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Saque e Voleio

É preciso reconhecer Kevin Anderson

Alexandre Cossenza

13/07/2018 19h21

O 11º dia de Wimbledon não poderia ter sido mais longo para a chave masculina. A rodada começou às 10h locais e terminou às 23h, horário limite estabelecido pelo torneio. E, nem assim, com quase 11h de tênis, foi possível completar as semifinais. Principalmente por causa do jogão entre Kevin Anderson e John Isner, que a programação da Quadra Central e só terminou 6h36min depois.

Anderson, que vinha de superar Federer em 4h14min anteontem, disputou outro quinto set longo – e mais longo ainda – nesta sexta. Fez 7/6(6), 6/7(5), 6/7(9), 6/4 e 26/24 (!!!) sobre um John Isner que, se não esteve tão bem nas devoluções, foi um gigante em seus games de serviço. No quinto set, salvou quatro break points em três games diferentes e saiu de 0/30 em múltiplas ocasiões. Um teste para a persistência e a regularidade de qualquer um.

O sul-africano, por sua vez, pode ter demorado a conseguir a quebra decisiva, mas foi brilhante sob pressão – do mesmo jeito que na partida contra Federer. Hoje, sacou para se manter na partida 20 vezes. Em nenhuma, cedeu chances de quebra. Saiu esgotado, com 10h50min de jogo acumuladas em cerca de 48 horas, e terá de encontrar um jeito de se recuperar até domingo. Será possível vê-lo levantando o troféu de campeão?

Ainda sobre o jogão, foi um duelo com margens minúsculas para erro. Anderson, por exemplo, perdeu o segundo set cometendo apenas uma falha não forçada. O sul-africano também sacou para o terceiro set e perdeu a parcial. Seus méritos, além de técnicos e físicos, são mentais. É preciso reconhecer o perigo imposto pelo cidadão.

Kevin Anderson será visto como azarão contra Rafael Nadal ou Novak Djokovic, mas não é por acaso que está prestes a disputar sua segunda final de slam nos últimos quatro torneios deste nível. É por isso que vai sair de Wimbledon, na pior das hipóteses, como número 5 do mundo (será o #4 se vencer a final), à frente de Dimitrov, Cilic, Isner, Thiem e Goffin. 

E o que mais?

A segunda semifinal, entre Nadal e Djokovic, foi interrompida com 2h54min de duração, com o sérvio liderando por 6/4, 3/6 e 7/6(9). Difícil descrever um jogo de nível tão alto, com tantas possibilidades e tão equilibrado. Nole fez um primeiro set espetacular e parecia melhor em quadra ainda no começo do segundo set. Foi quando Nadal iniciou uma reação, vencendo a segunda parcial e mantendo o jogo parelho durante todo o terceiro set.

O tie-break foi insano. De ruim, só a dupla falta de Djokovic no primeiro ponto. Nadal foi espetacular para sair de 3/5 para 6/5, usando duas curtinhas lindas. O sérvio se salvou com o saque e escapou, ao todo, de três set points. O ponto decisivo – mesmo – foi o 9/9, com Nadal subindo a rede e fazendo um bate-pronto que Djokovic alcançou e emendou com uma passada. No ponto seguinte, com o serviço, fechou a parcial. To be continued…

Coisas que eu acho que acho:

– Vale o registro: John Isner quebrou o recorde de aces disparados por um tenista em uma edição de Wimbledon. O torneio fez o registro de 213 aces, a nova marca, quando o placar ainda mostrava 18/18 no quinto set. Ele "só" fez um ace depois disso, terminando sua participação no torneio com 214.

– É óbvio que é impossível comparar futebol e tênis de forma justa. As exigências físicas são muito diferentes. Mas que tal reconhecer o nível de preparo de Kevin Anderson, que já derrubou Roger Federer e John Isner e agora terá de encarar Djokovic ou Nadal? Isso tudo com um corpanzil de 2,03m de altura e 32 anos.

– Sobre o eterno debate com os que pedem tie-break no quinto set de todos os slams, não vou fazer a defesa de sempre. Quem acompanha o blog sabe bem que eu prefiro quintos sets longos. É óbvio que eles podem destruir um tenista fisicamente e prejudicá-lo para a próxima rodada, mas alegar uma mudança de regra baseado nisso é pensar na exceção antes da regra. Quantas partidas, na história, são tão longas assim? Uma a cada dez edições de Wimbledon? Este ano, apenas meia dúzia (num total de 126) de partidas passou do 6/6 no quinto set. É uma porcentagem baixíssima para justificar os tie-breaks.

– Sobre Nadal x Djokovic: foi a melhor versão do sérvio que vi este ano, principalmente no primeiro set; o espanhol sacou muito bem do segundo set em diante – e precisou porque as devoluções de Nole fizeram diferença no primeiro set; e os dois estiveram brilhantes nas curtinhas. Que jogo!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.