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Aposentadoria de Radwanska é derrota do talento puro

Alexandre Cossenza

15/11/2018 05h00

Agnieszka Radwanska anunciou sua aposentadoria. Aos 29 anos e com um histórico recente de várias lesões, a polonesa disse que não consegue mais treinar e jogar como costumava. Afirmou que seu corpo não consegue mais responder à altura de suas expectativas.

Aga não tem no currículo um título de slam (mas jogou uma final de Wimbledon, conquistou 20 títulos de WTA e um WTA Finals) nem foi número 1 (foi vice-líder do ranking), mas deu brilho e liderou o circuito feminino em alguns aspectos. Entre eles, foi eleita a favorita dos fãs seis anos seguidos – sim, à frente de Serena Williams, Maria Sharapova e o resto.

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Com 1,73m de altura (na medição generosa da WTA!) e um corpo não naturalmente privilegiado com dotes atléticos, Radwanska nunca foi a mais alta nem a mais forte das tenistas. Só que compensava – e um pouco mais – com seu talento para controlar a raquete e sentir a bola, além de uma inteligência tenística muito acima da média. Isso tudo lhe dava rara versatilidade e uma capacidade mas rara ainda de escolher o golpe ideal na hora certa.

Só assim, essa moça nascida em Cracóvia conseguiu batalhar e ir longe no tênis, dando nó nas cabeças de adversárias como Ana Ivanovic (7 a 3 em confrontos diretos), Jelena Jankovic (8 a 3), Karolina Pliskova (7 a 1), Simona Halep (6 a 5), Sloane Stephens (4 a 0), Madison Keys (5 a 1), Jelena Ostapenko (2 a 0), Eugenie Bouchard (4 a 0), Elena Dementieva (4 a 2) e tantas outras.

O grande problema de Radwanska sempre foi encontrar tenistas com muito mais potência. Nem todo talento do mundo conseguia compensar a falta de peso na bola contra gente como Serena Williams (10 a 0 para a americana em confrontos diretos) ou Maria Sharapova (13 a 2). Dilema que Aga teve praticamente só no circuito profissional. Como juvenil, foi número 1 do mundo e conquistou Wimbledon, Roland Garros e a Fed Cup.

Radwanska conquistou seu 20º título profissional e voltou a ser #2 do mundo em 2016. Aos poucos, porém, seu corpo foi acusando tantas compensações. Era preciso sacar muito, exigir muito do físico para tentar criar condições de derrotar quem bate tão forte na bolinha. Em 2017, parou por cinco semanas por causa de uma lesão no pé direito. Em 2018, surgiram dores nas costas. Ficou difícil seguir jogando do jeito que ela gostaria.

Não que seja alguma surpresa o tênis ter se transformado num esporte em que potência já não é mais artigo de luxo, mas item de necessidade. E tudo bem, é assim que a coisa evolui. A ATP já tem vários tenistas que pegam forte na bola, mas também têm mão e talento para variar o jogo. A WTA ainda perde nesse quesito, mas vai chegar lá. É questão de tempo.

Ainda assim, é uma pena deixar de ver Radwanska. Cada vez que a polonesa pisava em uma quadra, nos dava uma chance de admirar drop shots imprevisíveis, lobs precisos, aquela direita agachada que só ela sabia fazer, bolas anguladas, ralis intermináveis… Radwanska, é preciso admitir, sempre foi uma espécie em extinção na elite do tênis, mas agora que o fim chegou, também é necessário dizer: sua aposentadoria é uma derrota do talento puro.

Coisas que eu acho que acho:

– A íntegra do post de anúncio da aposentadoria está no tweet imediatamente acima. Radwanska diz, entre outras coisas, que "levando em consideração a minha saúde e o fardo pesado do tênis profissional, tenho que admitir que não posso forçar e levar meu corpo até os limites exigidos." Ela também declara seu amor aos fãs, agradecendo "por cada note sem dormir em frente à TV e por todos prêmios de favorita dos fãs – essa foi a maior honra e melhor recompensa pelo meu trabalho árduo. Sou verdadeiramente grata por ter os melhores e mais leais fãs em todo o tênis." Bonito, não?

– Aga recebeu o prêmio de Golpe do Ano cinco vezes seguidas na WTA – de 2013 a 2017. Não é por acaso. Veja os lances no primeiro tweet deste post.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.