sempre tentou pressionar e balançar Federer. É provável que agressividade pura não tivesse funcionado. Era preciso atacar com inteligência e paciência nas medidas certas. E foi isso que Tsitsipas explicou. Como se fosse fácil…

"É muito importante, como eu disse antes, ter uma mentalidade agressiva e não pensar demais no que vai acontecer. Ficar no momento, jogar tênis de porcentagens, encaixar primeiros serviços e pressionar desde o começo. Consegui fazer isso, não perdi a paciência em alguns dos ralis que disputamos. Isso foi a chave para salvar esses break points. Acho que, de modo geral, mostrei um grande espírito de luta, determinação, tive a maioria de vocês [público] me apoiando…"

Obviamente, é muito mas fácil na teoria do que na prática, mas Tsitsipas conseguiu gloriosamente tirar suas ideias do plano teórico e colocá-las em quadra neste domingo, em Melbourne. Saques, forehands, backhands, voleios… Tudo estava funcionando lindamente.

Ouso dizer, inclusive, que à exceção de Nadal, Djokovic e Murray, não vejo alguém volear tão bem (e tantas vezes!) contra Federer há muito tempo. Ainda na conversa com McEnroe, Tsitsipas adotou um discurso quase romântico em relação ao jogo de rede e ao tênis moderno de modo geral.

"Acredito que ir à rede e ser agressivo… Pegar a bola na subida e, como você disse, ir à rede… Temos que manter isso vivo. A maioria dos jogadores nesta era do esporte são jogadores de linha de base. Eu gosto muito desse jogo agressivo, de ir à rede, de fazer saque-e-voleio de tempos em tempos. Isso mantém o esporte vivo e torna o tênis muito mais interessante."

Coisas que eu acho que acho:

– Não foi uma atuação ruim, de modo geral, de Federer. O suíço cuidou bem de seu saque – foi quebrado só uma vez em quatro sets – e pressionou Tsitsipas de maneiras diferentes. Tentou ganhar ralis, usou curtinhas para tirar o grego da zona de conforto atrás da linha de base e experimentou slices contra o backhand de uma mão do adversário.

– Roger, contudo, poderia ter devolvido melhor os saques de Tsitsipas (venceu apenas 36% dos pontos na devolução de segundo saque) e errou mais do que o que podia com seu forehand. Dos 55 erros não forçados que acumulou ao longo dos quatro sets (apenas 1,07 erro por game, o que não é tanto assim), 41 falhas vieram de sua direita. De novo: mais fácil falar do que fazer, mas diante do nível exibido por Tsitsipas hoje, Federer precisava mais.

– Após a derrota, Federer anunciou que vai jogar no saibro em 2019. O timing do anúncio é curioso (por que não dizer antes do torneio ou na semana que vem?), mas mais intrigante ainda será imaginar as consequências da terra batida no resto de sua temporada. Nos últimos anos, o suíço justificou que pular o saibro aumentaria duas chances na grama. E agora? Será que ir a Roland Garros vai diminuir suas possibilidades em Wimbledon?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.