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Saque e Voleio

No primeiro grande teste em Wimbledon, Federer fraqueja, leva virada incrível e se despede

Alexandre Cossenza

11/07/2018 13h28

O nono dia de Wimbledon trouxe o primeiro grande teste para Roger Federer no torneio. Depois de navegar por adversários que não tinham armas para incomodá-lo, o suíço precisou encarar o sul-africano Kevin Anderson, #8 do mundo, atual vice-campeão do US Open e, com 2,03m de altura, dono de um grande saque. Campeão oito vezes no All England Club, Federer mostrou vulnerabilidades, perdeu um match point e levou uma virada incrível após abrir 2 sets a 0. Tombou por 2/6, 6/7(5), 7/5, 6/4 e 13/11, depois de 4h14min de jogo.

O que Anderson, #8 do mundo e atual vice-campeão do US Open, fez de diferente em relação aos adversários anteriores de Federer foi levar para a quadra duas capacidades que o #2 do mundo não havia enfrentado no torneio até então: um saque potente, capaz de vencer games sem tantos ralis, e uma devolução agressiva, que pressionava o segundo serviço de Federer. Nem o serviço nem os retornos funcionaram por longos períodos de tempo, mas foram muito eficientes quando Anderson encaixou os golpes.

Anderson, aliás, teve várias chances de vencer também o segundo set. Teve uma quebra de vantagem, teve break point depois de perder a vantagem (jogou uma direita não forçada na rede) e saiu na frente no tie-break. No entanto, sacou mal em momentos delicados – tanto no quinto game (3/1) quanto no início do tie-break quanto no 5/6 do tie-break. E ninguém perde tantas chances assim contra Federer impunemente.

Só que o sul-africano manteve seu plano de jogo e pouco se abateu com a vantagem que perdeu. Durante boa parte do terceiro set, não parecia que daria certo. Mas tênis é um esporte dos diabos. Anderson salvou um match point no décimo game, confirmou seu saque e quebrou Federer no game seguinte. E não foi só isso. Saiu de 0/40 usando só o segundo serviço e fechou o set na sequência. Foi a vez de o suíço perder chances. Era cedo para saber, mas foram oportunidades que lhe custariam a sobrevivência no torneio.

O quarto set foi mais do mesmo. Era praticamente um jogo de estatísticas para Anderson. Se seu saque continuasse funcionando razoavelmente bem, ele só precisaria de um game com boas devoluções ou um vacilo do suíço. Aconteceu no sétimo game, que terminou com outra quebra do sul-africano. Anderson ainda salvou um break point no décimo game, mas confirmou, fez 6/4 e mandou o jogo para um quinto set que parecia impossível meia hora antes.

Vencer três sets seguidos contra Federer em Wimbledon não é tarefa das mais fáceis, mas Anderson mostrava consistência absurda. Saiu de 0/30 no sexto game e no 12º games. No oitavo, venceu um rali de 21 bolas para evitar um break point. Até que o campeão sucumbiu. Sacando em 11/11 e 30/30, cometeu uma dupla falta e jogou uma direita na rede. Restava ao desafiante confirmar o serviço, e Anderson completou a tarefa brilhantemente.

E o que mais?

Apesar das 4h14min e da incrível virada de Anderson, o melhor e mais longo jogo do dia viria mais tarde. Rafael Nadal precisou de 4h47min para derrotar Juan Martín del Potro, também em cinco sets: 7/5, 6/7(9), 4/6, 6/4 e 6/4. Foi um duelo espetacular, com um jogada improvável atrás da outra e dois gigantes batalhando enquanto escurecia em Londres (o jogo acabou por volta das 20h50min locais).

Sabe aquele clichê que diz que "o jogo poderia ter ido para qualquer lado"? Dá para usá-lo aqui. Os dois tenistas tiveram chances, aproveitadas e desperdiçadas. Nadal poderia ter vencido o segundo set – teve 6/3 no tie-break e quatro sets points, mas cometeu uma dupla falta sacando em 6/5. Del Potro, por sua vez, teve cinco break points para igualar o quinto set. Num deles, teve a bola em seu forehand com Nadal batido, mas cometeu uma "madeirada". No fim, Nadal lidou melhor com a pressão. Sacou em 30/30 ou "iguais" 12 vezes no quinto set. Não cedeu uma quebra.

Com mais uma grande atuação, Novak Djokovic derrubou Kei Nishikori e será o adversário de Rafa nas semifinais. O sérvio fez 6/3, 3/6, 6/2 e 6/2, sendo bastante superior do fundo de quadra e praticamente anulando o serviço do japonês nas duas últimas parciais. Nole, aliás, teve mais chances de quebra também no segundo set, mas Nishikori converteu a última que teve e segurou seu serviço bravamente para vencer a parcial. Não conseguiu, porém, segurar os avanços do tricampeão de Wimbledon depois daquilo.

Para não esquecer: no duelo dos sacadores, com uma Quadra 1 quase vazia, John Isner derrotou Milos Raonic por 6/7(5), 7/6(7), 6/4 e 6/3. O encontro com Kevin Anderson será a primeira semifinal de slam do americano de 33 anos, atual, #10 do ranking mundial.

Coisas que eu acho que acho:

– Foi o primeiro jogo de Federer na Quadra 1 de Wimbledon desde 2015. Desde então, o suíço só foi escalado na Quadra Central. Não vejo como isso possa ter afetado seu rendimento hoje. Se o problema fosse não estar acostumado com o local, o mais provável seria sentir nos primeiros sets e crescer ao longo da partida. Não foi o que aconteceu.

– Com a derrota de Federer, a liderança de Rafael Nadal no ranking da ATP vai aumentar consideravelmente. O suíço defendia 2 mil pontos do título do ano passado e somou apenas 360 em 2018. Mesmo que saia derrotado do encontro contra Djokovic, o espanhol terá 9.310 pontos contra 7.080 do suíço (2.230 de diferença).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.