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Saque e Voleio

A nova geração finalmente chegou?

Alexandre Cossenza

15/08/2018 06h00

É a pergunta que a gente se faz de tempos em tempos: quando a nova geração vai vingar e tomar o circuito das mãos de gente como Nadal, Federer, Djokovic e Murray? A julgar pelos títulos de slam, ainda falta bastante para isso acontecer. Desde maio de 2005, os únicos campeões fora do Big 4 foram Del Potro (hoje com 29 anos), Wawrinka (33) e Cilic (29).

Eu sei, a gente fez a mesma pergunta lá atrás, quando apareceu a geração de Dimitrov, Goffin, Nishikori, Raonic e Dolgopolov. As oitavas do Australian Open de 2011 tiveram Cilic, Raonic e Dolgopolov. O ucraniano foi até as quartas. Só Cilic, porém, quebrou a barreira dos slams. Deu até para pensar que seria diferente quando o croata fez a final do US Open de 2014 com Nishikori, mas a maioria da turma, hoje com 27-29 anos, segue atrás do Big Four.

Agora, porém, é preciso ver que, aos poucos, a turma de Alexander Zverev e cia. vem ganhando espaço. No Australian Open, um dos semifinalistas foi Hyeon Chung, de 21 anos. Borna Coric, também de 21, foi semifinalista em Indian Wells, fazendo jogo duro com Roger Federer (o croata, aliás, bateu o suíço na final em Halle). Zverev foi vice em Miami aos 20 e campeão em Madri pouco depois, já com 21 (errata no fim do post). Thiem, um pouco mais velho, com 24, foi vice em Madri e Roland Garros. Tsitsipas, 20, foi vice em Toronto.

Os resultados estão aparecendo, e os números estão mostrando. Quem aponta é Jeff Sackmann, do site Tennis Abstract (antes, seu blog se chamava Heavy Topspin), especializado em números e análises estatísticas. Foi ele que fez o gráfico acima, que mostra, pela primeira vez desde 1986, uma queda significativa na média de idade do top 50. Depois de ultrapassar a casa dos 29 anos em 2016, o número agora está abaixo de 28 (precisamente, 27,75).

No texto que acompanha o gráfico, Sackmann lembra que a queda de 2017 para 2018 é a maior variação de um ano para o outro – para cima ou para baixo – dos últimos 35 anos. É, portanto, um tanto significativa. Hoje, Federer, com 37, é o mais velho entre os 50 primeiros do ranking.

Importante apontar: veteranos como David Ferrer (36), Feliciano López (36), Julien Benneteau (36), Guillermo García-López (35), Gilles Muller (35) e Ivo Karlovic (39) deixaram o top 50 (alguns, até o top 100). Aliás, a queda é menos brusca entre os 100. A média de idade deste grupo ainda é de 28,1 anos. É mais do que o top 50, mas é o top 100 mais jovem desde 2012.

Coisas que eu acho que acho:

– Tsitsipas (20), Shapovalov (19), Rublev (20), Tiafoe (20) e De Minaur (19) são os integrantes do top 50 com menos de 21 anos. Aumentando o grupo para Sub-23 ainda entram Zverev (21), Coric (21), Chung (22), Khachanov (22) e Jarry (22). É uma turma talentosa e que merece ser reconhecida desde já, mas o salto – mesmo – só virá com os títulos de slam e, à exceção de Zverev, número 3 do mundo e dono de três títulos de Masters 1.000, ainda é difícil imaginar que um destes vai conquistar um dos quatro majors em breve.

– Responder o questionamento do título deste post depende do conceito de "chegou" que cada um tem. Para mim, pelo que que escrevi no parágrafo acima, a resposta ainda é não, mas me parece claro que Zverev e cia. estão a cada dia mais perto de seu destino.

– É algo repetido com frequência, mas como o assunto pede, não custa lembrar. O "envelhecimento" do circuito tem muito a ver com três fatores: a profissionalização (atletas levam muito mais a sério o preparo físico), a medicina (os métodos de recuperação entre os jogos avançaram muito) e o aumento de prêmios em dinheiro (há muito mais jogadores podendo pagar e viajando com fisioterapeutas e preparadores particulares). Com tudo isso, a geração de Nadal e Federer segue jogando um nível altíssimo de tênis depois dos 30 – algo quase inimaginável na década de 1990.

– Na primeira versão deste post, errei a campanha de Zverev em Miami e a de Coric em Indian Wells. O texto já está devidamente corrigido. Obrigado ao email do Carlos pelo aviso.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.