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WTA em RG: na 'terra de ninguém', gravidez em pauta e o grupo da morte de Sharapova e Serena

Alexandre Cossenza

25/05/2018 07h00

Quando as casas de apostas elegem como favoritas duas tenistas que nunca conquistaram um slam, o cenário mais provável é o equilíbrio. É bem esse o caso da WTA atual, que não tem uma tenista dominante desde que Serena Williams se afastou para dar à luz. Hoje em dia, um momento bom faz a diferença, seja para Jelena Ostapenko, que conquistou Paris no ano passado com 299 winners, ou para Sloane Stephens, campeã do US Open de 2017.

Nesse circuito em que uma faísca faz tanta diferença, Roland Garros neste momento é terra de ninguém. Nem da número 1, Simona Halep, nem de Elina Svitolina, campeã de Roma, nem da bicampeã Maria Sharapova nem de Serena nem de Ostapenko nem de Kvitova nem de Muguruza. O assunto mais quente pré-torneio foi a polêmica sobre se Serena deveria ou não ser cabeça de chave voltando de gravidez. E vamos falar disso tudo neste guiazão anual de Roland Garros do Saque e Voleio. É o post em que analisamos as candidatas ao título, a chave, quem corre por fora, os melhores jogos para ver nos primeiros dias, onde acompanhá-los na TV e, claro, as cotações das casas de apostas. O torneio começa neste domingo, às 6h (de Brasília). Role a página e fique por dentro.

O número 1 em jogo

Seis mulheres podem sair de Roland Garros como número 1 do mundo. Desde a atual número 1, Simona Halep, até a sétima colocada, Caroline Garcia, incluindo Caroline Wozniacki (#2), Garbiñe Muguruza (#3), Elina Svitolina (#4) e Karolina Pliskova (#6). Os cenários são variados e estão todos no quadro abaixo – que comentei com mais detalhe no post de ontem.

Como dá para ver, a maior chance – no papel – é de Wozniacki. Seria maior ainda se a dinamarquesa tivesse um histórico de bons resultados no saibro, mas Caro, ainda que mais consistente do que agressiva, nunca se encontrou totalmente à vontade na terra batida.

A polêmica da gravidez

Ninguém quer enfrentar Serena Williams, e não importa se a americana não joga um torneio desde março – e muito menos se ela estava lenta e fora de forma naquela época. É por isso que cresceu o debate: tenistas voltando de gravidez deveriam ter assegurado seu direito a serem cabeças de chave? Pelo regulamento atual – votado em conselho de jogadoras, é bom que se diga – as mamães têm apenas direito a entrarem direto nas chaves principais. É por isso que Serena, atual #453 do mundo, está em Roland Garros.

Hoje, as opiniões são quase unânimes: quem acaba de ter filho deve poder ser cabeça de chave se seu ranking pré-gravidez dava esse direito. Mas onde está a polêmica, então? A questão é que ninguém levantou esse assunto com nenhum outro caso recente de maternidade. Mas, como escrevi acima, quem quer encarar Serena Williams numa primeira rodada de slam, né?

Uma opinião bastante equilibrada veio de Victoria Azarenka, outra jovem mamãe. Ela diz que regulamentos não podem se basear em exceções (casos de Serena e da própria Vika) e que garantir que uma mãe será cabeça de chave também vai significar que alguém que ralou por 52 semanas perderá sua posição na chave por causa de uma regra assim. E que, como todo mundo sabe, as regras são e serão para todo mundo. De todo modo, o assunto ainda vai ser debatido no conselho das jogadoras.

A campeã do sorteio

Dadas as possibilidades,a principal cabeça do torneio se deu bem. A seção de Simona Halep até as quartas tem como principais nomes Elise Mertens, Kristina Mladenovic e Daria Gavrilova. Mladenovic, possível rival na terceira rodada, mais perdeu do que venceu jogos em 2018. Ainda que tenha o público a seu favor, Kiki não vem mostrando o tipo de consistência necessário para bater Halep. Logo, a romena pode ir bem até as quartas, onde poderia ver pela frente Caroline Garcia, quadrifinalista em 2018, ou Angelique Kerber, que não alcança as quartas desde 2012.

