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Saque e Voleio

Após pior derrota da vida e sensação de não ser boa mãe, Serena volta e domina em Cincinnati

Alexandre Cossenza

14/08/2018 06h00

A semana retrasada foi especialmente dura para Serena Williams. Na primeira rodada do WTA de San Jose, foi eliminada em menos de uma hora pela britânica Johanna Konta (#48 do mundo) por 6/1 e 6/0. Foi a pior derrota da carreira da americana em número de games vencidos (em sets completos). Naquela tarde, disse estar com muitas coisas na cabeça.

Alguns dias depois, a ex-número 1 do mundo revelou a fonte de seus problemas. Em suas redes sociais, disse acreditar que não estava sendo uma boa mãe. No texto, Serena afirmou que leu vários artigos sobre emoções pós-parto e conversou com sua mãe e suas irmãs. "É totalmente normal sentir que não estou fazendo o bastante pela minha bebê."

Serena ainda escreveu: "Todas passamos por isso. Eu trabalho muito, eu treino e estou tentando ser a melhor atleta que posso. Contudo, isso significa que embora eu esteja com ela todos os dias de sua vida, não estou por perto o quanto gostaria de estar. A maioria de vocês, mães, lidam com a mesma coisa. Em casa ou no trabalho, encontrar esse equilíbrio com crianças é uma verdadeira arte. Vocês são as heroínas de verdade."

Pois duas semanas depois Serena voltou ao trabalho de uma forma mais típica. Derrotou a australiana Daria Gavrilova (#23 do mundo) por 6/1 e 6/2, em 1h05min, e avançou à segunda rodada do Premier 5 de Cincinnati. Foi uma bela atuação, com pontos definidos em poucos golpes, anulando justamente a característica de Gavrilova, que não tem um grande saque e prefere (ou precisa de?) ralis. A australiana jamais conseguiu equilibrar o duelo.

Os números refletiram bem a superioridade de Serena, principalmente no saque e na devolução. Atual 27ª do ranking, a americana venceu 89% dos pontos com o primeiro serviço (embora tenha acertado apenas 44% destes saques) e 67% com o segundo. Quebrou quatro dos sete games de serviço de Gavrilova. Além disso, a tenista da casa somou 27 winners contra sete da rival. O placar só não foi mais elástico porque Serena, dona da situação, deu-se o luxo de arriscar mais do que precisava em alguns momentos.

Na próxima rodada, Serena possivelmente precisará estar ainda mais afiada no serviço e nas devoluções. Sua rival será a tcheca Petra Kvitova, #6, que também possui um bom saque e faz estrago com a devolução quando está num dia bom. Não por acaso, Kvitova bateu a americana no último confronto entre elas. Foi no WTA de Madri de 2015 (justamente o ano em que Serena quase fechou o Grand Slam), por 6/2 e 6/3.

E o que mais?

Ainda no tema "mães no circuito", quem também venceu nesta segunda-feira foi Victoria Azarenka. A belarussa, que faz uma temporada de altos e baixos (mais baixos do que altos, na verdade), superou Carla Suárez Navarro por 6/7(5), 6/2 e 6/4. O duelo de segunda rodada promete ser mais duro: será contra Caroline Garcia, número 5 do mundo.

Coisas que eu acho que acho:

– Muitas mães, no mundo todo, vivem as emoções que Serena está experimentando com sua primeira filha, Alexis Olympia. Apesar de serem sensações comuns, é reconfortante e fortificante para cada uma dessas mães ouvir que esse tipo de coisa acontece até com uma superatleta e megacelebridade. Ao mostrar-se vulnerável e compartilhar esse tipo de emoção, Serena Williams faz muito mais para mães (e pais) ao redor do mundo do que se voltar a vencer um slam ou retomar a liderança do ranking.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.