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Saque e Voleio

Possíveis causas e consequências da pior derrota da carreira de Serena Williams

Alexandre Cossenza

01/08/2018 11h29

Foi a pior derrota da carreira. Aquele dia em que nada dá certo para um tenista, enquanto o adversário faz um grande jogo e não dá brechas para uma reação. Foi menos mau que aconteceu na primeira rodada do WTA de San Jose e não em Wimbledon ou no US Open, mas Serena Williams viveu uma tarde terrível na derrota por 6/1 e 6/0 diante de Johanna Konta, atual #48 do mundo.

Como explicar que a britânica venceu 12 games seguidos diante de uma das melhores tenistas da história? É mais fácil relatar o que aconteceu: Serena sacou mal (acertou apenas 40% de primeiro serviço e fez sete duplas faltas em sete games de serviço), errou muito e muito cedo (nove winners, 25 erros não forçados) nos ralis, e não conseguiu fazer muito nas devoluções. Konta fez o seu. Viu os erros da ex-número 1 e atacou bem quando teve chances, somando 17 winners e nove falhas. Precisou de apenas 52 minutos para avançar no torneio.

É bom que se diga: um ano atrás, Konta era top 5. A britânica tem jogo para explorar buracos no tênis de qualquer rival. Vinha fazendo muito pouco para seu potencial em 2018. E também vale apontar que a britânica respeitou demais a americana, reconhecendo o dia ruim da rival, evitando comemorações exageradas e afirmando, na entrevista pós-jogo, que foi um privilégio estar na mesma quadra que Serena.

A ex-número 1, por sua vez, disse que Konta "jogou melhor nesta partida do que nos últimos 18 meses, mas tenho tantas coisas na cabeça que não tenho tempo para estar chocada sobre uma derrota que claramente veio quando eu não estava no meu melhor. Só posso tentar estar em quadra e lutar, que é o que que eu estava fazendo. Eu me movimentei muito melhor também, então vou ver o lado positivo onde puder."

Causas e consequências

Dizer que o 7 a 1 pessoal de Serena Williams (okay, a comparação não é das melhores) aconteceu porque ela jogou mal é flertar com o óbvio. O grande ponto aqui é entender por que ela jogou mal. A americana disse estar com muitas coisas na cabeça, uma frase vaga que pode significar problemas fora de quadra. Não dá para ter certeza. Como não dá para explicar 100% como uma das maiores da história, vindo de uma final em Wimbledon, errou tanto em tão pouco tempo contra Johanna Konta.

O que isso significa para a temporada de quadras duras? Talvez muito pouco. É difícil imaginar que Serena tenha outra jornada assim. O mais provável é que a ex-número 1 use essa partida como sinal de alerta para treinar mais e chegar mais calibrada para seu próximo torneio e, claro, para o US Open. Por outro lado, talvez signifique que Serena vai ter mais problemas contra adversárias que alonguem os pontos. Ou contra quem souber lidar com seu peso de bola. Ainda é cedo para tirar conclusões, mas foi um resultado que, certamente, dará um tempero extra no circuito feminino até o US Open.

Coisas que eu acho que acho:

– Bom para dar uma dimensão melhor do feito de Konta: até hoje, Serena não tinha vencido menos do que dois games em uma partida completa. Seu pior revés tinha acontecido na fase de grupos do WTA Finals de 2014, na derrota para Simona Halep por 6/0 e 6/2. Serena, aliás, foi campeã daquele torneio, aplicando 6/3 e 6/0 em cima da mesma Halep na final.

– Em 2007, Serena saiu de quadra sem vencer nenhum game contra Patty Schnyder, mas a partida não teve dois sets completos. A americana abandonou quando perdia por 6/0 e 3/0. Ela teve uma lesão no adutor direito.

– Em San Jose, Serena tentou o tempo inteiro. Não dá para dizer que a americana estava lenta em quadra ou que ela não buscou alternativas. Mostrou-se o tempo inteiro incomodada, gritou quando venceu pontos, tentou coisas diferentes. Nada funcionou.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.