#happytobeback #paris❤️

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Faz sentido que a número 1 do mundo, vice-campeã em 2014 e 2017, esteja cotadíssima para ir pelo menos até a semi. E aí entra outra vantagem da chave de Halep. A principal cabeça para enfrentá-la na semi é Garbiñe Muguruza, talvez a maior "perdedora" do sorteio. A espanhola tem um caminho dos mais espinhosos, incluindo uma estreia contra Svetlana Kuznetsova, uma possível terceira fase contra Anastasia Pavlyuchenkova, oitavas contra Coco Vandeweghe e semifinal contra Karolina Pliskova, Maria Sharapova ou Serena Williams. Como todos sabemos, Muguruza é tão capaz de bater todas essas rivais como de cometer 50 erros não forçados e cair na estreia.

O grupo da morte

Sim, você leu direito acima: Halep pode enfrentar na semi Karolina Pliskova, Maria Sharapova ou Serena Williams, que, lembremos, caiu nesse meio justamente por não ter o direito de ser cabeça de chave. Isso deixou as três ali, agrupadinhas, num cantinho da chave de cima. Pliskova, semifinalista no ano passado, pode encarar dona Maria já na terceira rodada. Enquanto isso, Serena vai estrear contra Krystina Pliskova (#70), a irmã canhota da Karolina e gêmea preferida de Russell Crowe.

Serena ainda pode ter que duelar com Ashleigh Barty (#17) na segunda fase e com a sempre perigosa Julia Goerges (#11) na terceira. Quem avançar daí pode pegar nas oitavas a vencedora de um interessante tiroteio entre Sharapova e Karolina Pliskova.

Quem é a favorita para avançar nessa briga? Difícil dizer um nome que não comece com S e termine com Erena Williams, ainda que ninguém tenha visto a americana jogar desde Miami. De todo modo, é preciso reconhecer que Sharapova terá uma chance de ouro para triunfar aqui, até mesmo derrotando a grande algoz – algo que não acontece desde 2004 (Serena tem 19 vitórias em 21 encontros com a russa).

A brasileira

O Brasil teria uma representante na chave principal, mas Bia Haddad Maia teve de voltar a São Paulo para passar por uma cirurgia de hérnia de disco. A expectativa de retorno, segundo comunicado de sua assessoria de imprensa, é de três meses. Atual número 89 do mundo, a paulista também ficará fora do Torneio de Wimbledon. Se a previsão se confirmar, ela poderá disputar o US Open, em agosto. Mais tarde, em setembro, ela precisará defender o vice-campeonato do WTA de Seul.

As ausências

Além de Bia Haddad Maia, o torneio parisiense terá como desfalques de destaque a polonesa Agnieszka Radwanska (#28), com um problema nas costas; a americana CiCi Bellis (#56), com uma lesão no cotovelo; e a porto-riquenha Monica Puig (#62), com dores no quadril.

Correndo não tão por fora

Se é fácil entender porque e letã Jelena Ostapenko e a tcheca Petra Kvitova não estão entre as quatro mais cotadas ao título, é igualmente simples notar que ambas podem sair derrubando todo mundo como um strike psicodélico de um Jeff Bridges lançado por Julianne Moore ("The Dude abides"). A atual campeã, Ostapenko, fez 299 winners em Paris no ano passado – não custa repetir. Kvitova, por sua vez, foi campeã em Praga e Madri e chega a Paris com uma sequência de 11 triunfos em quadras de saibro.

O desafio para ambas é sempre o mesmo: manter a precisão de seu jogo agressivo durante longos períodos de tempo, o que inclui partidas demoradas e, claro, as duas semanas de um slam com suas variações de temperatura, vento, umidade, etc. Na terra batida, onde seus golpes perdem um pouco da eficiência, é uma tarefa sempre mais trabalhosa.

❤️ @mutuamadridopen

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Conta a favor de Kvitova estar no quadrante de Wozniacki, que não é a melhor tenista do mundo no saibro e, por sinal, tem uma estreia não tão simples contra Danielle Collins (leia mais na seção sobre os melhores jogos para acompanhar nos primeiros dias do torneio). Para Ostapenko, existe uma possibilidade interessante de um encontro com Svitolina nas quartas, só que para isso a campeã talvez precise superar Victoria Azarenka – outra mamãe que não é cabeça de chave – já na segunda rodada. Dito tudo isso, que ninguém descarte uma eventual semifinal entre letã e tcheca.

