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Westrupp promete cobrar tenistas e abrir números de apoios da CBT (parte 2)

Alexandre Cossenza

06/03/2018 07h00

Na primeira parte desta entrevista, publicada nesta segunda-feira, o presidente da Confederação Brasileira, Rafael Westrupp, falou sobre transparência, seu voto contra uma maior representação de atletas nas assembleias do COB, os contratos firmados pela entidade durante sua gestão e prometeu reduzir seu salário em 20%.

Nesta terça, trago aqui a segunda parte da conversa. Aqui, Westrupp promete não manter as brigas pessoais tomadas por Jorge Lacerda, antecessor e principal articulador de sua eleição; o encontro nacional de tênis, que deixou fora dois dos principais técnicos da história recente do tênis brasileiro; o novo circuito infantojuvenil; Copa Davis e Centro Olímpico. Westrupp também prometeu cobrar seriamente os tenistas auxiliados pela CBT e revelar os números dos investimentos da entidade. Amanhã, posto minhas impressões sobre a conversa, mostrando o que gostei e não gostei de ouvir.

Então vamos lá, voltando pra minha pergunta inicial: Thomaz Koch vai receber o Commitment Award da Copa Davis?

Nunca fiz objeção e ninguém, a nada, em nenhuma situação. Eu nunca fiz nada. Nada.

Se a ITF contratar a Diana [Gabanyi] para trabalhar em uma Copa Davis, sem problema?

Problema nenhum.

Meu nome não vai estar em lista negra de credencial?

Estás com mania de perseguição (risos). Eu não tenho nem acesso a listas. Minha área era outra. Vou vetar o quê?

Estou só perguntando porque acho que faz parte do processo de desjorgificação da CBT (risos). Mas se não vai haver nada, ótimo. Por que não convidar o Pardal [Ricardo Acioly] e o [Carlos Alberto] Kirmayr para o encontro nacional [evento que a CBT realizou no fim do ano passado, reunindo atletas, ex-atletas, treinadores em Florianópolis]? Que, aliás, registre-se: acho a a ideia ótima, bacana. Mas se é para fazer um encontro, vamos fazer um encontro de todo mundo! Vamos abrir, acabar de vez com isso.

Eu encontrei o Kirmayr aí [no Jockey Club Brasileiro], batemos altos papos. A gente se dá super bem. Eu fui auxiliar dele nas clínicas do Costão do Santinho em 2001. Tenho maior respeito, carinho com ele. Não tenho problema com ninguém, cara.

Então por que não convidar os dois?

Tu achas que foi o primeiro e último encontro? No próximo, pode ser convidado. Foi tanta gente convidada… Então são coisas que a gente está montando. Esse é o tal negócio do copinho meio cheio ou meio vazio. Olha pelo meio cheio! Dessa vez não convidaram o Kirmayr e o Pardal, mas convidaram o Fernando [Meligeni], o Guga ficou a semana inteira, veio todo mundo.

Mas você entende a imagem que passa? A gente vem de uma CBT que teve problema com ambos [Pardal e Kirmayr]. No primeiro encontro nacional, os dois não são convidados…

Era bom se o Kiki passasse aí porque eu não sei [de briga com Jorge Lacerda]. Quem sabe para a próxima, sugestão. A única coisa que tu escreve é que os dois não foram convidados.

Na verdade, eu nem escrevi isso no blog.

Todo mundo tem que ser convidado? Todo mundo?

Não é para ser um encontro nacional?

No próximo, pode ser. Não foi restritivo. Naquele momento, era aquilo ali. No próximo momento, pode ser outra coisa. Se fosse o único encontro da história do tênis… Daqui a pouco o cara participa. Ninguém está excluindo ninguém. É isso que tu precisa entender, Cossenza.

Eu quero acreditar nisso.

Não excluo você da imprensa, não excluo ninguém da área técnica. A gente está criando três comitês agora. Kids, 12-14 anos, 16-18 e transição. Várias pessoas vão estar envolvidas. Pessoas que estão há muito tempo no tênis.

Falando em juvenil, vocês pretendem continuar com o formato atual do circuito nacional? Existe possibilidade de abrir para iniciativa privada como era antes do Jorge, com vários circuitos como Unimed, Credicard, Banco do Brasil…

Na verdade, o circuito juvenil vai ter uma mudança muito, muito drástica, né? Virou Campeonato Brasileiro de Clubes. Até 2020, a projeção de economia dos pais vai ser superior a R$ 6 milhões. Hoje, qualquer tenista infantojuvenil que represente um clube vinculado ao Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) vai viajar com passagem aérea e hospedagem de graça.

Pago pela CBT?

