Topo

Saque e Voleio

De regata, Rafa Nadal mostra força e vê David Ferrer abandonar seu último slam

Alexandre Cossenza

28/08/2018 00h13

O calor de 29 graus e a umidade na casa dos 70% eram a ocasião perfeita para Rafael Nadal resgatar um velho hábito: a camisa regata. Foi assim, com braços – e músculos – descobertos, que o #1 do mundo fez sua estreia no US Open e, ao mesmo tempo, a despedida de David Ferrer dos slams. Com uma atuação sólida, Nadal vencia por 6/3 e 3/4 quando o compatriota abandonou sentindo dores na perna esquerda.

No que diz respeito ao número 1 do mundo, sua apresentação hoje foi no nível do tênis mostrado há duas semanas, quando conquistou o título do Masters 1.000 de Toronto. Um jogo agressivo, buscando controlar os ralis desde o começo, deslocando o oponente e executando winners da linha de base ou voleios matadores junto à rede.

Ferrer, 36 anos, ex-top 10 que vem sofrendo com lesões e hoje ocupa apenas o 148º posto no ranking, fez o que podia. Sem se sustentar nos ralis com o compatriota, arriscou mais do que de costume para encurtar os pontos. Como consequência, também cometeu mais erros e não conseguiu tirar o favorito da zona de conforto nem enquanto esteve bem fisicamente.

Nadal pareceu tão à vontade e senhor do jogo que se deu o luxo de arriscar até um pouco mais do que o normal. Foi o que aconteceu no primeiro game do segundo set, quando Ferrer quebrou e saiu na frente, só para ter seu serviço quebrado na sequência. Pouco depois, Ferrer sentiu dores na perna esquerda e recebeu atendimento médico. Quando parecia que o duelo teria seu fim antecipado, Nadal fez outro game ruim e perdeu o saque novamente. Ferrer, no entanto, não aguentou as dores e precisou abandonar.

Resumo da história? Enquanto exigido, Nadal mostrou força e segue candidatíssimo (e descansado) ao título. Os vacilos parecem ter acontecido mais por falta de concentração do que por irregularidade técnica. Ferrer, por sua vez, lutou o quanto pôde – como fez durante toda a carreira – e fez o que dava. Ele, agora, ruma para a aposentadoria na próxima temporada.

Despedida pelos torneios preferidos em 2019

Antes de entrar em quadra nesta segunda, Ferrer já avisou: "vai ser meu último slam e, para mim, é um prêmio ter a oportunidade de jogar com Rafa Nadal na quadra central do US Open. Estou feliz porque o tênis me deu este presente", disse em uma ótimo entrevista publicada no jornal El Espanhol (vide tweet).

Nela, Ferrer também afirma que seu plano é dar adeus "jogando a Copa Hopman, Auckland, Buenos Aires, Acapulco, Barcelona e Madri. Também tenho claro que depois deste US Open preciso parar e descansar para saber se quero continuar ou não no ano que vem. Será algo que o tempo vai me dizer", explicou, citando seus torneios preferidos.

Com 36 anos, Ferrer teve problemas físicos – principalmente uma lesão crônica no tendão de aquiles – e não vem conseguindo treinar o desejado. Sem isso, os resultados deixaram de aparecer. Perdeu 22 dos últimos 33 jogos que fez e viu seu ranking despencar para o atual 148º posto.

Coisas que acho que acho:

– Para mim, a frase mais marcante da entrevista acima é justamente a destacada pelo autor, Rafael Plaza: "Morrerei sendo competitivo". É difícil resumir David Ferrer com uma frase melhor do que essa.

– Nunca escondi que Ferrer sempre foi um dos meus tenistas preferidos. Um atleta de 1,75m (na verdade, mais para 1,70m) sem nenhum golpe dominante, mas com um espírito de luta e uma inteligência tenística raríssimos. Não por acaso, ficou de outubro de 2010 até maio de 2016 no top 10. Não por acaso, foi número 3 do mundo. Não por acaso, conquistou 27 títulos, ganhou 726 partidas em nível ATP e ganhou mais de US$ 31 milhões em prêmios. Deixo para escrever um texto só sobre Ferrer no dia de sua aposentadoria.

– O próximo adversário de Nadal no US Open é o canadense Vasek Pospisil (#88), que vai precisar sacar muito para equilibrar o jogo. O principal obstáculo para Nadal até as semifinais continua sendo – pelo menos no papel – o sul-africano Kevin Anderson (#5), que escapou por pouco de uma zebra e sobreviveu ao derrotar Ryan Harrison em cinco sets: 7/6(4), 5/7, 4/6, 6/3 e 6/4.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.