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Saque e Voleio

Nadal atropela argentino e mostra como as 'condições ideais' ajudam seu tênis

Alexandre Cossenza

31/05/2018 12h26

Temperatura na casa dos 25 graus, quadra seca e bola quicando alto. As condições climáticas em Paris nesta quinta-feira foram bem diferentes das que Rafael Nadal encontrou em sua estreia, dois dias atrás, quando precisou jogar sob chuva contra o italiano Simone Bolelli. Hoje, com ambiente muito mais propício a seu estilo de tênis, o número 1 do mundo mostrou como seu jogo flui melhor e fez 6/2, 6/1 e 6/1 sobre o argentino Guido Pella, #78 do mundo.

Aliás, está aí um mito curioso sobre o tênis do decacampeão de Roland Garros. Por Nadal ter vencido tanto no saibro, mais lento dos pisos do circuito mundial, as pessoas tendem a acreditar que o "quanto mais lento, melhor" funciona para ele. Não é bem assim. Ele mesmo já disse isso em algumas ocasiões, e há vários exemplos de partidas que mostram isso em sua carreira. Rafa prefere clima seco, quente, com a bola andando mais e, principalmente, quicando mais. Quanto mais alto o quique, mais ele consegue empurrar seus adversários para trás com seu incrível top spin.

Contra Bolelli, com pingos caindo e a quadra úmida, sua bola quicou menos, ganhou menos velocidade no contato com o solo e não complicou tanto a vida do oponente. O italiano conseguiu jogar mais dentro da quadra e atacou bastante o espanhol. Bolelli, #129 do mundo, teve quebras e vantagem e até quatro set points. E não custa lembrar: Nadal não perde um set no saibro de Paris desde 2015 (lesionado, abandonou no meio do torneio em 2016, após duas vitórias, e foi campeão em 2017, também sem perder sets).

Foi mais ou menos o mesmo que aconteceu na final de Roma, contra Alexander Zverev. Depois de vencer o primeiro set com certa facilidade, Nadal teve de lidar com uma quadra cada vez mais lenta e úmida (boa parte do segundo set aconteceu sob pingos finos). Zverev conseguiu atacar mais e, mostrando incrível precisão, venceu o segundo set. O alemão também liderava o terceiro quando a partida foi interrompida.

Quem puxar pela memória talvez se lembre também da final de Roland Garros em 2012. Naquela ocasião, Nadal venceu os dois primeiros sets contra Djokovic, mas à medida em que a quadra foi ficando mais pesada (aquele jogo também aconteceu sob chuva), o jogo foi mudando de direção. O sérvio venceu o terceiro set – chegou a ganhar oito games seguidos – e tinha uma quebra de vantagem no quarto set quando o duelo foi interrompido. No dia seguinte, sem chuva e com a quadra menos lenta, Nadal devolveu a quebra e fechou o jogo (lembre aqui – foi um jogaço).

Hoje, Pella fez uma apresentação bastante digna. Assustou logo no começo, com três break points no primeiro game (não quebrou), e resistiu bastante até que Nadal conseguisse a primeira quebra. Depois disso, porém, o espanhol deslanchou, jogando um tênis sufocante, pressionando o rival o tempo inteiro. Em um momento, ganhou nove games seguidos. O argentino, aliás, não teve break points além daqueles três iniciais. Diante de tanta pressão e do top spin do adversário, quase sempre Pella precisava andar na corda bamba entre se defender e atacar com uma bola de baixa porcentagem. É o que acontece com a maioria dos oponentes de Nadal no saibro, nesse tipo de condições. O decacampeão segue firme em busca do 11º título no torneio.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.