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Saque e Voleio

Nadal dá aula de slices enquanto Halep leva nó e tomba em Wimbledon

Alexandre Cossenza

07/07/2018 12h59

O sexto dia do Torneio de Wimbledon é aquele que completa os cruzamentos das oitavas de final com um punhado de jogos interessantes. O primeiro deles na Quadra Central que colocou Rafael Nadal diante do jovem australiano Alex de Minaur, #80 do mundo aos 19 anos. O espanhol deu uma aula de tênis na grama e venceu por 6/1, 6/2 e 6/4.

Foi especialmente interessante ver como o número 1 do mundo usou slices para anular a potência do adversário – principalmente no primeiro set, quando as estatísticas mostravam que Nadal usava o golpe mais de 50% das vezes que a bola vinha no seu backhand.

O slice do espanhol cumpria mais funções táticas do que Gabriel Jesus na Rússia. Primeiro, brecava a velocidade que De Minaur tentava impor. Depois, tirava o rival de sua zona de conforto no fundo de quadra. O australiano sempre precisava dar um ou dois passos para dentro e pegar a bola mais baixa e mais dentro da quadra. Com isso, também tinha que usar mais spin para "levantar" a bola e gerava menos velocidade. Com a bola do oponente mais lenta e mais alta, Nadal tinha tempo de preparar um golpe mais agressivo – fosse um forehand aberto ou um backhand cruzado. A partir disso, tomava o controle dos pontos.

Rafa nem insistiu demais com slices nos sets seguintes. Dominou De Minaur do fundo de quadra, subindo à rede com a eficiência de sempre e sem precisar se defender demais. Agora está nas oitavas, repetindo o resultado do ano passado e garantindo que sairá de Wimbledon ainda como número 1 do mundo – mesmo que Federer seja campeão novamente.

Enquanto Nadal passeava na Quadra Central, Simona Halep, a número 1 da WTA, sofria na Quadra 1. Mesmo quando venceu o primeiro set, a romena teve problemas de sobra com o jogo, digamos, não-ortodoxo de Su-Wei Hsieh, 48ª do ranking. A taiwanesa joga com slices dos dois lados, alterna muito a velocidade de seus golpes e, num dia bom, é capaz de deixar louca qualquer adversária acostumada só com aquele basicão do fundo de quadra. Além, é claro, de soltar os winners mais lentos que você vai ver no circuito. É como aquele tiozão amador com 40 anos de clube e cheio de malandragem quando encara um jovem de 20 e poucos que só aprendeu a bater do fundo de quadra. O garotão sai da quadra com fumaça saindo do cérebro.

Mas eu divago. Neste sábado, Halep precisou se movimentar o tempo inteiro e bater bolas de todos lugares possíveis da quadra. E, quando o jogo chegou aos momentos decisivos do terceiro set, estava com a cabeça completamente confusa e sem confiança os golpes. Foi quebrada quando sacou em 5/3, perdeu um match point no 4/5 e perdeu o saque de novo no 5/5. Do outro lado da rede, Su-Wei Hsieh ganhava todos pontos importantes e continuava seu jogo imprevisível com a mesma expressão de quem joga um 30/15 no primeiro game da partida. E fechou por 3/6, 6/4 e 7/5.

A chave feminina de Wimbledon agora tem apenas uma das 10 principais cabeças de chave. Curiosamente, é Karolina Pliskova, que até o ano passado não tinha passado da segunda rodada no All England Club, esteve pertíssimo da eliminação na terceira rodada e ainda passa longe de estar cotadíssima ao título do torneio. Ela encara Kiki Bertens nas oitavas e, se avançar, pega Julia Goerges ou Donna Vekic. Obviamente, é uma chave acessível, mas Pliskova não jogou tanto tênis assim até agora esta semana.

E o que mais?

Novak Djokovic anotou uma vitória das mais importantes ao bater Kyle Edmund por 4/6, 6/3, 6/2 e 6/4. E importante em vários sentidos. Primeiro porque conseguiu frear o ímpeto do tenista da casa, que fez um grande set inicial, levantando a torcida. Depois, manteve o nível de jogo lá no alto até que o Edmund caísse. E, por último, não perdeu a cabeça nem no quarto set, quando um erro claro do árbitro de cadeira – que não marcou um quique duplo – num break point no serviço do britânico.

De resto, vale dizer que Nole se defendeu bem e foi mais do que competente nas devoluções. Tudo leva a crer que derrotar o sérvio em Wimbledon exigirá uma atuação de nível altíssimo. Nas oitavas, ele vai encarar Karen Khachanov.

Entre os outros resultados do dia, Milos Raonic completou sua vitória sobre Dennis Novak e avançou para as oitavas. Juan Martín del Potro e Gilles Simon também venceram.

Na chave feminina, vale olhar para Dominika Cibulkova, que bateu Elise Mertens e está nas oitavas para enfrentar Hsieh. A eslovaca, lembremos, seria a cabeça 32 se Wimbledon não tivesse incluído Serena Williams entre as pré-classificadas. Pois Cibulkova entrou "solta" na chave e despachou a queridinha inglesa Johanna Konta, cabeça 22, na segunda rodada. Ela e Jelena Ostapenko podem se encontrar nas quartas de final.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.