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Saque e Voleio

Nadal é nota 10 até agora, mas testes mais duros ainda devem vir no saibro

Alexandre Cossenza

29/04/2018 13h42

Até agora, a campanha de Rafael Nadal no saibro europeu é brilhante. Irretocável. Com a vitória deste domingo sobre o grego Stefanos Tsitsipas por 6/2 e 6/1, o espanhol soma dois títulos em dois torneios, sem nenhum set perdido. E tem mais: desde Roma/2017, já são 46 sets vencidos de forma consecutiva, o que inclui Copa Davis e Roland Garros. E nesses 46 sets, o adversário venceu pelo menos cinco games uma vez só: foi Martin Klizan, nesta semana, em Barcelona.

Agora a gente junta isso tudo com os seguintes números: 11 títulos em Barcelona, outros 11 em Monte Carlo, dez em Roland Garros e, no total, 401 vitórias na terra batida em 436 jogos, com um aproveitamento de 91,9%. Números que dificilmente serão alcançados nesta ou em outra dimensão.

Nadal já defendeu 1.500 dos 4.680 pontos que conquistou no saibro em 2018. Mas, se é verdade que ele é favoritíssimo para defender o resto de seus pontos, é preciso fazer uma observação importante: a parte mais difícil da sequência europeia de terra batida ainda está por vir. E antes que alguém saia por aí distorcendo, leia de novo a segunda linha do parágrafo: Nadal foi, é e será favorito para ganhar tudo no saibro em 2018. Porém, não custa lembrar os desafios diferentes que Madri e Roma trarão nas próximas semanas.

A começar pelo Masters 1000 da capital espanhola, que fica localizada cerca de 700 metros acima do nível do mar. Trocar Barcelona por Madri, em termos tenísticos, é mais ou menos como sair do Rio para São Paulo. Quem já jogou nas duas cidades entende a diferença. Portanto, na Caja Mágica, a bola anda mais rápido, o que deixa o evento mais interessante para sacadores e jogadores agressivos que usam bolas mais retas. É lá, tradicionalmente, que Nadal costuma enfrentar mais problemas para dominar seus oponentes.

Roma, por sua vez, tem condições mais parecidas com as de Roland Garros, o que é melhor para o atual número 1 do mundo. O grande adversário aqui pode ser o aspecto físico. Ano passado, por exemplo, Nadal chegou à Itália vindo de três títulos em quatro semanas. O desgaste físico e mental lhe tornou uma presa mais fácil para Dominic Thiem, que o eliminou nas quartas de final em dois sets. Outro título em Madri pode deixar Rafa em situação semelhante.

Resumindo? Ainda que continue como favorito em seus próximos torneios, que o circuito esteja desfalcado de Roger Federer, Andy Murray e Stan Wawrinka, que Novak Djokovic esteja longe de seu melhor e que até Dominic Thiem venha mostrando um tênis aquém do que pode exibir, Nadal ainda terá pela frente a parte mais difícil (ou "menos simples"?) de seu calendário de saibro na Europa. Os próximos dois Masters podem não ser tão previsíveis quanto as duas semanas que passaram…

Coisas que eu acho que acho:

– Stefanos Tsitsipas, 19 anos, é outro nome da nova geração com um tênis delicioso de ver. Backhand de uma mão, pontos trabalhados, agressividade-sem-ignorância. É mais um que entra no top 50 adolescente e ajuda a renovar o circuito junto com Jared Donaldson, Denis Shapovalov (#43 aos 19 anos), Karen Khachanov (#37), Borna Coric (#38), Andrey Rublev (#31), Hyeon Chung (#19), e Alexander Zverev (#3). Nick Kyrgios (#24) e Thanasi Kokkinakis, com 22 (atual 150, mas já foi #69 três anos atrás, antes de uma série de lesões), são os "veteranos" da turma.

– Na véspera da final, Tsitsipas disse que enfrentar Nadal seria um sonho e que ele esperava uma aula de tênis no saibro. O resultado não foi muito diferente disso. E, se por um lado é perfeitamente compreensível que jovens como Tsitsipas fiquem meio abobalhados enfrentando seus ídolos, eles precisam saber que o resultado não será diferente enquanto eles não deixarem seu lado fanboy no passado. Aconteceu hoje com Nadal e acontece com Federer o tempo inteiro. Os dois, além de superiores tecnicamente, também vêm ganhando muita coisa graças ao peso de seus currículos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.