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Saque e Voleio

No Masters que faltava, a 'pressão invisível' imposta por Novak Djokovic

Alexandre Cossenza

20/08/2018 05h00

Novak Djokovic conquistou o título do Masters 1.000 de Cincinnati neste domingo, com uma atuação maiúscula diante de um Roger Federer que confirmou 100 games de serviço sem ser quebrado no torneio. O sérvio, melhor devolvedor do planeta, anotou um 6/4 e 6/4 com direito a três quebras e uma atuação tão sólida que deixou o suíço desconfortável a ponto de encurtar pontos e evitar, a todo custo, trocas de bola do fundo de quadra.

Foi uma jornada típica dos melhores dias de Nole e que veio na hora certa, numa final que ele alcançou como se numa montanha russa, surfando altos e baixos em partidas irregulares contra Adrian Mannarino, Grigor Dimitrov (venceu ambos de virada), Milos Raonic e Marin Cilic. Contra Federer, porém, Djokovic esteve em seu melhor estilo bolas-fundas-e-pesadas-o-tempo-inteiro, levando a melhor quase sempre do fundo de quadra (em um certo momento do segundo set, o TennisTV citou que Nole somava 34 pontos vencidos da linha de base contra 17 do suíço).

O sérvio também se defendeu bem quando necessário, foi preciso quando o oponente pressionou subindo à rede, e, claro, foi excelente nas devoluções. Federer, que já não vinha fazendo um torneio espetacular, mas alcançou a final impulsionado por um excelente serviço, viu sua principal arma anulada e não conseguiu fazer a diferença de outra maneira.

O suíço, é bom que se diga, tentou de tudo. Arriscou nas devoluções (com um péssimo resultado), tentou sempre agredir primeiro nos ralis e, às vezes, subiu à rede antes do ideal. Fez o que podia para mudar uma dinâmica favorável ao adversário, mas precisaria de uma jornada espetacular para fazer funcionar um plano de jogo tão arriscado – ainda que necessário, o que ficou claro depois de alguns games vendo Djokovic em nível tão alto.

O resultado disso foram 39 erros não forçados em dois sets. Número altíssimo para os padrões federescos e que, não por acaso, lembra as finais de Roland Garros contra Nadal. Em Paris, o suíço sempre precisou fazer mais do que o seu "comum" (que já é excelente!) e sempre acumulou mais falhas do que o habitual. É o preço que se paga para tentar ganhar em vez de esperar o rival perder. Os últimos pontos do jogo, exibidos no vídeo acima, mostram bem isso.

O game começa com Federer tentando uma devolução profunda e errando, mas o suíço iguala o placar com um winner de backhand (seu terceiro golpe no ponto). O suíço arrisca de novo e erra outra devolução no 15/15, mas consegue um winner para empatar o game outra vez. O 30/30 é o microcosmo do jogo. Federer opta por uma devolução conservadora e usa o slice até conseguir agredir com sua primeira direita no rali. Djokovic se defende e manda uma bola no pé do suíço, que precisa rebater de bate-pronto. Ali, Nole tomou a vantagem novamente no ponto. Federer, então, arrisca um backhand na paralela e erra. Outra direita errada – e afobada – decide a partida.

Todos esses pontos terminaram na raquete do #2 do mundo. Pode passar a impressão de um simples dia ruim na carreira de Roger Federer, mas um campeão de 20 slams raramente tem dias ruins por acaso. A relação causa-consequência é importante aqui. Um dia "bom" não teria resolvido a situação, então Roger buscou um dia incrível. Não rolou. Sim, Federer também errou bolas menos complicadas, sem arriscar tanto, mas faz parte do pacote que chega via expressa para quem busca encurtar pontos. É grande assim o efeito da "pressão invisível" que Djokovic exerce sobre seus adversários.

Com o triunfo em Cincinnati, Djokovic completou o que a ATP vem chamando de "Career Golden Masters", ou seja, o sérvio venceu todos os nove torneios da série Masters 1.000 na carreira – em temporadas diferentes. Ele é o primeiro simplista a conseguir isso na história.

Coisas que eu acho que acho:

– A vantagem de Nadal na liderança do ranking caiu para 2.960 pontos, e Federer, atual #2 do mundo, terá a chance de reconquistar a ponta no US Open, onde o espanhol, atual campeão, defende 2.000 pontos. A posição de Djokovic na chave pode ter um peso enorme nessa disputa. O sérvio será o cabeça 6 em NY, podendo encontrar espanhol ou suíço nas quartas de final.

– Depois do título de Wimbledon, onde bateu Rafael Nadal em um jogaço de cinco sets, Djokovic conquista Cincinnati com uma vitória maiúscula sobre Roger Federer. Vai com a confiança lá no alto para o US Open. As casas de apostas, aliás, já o colocam como favorito ao título em Nova York.

– Escrevi ontem, no Twitter, e repito hoje, aqui: não acho que completar o Career Golden Masters coloque Djokovic num patamar acima de onde ele já estava. Além disso, depois de ganhar todos os outros slams e Masters (e fazer a final de Cincinnati cinco vezes!), já não era preciso provar que Nole pode ganhar de qualquer um em qualquer lugar. Mas, obviamente, trata-se de mais um grande feito que, lembremos, Nadal e Federer não têm no currículo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.