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Saque e Voleio

O lado negro da Força: 5 momentos de fúria de Federer na final de IW

Alexandre Cossenza

19/03/2018 07h00

Ninguém é santo no tênis. Nem mesmo aqueles que passam a maior parte do tempo dando demonstrações de fair play. Todo mundo tem aquele dia ruim, aquele jogo em que falta paciência e que as coisas não saem como o planejado. Roger Federer teve um dia desses neste domingo, na final de Indian Wells. O suíço, que por vezes é tão suíço quanto possível, mostrou seu lado nada polido. Gritou com árbitro, atirou toalha, deu uma bolada no rival… e acabou derrotado por 6/4, 6/7(8) e 7/6(2) por Juan Martín del Potro, que levantou pela primeira vez na vida um troféu de Masters 1.000. Veja abaixo cinco momentos que mostram Federer em dia de Fognini.

1. Raquete no chão e discussão com o árbitro

Irritado com o que pensava ser um saque fora do adversário, Federer reclamou que o árbitro de cadeira, Fergus Murphy, "errou uma chamada assim no tie-break" e bateu com a raquete no chão para indicar onde havia sido o quique da bola. O Hawk-Eye, contudo, mostrou que o suíço estava equivocado. Foi bola boa, e Del Potro venceu o ponto.

Depois de salvar um terceiro match point, Del Potro conseguiu outra chance de quebra e, finalmente, aproveitou, empatando o terceiro set em 5/5. Federer, furioso, descontou no árbitro. Desta vez, Murphy levou a culpa porque, no meio da gritaria da torcida, não ouviu uma pergunta do suíço, que queria saber quantos games faltavam para a troca de bolas.

O árbitro disse não ter escutado, mas Federer nem quis saber. Disse "perguntei quatro vezes e não consegui ter uma resposta!" antes de ir até o banco e trocar de raquete, atrasando o jogo enquanto Del Potro ficou de pé no fundo de quadra, esperando para sacar no 11º game.

Coisas que eu acho que acho:

– Escrevi no início do texto, reforço agora: todo mundo tem dias ruins, todo mundo toma atitudes feias, em maior ou menor quantidade. O fato de Federer raramente viver momentos assim não torna os gestos deste domingo menos feios. O suíço passou do ponto.

– Apesar de tudo acima, Federer foi um cavalheiro ao fim do jogo. Deu um abraço em Del Potro, cumprimentou Murphy e fez um belo discurso, reconhecendo os méritos do oponente. Após um match point, viu-se um Federer mais… Federer.

– De modo geral, não foi um dia ruim do suíço. Federer começou abaixo do seu melhor, cedeu uma quebra logo no começo e quase perdeu o saque outra vez no início da segunda parcial. Aos poucos, foi reduzindo seus erros, usando mais variações, chamando Del Potro para a rede e equilibrando o jogo. Teve três match points com o saque. Poderia ter vencido. Deveria ter vencido.

– Del Potro não foi tampouco o maior dos cavalheiros durante parte do jogo. Quando Federer reagiu e levantou a torcida, o argentino também dirigiu sua ira ao árbitro, pedindo que ele controlasse o público. Um exagero de quem estava perdendo o controle do jogo e que o próprio Delpo admitiu após o jogo.

– Em um circuito desfalcado de Nadal, Djokovic, Murray e Wawrinka, Del Potro é quem mais tem força para emparelhar jogos com Roger Federer. Força física, técnica e, especialmente, mental. Não sei quem mais teria resistido depois de o suíço vencer o tie-break do segundo set, após salvar um match point, e muito menos com Federer sacando em 5/4 e três match points no terceiro set. Del Potro poderia ter sido superado em quadra, no jogo, na execução dos golpes. Mentalmente, ele estava lá até o fim. E isso, contra um adversário com mais recursos, é um feito e tanto (escreverei mais sobre o argentino em outro post).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.