Pago pelo CBC num convênio com a CBT. Para o nosso circuito, que terá sete etapas este ano – é o antigo Circuito Correios. Será o Campeonato Brasileiro Interclubes. O menino pontua para o ranking individual dele e para o clube que representa. Cada etapa tem um clube campeão, e no fim do ano tem o campeão geral de clubes. O pai só se preocupa em gastar R$ 50 por dia para o menino comer. O pai gasta, por ano, R$ 500, R$ 600. Isso é um trabalho da minha gestão. Não que o Jorge não tenha feito. Se o edital tivesse sido [anterior], provavelmente o Jorge teria entrado nessa, sabe? Ele tinha essa visão. A primeira etapa vai ser em março, em Belo Horizonte, no Minas Tênis, com 400 inscritos, jogando tênis de graça.

As sete etapas estão fechadas?

Belo Horizonte, Salvador, Criciúma, Curitiba, São Paulo e Caxias do Sul.

No Rio, nada?

No Rio, não. Nenhum clube se lançou no edital. Porque o clube também tinha que se lançar, mas a gente adequou nosso regulamento, os clubes participaram do edital, e a despesa [volta para os clubes]… O Recreio de Juventude, de Caxias, gastou R$ 200 mil na realização da etapa. O clube recebe R$ 200 mil do CBC para investimento em estrutura para modalidades olímpicas. Então isso, além de auxiliar muito nosso circuito, está auxiliando os clubes a desenvolverem uma estrutura melhor.

A gente está falando em sete etapas. Imagino que não dê para fazer mais porque não há um cofre infinito de dinheiro. Mas e iniciativa privada? O que a CBT pode fazer para atrair esses circuitos, esse tipo de investimento? Eu pergunto porque quando comecei a cobrir tênis [2004] havia vários circuitos e torneios toda semana. Não é melhor ter mais torneios? Ou vocês acham que não é bom ter torneio demais?

O Campeonato Brasileiro Interclubes dá a pontuação máxima: GA. Abaixo disso existem os G1 e os G2. Os promotores, organizadores e federações podem solicitar para realizarem torneios nacionais G1 e G2. Não há uma restrição pela quantidade. Óbvio que existem as janelas de calendário. A gente chega aí a quase 30 torneios infantojuvenis por ano. Além disso, eu trouxe para o Brasil este ano a Copa Jaime Oncins. É um dos mais importantes torneios ITF. Banana Bowl é G1, o Campeonato Internacional de Porto Alegre, a antiga Gerdau, é GA. Depois, temos esse GB1, que é um sul-americano de de 18 anos e vai ser dentro do Paineiras [em São Paulo, nesta semana]. Eu trouxe com garantia de três anos. Só pode jogar sul-americano. Em termos de pontuação, vale mais que o Banana e menos que a Gerdau. Os nossos meninos, essa gurizada, até 2020 vai disputar esses três torneios dentro de casa. O pai não precisa gastar. E esses meninos já não gastavam porque a CBT sempre pagou a Cosat pra essa gurizada viajar. Em outubro, nós temos quatro ITFs e Cosat. São os G4. Só de ITF, o Brasil tem sete. A gente está bem servido de torneio. A gente está oferecendo torneios não só em quantidade, mas torneios de qualidade. O menu está farto. Essa é a grande mudança.

Você falou nos juvenis que recebem ajuda da CBT. Vocês não podem disponibilizar uma planilha de quem recebe ajuda, quando e quanto?

O [Eduardo, gestor esportivo e de eventos da CBT] Frick, eu fiz questão de levá-lo, ele foi a Curitiba no workshop brasileiro de capacitação. Havia quase 200 professores de tênis lá, e o Frick fez a apresentação e mostrou linha por linha.

Numa das conversas que eu tive com o Frick, ele me falou isso. Eu falei "me manda essa apresentação que eu publico ela inteira". Ele não me mandou.

Eu vou conversar com ele.

Isso é algo que me interessa muito. Eu acho bacana. Talvez seja bom para a CBT publicar isso.

Lógico, se você for dar esse espaço.

Vamos falar de Copa Davis agora… Esse confronto contra a república Dominicana não teve Thomaz [Belucci], não teve Rogerinho nem Feijão nem Clezar. Cada um com seu motivo. O Thomaz estava voltando [de uma punição por doping], o Rogerinho deu preferência para o calendário dele, o Clezar também… Você não acha que essas ausências tenham a ver com incidentes anteriores com a CBT na Copa Davis? Porque o Rogerinho ficou chateado na Davis contra o Japão. Não tanto de não ser convocado, mas por não ter sido avisado pelo João [Zwetsch, capitão da equipe]. Com Feijão, já houve problemas do Jorge com o Pardal, teve a Davis contra a Espanha que deixou ele chateado, enfim… Não foi por causa de relações com a CBT que, de repente, faltou essa boa vontade a mais de aceitar defender o país?

