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Saque e Voleio

Amanda Anisimova finalmente chegou

Alexandre Cossenza

18/01/2019 14h36

Era questão de tempo. Num circuito feminino em que uma jovem estrela é revelada a cada dia, chegou a vez de Amanda Anisimova, talvez a mais previsível "chegada" dos últimos anos. Nesta sexta-feira, a americana de pais russos, 17 anos e 1,80m de altura, desbancou Aryna Sabalenka, uma das mais cotadas ao título do Australian Open, por 6/3 e 6/2.

Não foi uma daquelas zebras em que o favorito tem um dia ruim, e o azarão acaba se aproveitando. Anisimova desenhou o dia ruim para a bielorrussa, atual #11 do mundo e terceira mais cotada nas casas de apostas. Foi uma pequena aula de tênis, com a adolescente usando ângulos, variações e potência de golpes para anular a força de Sabalenka.

Anisimova fez mais winners (21 a 12), errou menos (nove falhas não forçadas contra 13 da oponente) e saiu de quadra em apenas 1h05min, deixando muita gente de queixo caído. Surpresa? Hoje, talvez. Mas tudo na carreira de Anisimova indicava que ela "estouraria" cedo ou tarde. Vejam os vídeos. Eles falam mais do que o texto.

A jovem criada na Flórida foi vice-campeã juvenil de Roland Garros em 2016, quando tinha 14 (!) anos. Aos 15, foi campeã da Copa Gerdau, no Brasil, e jogou um torneio profissional em Curitiba, onde foi vice-campeã. Perdeu para a russa Anastasia Potapova, outra grande promessa (atual #89 do mundo). Poucos meses depois, Anisimova jogou o WTA de Miami. Mais tarde, já com 16, venceu o US Open e encerrou sua carreira como juvenil.

Em 2017, ganhou wild card para a chave principal de Roland Garros. Ano passado, com 16 anos, ganhou um convite para Indian Wells e foi longe. Bateu Petra Kvitova, que vinha de títulos em São Petersburgo e Doha, interrompendo uma sequência de 14 vitórias, e só foi eliminada nas oitavas por Karolina Pliskova. Só uma lesão no pé, que a tirou de ação por quatro meses, freou sua ascensão. Mesmo assim, Anisimova voltou a jogar no segundo semestre e logo recuperou seu ritmo, fazendo oitavas no WTA de Cincinnati e alcançando a final do WTA de Hiroshima.

Precoce? Nem tanto para uma menina que teve o primeiro contato com o tênis aos 2 anos de idade, graças a irmã Maria, 13 anos mais velha, que jogou tênis universitário. Amanda Anisimova, aliás, nasceu em Nova Jersey, mas viu os pais tomarem a decisão de se mudarem para a Flórida para que ela tivesse mais chances na carreira.

Qual o próximo passo para Anisimova? Neste Australian Open, a americana chegou como #87 do mundo e sairá entre as 70 melhores do planeta. Isso, claro, se não repetir a vitória sobre Kvitova, sua adversária nas oitavas em Melbourne. Curiosamente, agora a tcheca também vive grande momento, somando oito triunfos consecutivos e vindo de um título no WTA de Sydney.

Será?

Coisas que eu acho que acho:

– Parece comum ver uma menina de 17 anos nas oitavas de um slam? Não é. Aliás, a última adolescente a conquistar um slam foi Maria Sharapova, no US Open de 2006. Ela tinha 19 anos na ocasião. Jelena Ostapenko, campeã de Roland Garros em 2017, tinha 20 anos e dois dias na data da final.

– Não me peçam palpite para esse Kvitova x Anisimova das oitavas. A tcheca, bicampeã de Wimbledon, tem a experiência a seu favor, mas todos sabem do aspecto volátil de seu tênis. Pode estar calibrado numa sexta-feira e completamente desafinado no domingo. Anisimova, por outro lado, joga sem pressão. O que vier é lucro. Porém, também terá de lidar mentalmente com a atenção que conquistou nos últimos dias e com a expectativa que ela traz.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.