As tenistas mais perigosas que ninguém está olhando

Num cenário em que existe equilíbrio até entre as muitas postulantes ao troféu, não faltam possibilidades para quem corre realmente por fora. E olha que dá até para encaixar Victoria Azarenka, ex-número 1 do mundo, neste grupinho. Um pouco porque a bielorrussa ainda está se encontrando na volta ao circuito, um pouco porque jogar no pó de tijolo nunca foi seu forte. Ainda assim, um duelo com Ostapenko na segunda rodada nos dará uma resposta rápida sobre as chances de Vika em Paris-2018.

No saibro, nunca dá para descartar Kiki Bertens (#18), que ainda não tem pedigree no nome, mas foi campeã em Charleston e vice em Madri, onde eliminou, em sequência, Wozniacki, Sharapova e Garcia. A holandesa, que também já foi semifinalista de Roland Garros em 2016, está num grupo duro com Kerber e Garcia, mas quem sabe ela não avança e encontra Halep nas quartas de final?

Julia Goerges (#11) é outro nome que vale ficar de olho, apesar de sua presença no "grupo da morte" e da estreia contra Cibulkova. Também convém observar a russa Daria Kasatkina (#14), que a qualquer momento pode incendiar o torneio. Não é nada impossível que ela avance até as quartas na seção de Wozniacki.

Para terminar, correndo por fora – mesmo – acompanhemos mais um retorno da suíca Belinda Bencic, ex-top 10 que, após uma série de lesões, hoje é apenas a #72 do mundo. A compatriota de Federer não pisa numa quadra desde Indian Wells. Depois de desistir de Praga, Madri e Roma, Bencic vem se recuperando de uma inflamação em um osso do pé direito.

Os melhores jogos nos primeiros dias

Respira fundo porque a lista é longa: tem Serena x Kristyna Pliskova, que marca a volta da americana ao circuito, mas tem também tem Wozniacki x Collins, a campeã do Australian Open contra a sensação americana que fez oitavas em Indian Wells, furou o quali e foi até a semi em Miami e, mais tarde, furou os qualis de Roma e Madri (Collins saltou de #162 para #44 este ano). Collins é perigosa e vem em franca ascensão. Receita de perigo para Caro. O que dizer, então, de Muguruza x Kuznetsova, com duas campeãs de Roland Garros duelando numa primeira fase?

Para quem se aprofunda mais na WTA, não faltam opções: Petkovic x Mladenovic, Gavrilova x Cirstea, Kerber x Barthel, Stosur x Wickmayer (quase vintage!), Siegemund x Coco (haja personalidade!), Kasatkina x Kanepi (será?) e Cornet x Errani estão na minha listinha aqui.

Onde ver

O canal Bandsports tem os direitos exclusivos de transmissão em TV fechada. Segundo o "Esporte e Mídia", o canal promete exibir pelo menos quatro jogos por dia na TV e mais quatro – diferentes – em seu site. As finais serão transmitidas ao vivo também na Band aberta. A programação do Bandsports ainda inclui o programa diário "Ace Bandsports", às 19h, e "O Melhor de Roland Garros", às 23h.

Quem preferir opções "alternativas" pode optar pelos streams oficiais de casas de apostas como a bet365 (se não me engano, é preciso fazer um depósito qualquer com cartão de crédito).

Nas casas de apostas

Fica claro o equilíbrio entre Halep e Svitolina – as finalstas de Roma – nas casas de apostas (o número "7" significa que quem apostar receberá sete vezes esse valor se sua tenista for campeã). Sharapova, bicampeã do torneio, aparece com certa lógica na terceira posição, seguida de Serena Williams, que é um ponto de interrogação, mas nenhuma casa de apostas quer correr o risco de perder muito dinheiro se ela for campeã – cenário que nunca pode ser descartado porque … Serena.

Não entraram no gráfico acima, mas vale citar que Kiki Bertens fica logo atrás de Wozniacki e antes de Angelique Kerber e Caroline Garcia.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.