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Thiago Wild: ‘O sonho de todos é jogar uma Copa Davis, e os caras acabaram com isso'

Alexandre Cossenza

06/10/2018 05h00

A semana foi boa para Thiago Wild. O paranaense de 18 anos, vindo do título do US Open juvenil, conseguiu três belas atuações e alcançou as quartas de final do Challenger de Campinas. Bateu o cabeça 3 do torneio, Hugo Dellien (#105 do mundo) e o italiano Fabrizio Ornago (#373) antes de perder um jogo duríssimo contra o argentino Facundo Bagnis (#139).

Foram partidas em que Wild mostrou, além do seu atraente estilo agressivo, força mental, consistência, poder de recuperação e a capacidade de jogar um tênis competitivo em um nível acima do de seu ranking. É por isso que o brasileiro, atual #453 do mundo vai continuar disputando Challengers até o fim da temporada.

Com os pontos conquistados em Campinas, subirá para perto do 410º posto. Resta agora correr atrás de seu objetivo: terminar o ano entre os 200 melhores do mundo. Antes de sua estreia na cidade paulista, conversei com o paranaense sobre a vida de campeão de slam juvenil. Wild também falou sobre seus objetivos e metas nos treinos.

Com seu jeito de falar acelerado – o garotão é tão inquieto que às vezes começa a responder antes do fim da pergunta – Wild também deu seu veredito sobre a Copa Davis, e ele não gostou nem um pouco do que fizeram com a "Copa do Mundo" do tênis. Leiam e conheçam um pouco mais o jovem.

Como é a vida de campeão de slam?

(risos) Corrida! Corrida. Duas semanas que não me deixaram fazer nada. Não tive tempo para nada.

Mas é bacana, né?

É legal, mas cansa. Ah, atrapalha a rotina de treinos…

O que você curtiu mais depois do título?

Eu não fiz nada! Não fiz nada. Juro. Nada de diferente. Não tive tempo!

E as entrevistas, alguma foi mais legal de fazer?

A mais legal foi a do Esporte Espetacular esta semana. Foi legal, foi legal.

Eu sei que você não é tímido, mas você já fica completamente à vontade dando entrevista?

Bastante. Teve um repórter que olhou para mim… Acho que eu estava… Foi segunda ou terça. Eu cheguei [de Nova York] segunda-feira, meio-dia. Meu voo atrasou umas quatro horas. O cara olhou para mim e disse assim "Estou aqui com o Thiago Wild, ele é meio tímido…" Eu falei "Amigo, é a quinta hora que eu estou aqui, cheguei hoje e não durmo tem três dias, pelo amor de deus." Tímido? (risos de ambos).

E os treinos, como andam?

É, tive que conciliar, né? Na verdade, meu treino eu mantive os horários, e as entrevistas se moldavam em relação aos horários. Só.

Pintou alguma proposta de patrocínio legal?

Na verdade, quem cuida é minha agente. Ela me passa só na hora de fechar, na hora de analisar contrato. Eu tenho contrato com a Octagon, e minha agente é a Charlotte Lawler, filha da presidente da WTA [Micky Lawler]. A Charlotte e o Jorge Salkeld [ex-agente de Gustavo Kuerten]. Ainda não acertei nada [depois do título do US Open juvenil].

Você vai fazer essa sequência toda de Challengers agora…

Sim.

Imagino que seja para conseguir os pontos para alcançar aquela meta lá de trás, que é terminar 2018 entre os 200 do mundo. Óbvio que você está confiante por causa do título em Nova York, mas são dois mundos diferentes, né?

Qualquer título, qualquer semana que você ganhe, você vai ter uma baita confiança. Você vai chegar a pensar "bom, tô bem, tenho condições de ir bem", mas eu acho que estou me sentindo bem jogando aqui. É bem rápido. A bola [Shine Ultra] é gostosa de jogar, não é uma bola tão grande. As condições aqui estão bem legais. E, bom, vai ter que ser semana a semana porque se eu vou bem aqui e tiver que ir para o quali de Santo Domingo sem saber se estou dentro, é difícil. Eu teria que largar um jogo aqui para assinar o quali sem saber se estou dentro? Então estou nessa situação de entro-não entro, vou-não vou, mas, a princípio, vou seguir a gira inteira [a sequência inclui os Challengers de Santo Domingo, Lima, Guayaquil, Montevidéu e Buenos Aires].

Se não conseguir entrar nos torneios, você tem um plano B?

Vou para os Estados Unidos, jogar uns três ou quatro ITFs de US$ 25 mil. Se eu não for bem.

Eu sei que você sempre fala em meditação, que isso vem te ajudando a manter a calma, mas no aspecto técnico, você vem trabalhando em algo específico?

Manter a solidez na entrada dos pontos. Quatro, cinco bolas do ponto que eu não vou errar. É basicamente isso. Isso significa que nas quatro primeiras bolas, o cara vai ter que jogar porque eu vou, pelo menos, voltar a bola, mesmo que eu esteja defendendo lá da tela.

Ou seja, nada kamikaze no começo dos pontos.

Porque muitas vezes isso vai me dar um ponto importante, o cara vai sentir a pressão e pensar "opa".

Foi um ano difícil para o Brasil na Davis. Uma vitória suada na República Dominicana, uma derrota na Colômbia, e acabou não classificando para o playoff, que o Brasil quase sempre ia. Você vê isso como uma abertura pra começar a buscar seu lugar no time?

Ah, eu fiquei triste com a mudança da Davis, né?

Obrigado (risos). Fala mais sobre isso!

Tipo… O sonho de todo jogador é chegar e jogar uma Copa Davis, e os caras acabaram com isso. Não só eu, mas já conversei com outros meninos da minha idade, mais novos… Fazer o quê? A gente vai ter que conviver com isso. Eu gostava do formato a Davis, achava legal, achava divertido, apesar de comprometer, às vezes, um ou dois torneios.

O que você gostava mais do formato?

Ah, estar em casa, estar fora, ter torcida contra e a favor… E agora o Grupo Mundial vai ser tipo um Mundial de 16 anos. O cara não tem mais 16 anos. Ele consegue jogar a Copa Davis e manter um calendário. Apesar de ser difícil, dá para conciliar. Vários jogadores fazem isso.

Ficou decepcionado?

Decepcionado, não, mas eu queria ter tido a chance de avançar numa Copa Davis, levar o Brasil às quartas, a uma semifinal, algo do tipo e… Independentemente de ser eu ou outra pessoa, acho que o formato da Davis deu uma… O privilégio que tinha não vai ter mais. Virou uma coisa muito rápida, num solo que ninguém vai conhecer, que não vai ter a mesma quantidade de torcida, não vai ter a mesma emoção que a Copa Davis traz.

As pessoas dizem que vai lotar uma quadra, o mundo inteiro vai ver…

Vai lotar uma quadra [para ver] Brasil e Espanha na Suécia? Quem vai torcer para um dos dois? Quem vai estar lá gritando? Não vai ter ninguém.

E você deixa de lotar quatro quadras nas quartas de final. São quatro quadras lotadas no mundo.

Tira o privilégio do torneio, da competição. Talvez os maiores jogadores vão jogar, por ser algo mais curto, mas ao mesmo tempo eles disseram que perde um pouco do prestígio.

A comparação com o Mundial de 16 foi ótima.

Mas é! Vai ser exatamente igual. Um confronto por dia durante uma semana.

Para terminar: você tem candidato a presidente? Quem e por quê?

Meu título de eleitor não vai valer, não vou poder votar.

Mas você tem candidato?

Não analisei proposta de ninguém. Não tenho.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.