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Saque e Voleio

3 observações sobre a evolução de Djokovic em Monte Carlo

Alexandre Cossenza

18/04/2018 13h06

Foram só dois jogos, o que não fundamenta nenhuma conclusão-conclusiva-definitiva-transitada-em-julgado (redundâncias intencionais), então é preciso admitir que este post é escrito com um ponto de vista assumidamente "copo-meio-cheio". Porque sim, acho que Novak Djokovic mostrou muita evolução em relação às suas apresentações em Miami e Indian Wells. Vejamos por quê:

1. Consistência

Os pontos mais longos, especialmente na vitória por 7/6(2) e 7/5 contra Borna Coric, mostraram que Djokovic está se movimentando melhor e errando menos. É bem verdade que o saibro ajuda, dando ao sérvio algum tempo a mais para preparar golpes e se defender, mas o piso também o impede de matar pontos em dois golpes o tempo inteiro. É preciso construir pontos e, para isso, não dá para errar demais. Nole foi consistente o bastante ao longo do duelo.

Também é preciso apontar que Coric levou vantagem em várias trocas de bola entre backhands – logo o golpe mais sólido de Djokovic – mas é preciso dar mérito ao croata, que, de modo geral, fez uma bela apresentação.

2. Físico

De novo, os vários ralis contra Coric deram uma noção interessante sobre o quanto Nole foi superior ao que mostrou em IW e Miami. Nos torneios americanos, saiu esgotado de quadra. Em Monte Carlo, moveu-se melhor e chegou muito bem ao fim do jogo contra o croata, que durou 2h15min.

Lembremos: o triunfo por 6/0 e 6/1 sobre Dusan Lajovic, na estreia, durou apenas 56 minutos. Ainda é preciso ver como Djokovic reagirá em partidas exigentes e consecutivas, mas não há comparação, já que ele não venceu nem em Indian Wells nem em Miami. Pelo pouco que mostrou em Monte Carlo, Nole já fez mais, o que não deixa de ser um bom sinal.

3. Decisão

Fato: Coric salvou nove match points – em dois games diferentes – antes de sucumbir nesta quarta-feira. Outro fato: Djokovic salvou dois break points em um momento delicadíssimo do primeiro set (5/5), venceu um tie-break e, mais tarde, no segundo set, quebrou o saque de Coric imediatamente depois de desperdiçar sete match points em um game de serviço.

Não dá para dizer que Djokovic foi mentalmente fraco nem que foi infeliz nos pontos mais importantes. O duelo contra Coric poderia ter sido muito mais complicado, não fosse pela capacidade do ex-número 1 de ser superior quando mais precisou.

Coisas que eu acho que acho:

– Sem exageros, por favor. Dizer que Djokovic mostrou mais do que em IW e Miami não é dizer que ele está pronto para derrotar Rafael Nadal, conquistar Roland Garros outra vez e voltar ao topo do ranking. Pode até acontecer, mas não deu para ver tanto assim até agora. Amanhã, Nole já tem um duelo com Thiem. Na sexta, quem sabe, será Nadal do outro lado da rede. Nada como um (ou dois) top 10 para mostrar os buracos no jogo de alguém.

– Sobre a participação de Marian Vajda nessa evolução de Djokovic, é difícil dizer, de fora, o que é causa e o que é consequência. Voltar com Vajda foi resultado da motivação de Nole ou a motivação veio de Vajda? Esse dilema do ovo e da galinha vale para muitas relações de jogadores e técnicos, e o mais provável é que exista um meio-termo em algum lugar. E ninguém confirmou ainda se a parceria vai continuar depois de Monte Carlo.

– Era um cenário beeeeem diferente para Djokovic, mas exatamente um ano atrás, também em um 18 de abril, fiz um post muito parecido, elogiando algumas características que o sérvio mostrou na estreia em Monte Carlo (Gilles Simon). Alguns leitores acharam que eu estava prevendo um futuro melhor para Nole. Não era um caso, como não é agora. É uma simples análise sobre o que aconteceu, não um exercício de futurologia, ok?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.