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Federer, Djokovic e Zverev não devem jogar a nova Copa Davis em 2019. E daí?

Alexandre Cossenza

17/10/2018 05h00

Na última semana, Roger Federer, Novak Djokovic e Alexander Zverev disseram alto e claro: nenhum dos três deve participar das finais da nova Copa Davis, aquilo que a Federação Internacional de Tênis (ITF) vem vendendo como um megaevento que vai (ia!) reunir todas estrelas do tênis mundial em uma semana, atraindo holofotes do mundo inteiro.

Para muitos, as declarações dos atuais números 2, 3 e 5 do mundo caem como uma bomba nos planos dos cartolas do tênis. Afinal, a ITF conseguiu aprovar uma mudança radical no formato da competição prometendo um aporte de US$ 3 bilhões (comandado pelo grupo de investimento Kosmos, cuja figura pública principal é o zagueiro Piqué, do Barcelona) e praticamente garantindo a presença dos principais nomes da modalidade.

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Mais de um ano antes do evento, essa promessa já naufragou, mas o que isso significa, de verdade, para o futuro da nova Copa Davis? Sei que muitos dos fãs revoltados com as mudanças e a morte de um formato apaixonante querem ver essas ausências como um grande baque nos planos de Piqué e cia., mas a verdade é que, pelo menos por enquanto, elas significarão muito pouco. No fim das contas, ninguém vai admitir publicamente porque pegaria muito mal ignorar Federer e Djokovic, mas o sentimento dos que investiram na mudança deve estar muito perto de um desdenhoso "e daí?"

Calma que eu explico. Primeiro, é preciso notar que os motivos são diferentes. Federer disse que "duvida fortemente" de sua participação em 2019. O suíço já havia dito que "a Copa Davis não deve se tornar a Copa Piqué". Okay. Para Djokovic e Zverev, porém, o problema é outro: a data. A final da Davis em novembro, após o ATP Finals, pega os melhores tenistas exaustos. Ninguém quer jogar nesse período, ainda mais porque a primeira semana de janeiro de 2020 terá a primeira edição da ATP World Team Cup, a Copa do Mundo do circuito masculino – um evento criado especificamente para rivalizar com a Davis. Por isso, Nole afirmou que "entre as duas, vou priorizar a World Team Cup porque é uma competição da ATP."

Zverev também culpou a data "porque em novembro eu não quero mais jogar tênis". O Alemão afirmou que "fazer um torneio no fim de novembro, com dez dias jogando e competindo, é uma loucura. No fim do ano, estamos todos cansados."

Mas por que essas três ausências de peso podem significar muito pouco para a nova Davis? A resposta é simples: porque todos envolvidos na mudança da Davis sabem que a data de novembro é ruim. Piqué disse isso, os jogadores falaram isso, e quem leu a entrevista que publiquei com André Sá no mês passado sabe que a intenção sempre foi fazer essa final da Davis em setembro, pouco depois do US Open (na data atual da Laver Cup, mas isso é outro problema). Como o mineiro explicou, não seria possível mudar o calendário para 2019, então a ITF vai fazer sua nova Davis em novembro por um único motivo: lançá-la antes da ATP World Team Cup. Ninguém quer manter a Davis nessa data. Logo, a mudança para setembro resolveria o problema e traria os tops de volta. Ninguém acredita que os desfalques de 2019 causem um dano a longo prazo.

Okay, a mudança de data solucionará o problema para Djokovic e Zverev (e outras ausências eventuais na edição de 2019). E o desfalque de Federer? A verdade é que, embora sua presença levasse evidente brilho à nova Davis, ninguém contava muito com isso. Roger passou a maior parte da carreira priorizando seu próprio calendário em detrimento da competição por países. Foram raras as vezes que se dedicou desde o princípio do ano a buscar o título. Logo, não será em 2019, com 38 anos, ou em 2020, com 39, que Federer será uma grande ausência. Como ele mesmo disse em Xangai, "não acho que isso [mudanças] foi planejado pensando em mim. Isso foi projetado para a futura geração de jogadores." Diagnóstico perfeito.

Piqué, a ITF, o Kosmos e todos que votaram a favor das mudanças só vão entrar em pânico se não encontrarem uma solução para a Copa Davis em 2020. Por enquanto, eles apostam que a mudança de data resolverá o problema. Mas essa mudança também depende da boa vontade da ATP (lembremos: dona da concorrente World Team Cup) de mexer no seu calendário. E não é só isso. Roger Federer e sua Laver Cup estão na data dos sonhos de Piqué e companhia. O que fazer? Haverá um acordo? Os dois eventos serão na mesma semana? E se a Copa Davis ficar "presa" no fim de novembro? Aí, sim, o tempo vai fechar.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.