Do Rogerinho, em relação com a CBT, não enxergo nenhum problema. O Rogerinho foi no encontro nacional, de forma alguma acredito em retaliação. Acredito 100% que cada um tem a sua prioridade em termos de calendário e pontuação. Tu resumistes bem. O Bruno está com a Bruna [esposa] grávida. O Thomaz… O que esse cara já jogou de Copa Davis nos últimos dez anos, nunca negou uma convocação. Sendo o mesmo capitão! Sendo o Jorge o presidente! Eu, presidente, ele foi para o Equador. Não tem nenhum tipo de problema. Cada um tem a sua opção e escolhe o que é melhor para si. Eu lamento, mas não sou eu que convoco.

Não é uma mágoa com o João?

Eu não acredito. Não acredito mesmo, mas isso não sou eu que posso responder, isso é minha opinião. Como eu dou total autonomia aos capitães, até nos infantojuvenis, não posso te responder por eles, mas acredito que não há qualquer tipo de problema pessoal ou profissional com nosso capitão.

E por que eu liguei para o Roese [Fernando, capitão da Fed Cup], e ele me falou que a Laura tem um problema com a CBT?

Tem que perguntar para ele. A CBT não tem problema com ninguém.

Agora a CBT firmou parceria com uma academia em Barcelona…

Quando o Jorge passou o bastão, ele saiu mesmo do tênis. Deu carta branca já quando fui eleito. Entre eu ser eleito e assumir, foram oito meses e ele já deixou eu fazer a reformulação, e eu contratei o Frick em janeiro, antes de eu assumir. Eu falei "Frick, duas coisas para você fazer: programa de transição e encontro nacional. E, depois, num outro momento, buscar uma base na Europa. Deixa que eu vou atrás do dinheiro." Acabou que dentro do contexto que nos foi apresentado, a BTT se encaixou na nossa realidade. Tinha o Léo Azevedo, um cara que ninguém tem uma vírgula para falar qualquer aspecto negativo dele e fez um excelente trabalho com a USTA. Fomos lá, batemos o Marcelo. Perfil? Quem vai ser o jogador? A gente tem orçamento pra atender dois, talvez três no primeiro momento. Conversamos com Francis Roig, Alvaro Margets e o Léo, mapeando… Orlando [Luz]! Ótimo, agora vai ter que ir e não pode voltar. Outra coisa que mudou: quando a gente der passagem, não tem mais negócio de ficar três semaninhas na Europa. Vai ficar 12! O cara que voltar antes vai viajar o ano pagando do bolso. E tem mais: deu dorzinha na perna, saudade da namorada… Não tem, cara. Quer jogar tênis, vai ficar cascudo. Frick foi lá, conversou e fechou com o Orlandinho. E o Felipe Meligeni. No encontro nacional, ele [disse que] estava indo para outro local, fora do Brasil. Estava meio perdido, e a gente sabe da dificuldade financeira. A gente ajudou bastante com logística, passagem aérea, mas não tinha nada consolidado. Pedi para o Frick conversar com o Fernando Meligeni, que é tio do guri e, bem ou mal, é uma autoridade no assunto. O Frick conversou com a Paula [Meligeni], mãe dele. E a gente banca 80%. Não banca 100%. Talvez teríamos condição de bancar 100%, mas queremos que o menino valorize. É uma questão de educação. E as viagens, os deslocamentos, a maior parte vai por conta deles, mas, sobrando um dinheiro, a gente vai estar pagando também. O conceito é esse. Não é restritivo a dois jogadores. Se a gente tiver condição de colocar um ou outro… Aquele programa de transição que era um sonho meu está acontecendo.

Para terminar… Centro Olímpico. Eu sei que não tem dinheiro, que aquilo lá virou um negócio monstro. O que eu não entendi porque não falei com você nem com o Jorge desde então é por que até a beira da Olimpíada, falava-se "vamos ficar aqui", "vamos administrar isso aqui" e, de repente, passou a ser muito caro. O que mudou? Havia uma indicação do governo de que seria cedido de graça para a CBT?

O plano de negócios, eu participei da montagem dele junto com o a Octagon e a Estácio. A matriz que a gente apresentou contava um com apoio significativo dos Correios. A proposta era pegar uma parte do patrocínio e fazer o centro nacional de treinamento aqui. Isso inclui a manutenção da área e estava tudo engatilhado para isso.

Você lembra o valor disso?

O custo era em torno de R$ 2,5 milhões por ano. Uma coisa plausível para fazer o centro nacional de treinamento. Eu já tinha na cabeça que a CBT iria mudar para o Rio. Na época que foi firmado o contrato de parceria com a federação francesa, as reuniões eram na sala do presidente, na Philippe Chatrier, eu imaginei a mesma coisa. Ver os meninos treinando, o administrativo junto com o técnico… Seria um sonho. Aí bum, caiu tudo. Dia 22 de dezembro de 2016, não se sabia quem era o dono. No dia 23, caiu no colo do Ministério. O patrocínio dos correios, no dia 27 de setembro de 2016, acabou. Só foi renovado em dezembro. De nove para dois [o valor do aporte caiu de R$ 9 milhões para R$ 2 milhões]. Nossa realidade mudou.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.