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Saque e Voleio

Bellucci: da piada para fisgar André Sá à obrigação de subir à rede

Alexandre Cossenza

19/02/2018 07h00

Thomaz Bellucci, atual número 137 do mundo e ganhador de um wild card para a chave principal do Rio Open, fará sua estreia no torneio carioca nesta segunda-feira, no segundo jogo da sessão noturna (depois de Marin Cilic, que enfrenta Carlos Berlocq não antes das 19h locais). O paulista de 30 anos vai encarar o experiente italiano Fabio Fognini, que também tem 30 anos e ocupa o 22º posto na lista da ATP.

Antes de encarar o rival pela quinta vez – perdeu os quatro confrontos anteriores – Bellucci deu uma interessante coletiva no Jockey Club Brasileiro. Na conversa com os jornalistas, o brasileiro falou, entre outras coisas, sobre como apelou para uma brincadeira na esperança de atrair André Sá para ser seu técnico, e como o mineiro, depois de aceitar a proposta, vem exigindo mais subidas à rede do paulista. Listo abaixo os momentos que julgo serem os mais importantes do bate-papo.

Como atraiu André Sá

"Foi engraçado. A gente estava numa mesa num torneio, almoçando. Eu estava sentado na mesa com um amigo meu, acho que um outro jogador e o André. Ele chegou, disse 'vi que você não está mais trabalhando com o João, o que você fazer?' 'Não sei ainda, quer seu meu técnico?', falei pra ele, brincando, né? (risos) Ele falou 'não, não, estou jogando', e eu disse "estou falando sério, você tem essa possibilidade de pensar em me ajudar nas próximas semanas para ver se você gosta de ser meu técnico?' Ele falou 'peraí, vou precisar de uns dias para pensar.' Daí ele pensou uns dias e veio no meu quarto, 'lembra que você falou que queria fazer uma experiência comigo? Eu topo. Vamos fazer três ou quatro torneios pra testar, aí eu vejo se eu gosto, se você gosta como eu trabalho', e foi aí que começou tudo. Meio que por uma brincadeira que ele levou a sério (risos), mas eu também fiz a brincadeira para ver se tinha essa possibilidade de ele me treinar."

As mudanças pedidas pelo novo técnico

"Quando a gente começou a trabalhar, ele falou 'não quero mudar muita coisa no seu jogo porque isso leva tempo. Você tem 30 anos, não dá para eu ficar agregando muita coisa no seu jogo, você vai demorar muito tempo para absorver isso tudo. Então, acho que o importante é melhorar o que você já faz bem e tapar algumas arestas do seu jogo.' Mas uma coisa que ele fazia questão, que ele achava que eu precisava melhorar muito no meu jogo era a subida à rede. Ele me vê como um cara agressivo, que muitas vezes tomo a iniciativa dos pontos, mas que não consigo encurralar o adversário, subir para a rede e matar o ponto ali na frente. Ou quando faço isso, não faço com uma eficiência tão boa. Uma das coisas que ele está tentando agregar no meu jogo é essa subida à rede, não jogar tão atrás na quadra. Em alguns jogos, dependendo do adversário, eu jogo muito atrás, e ele quer que eu mude progressivamente para jogar mais dentro da quadra, tomando mais a iniciativa e não arriscando mais, mas jogando dentro da quadra."

As mudanças são mais de técnica ou de posicionamento?

"Os dois. Minha mecânica de voleio não é lá essas coisas, então ele tem me ajudado também nisso. Ele é um cara que voleia muito bem e tem me ajudado bastante nessa técnica de voleio. Nos últimos jogos, eu fiz bem até. Não sei se vocês viram os últimos jogos, de Buenos Aires, mas eu subi bastantes vezes para a rede e ganhei a maioria dos pontos. Acho que isso já a curto prazo foi positivo."

A medida da agressividade

"É difícil ser mais agressivo do que eu costumo ser. Eu sou cara que às vezes dou muitos winners, mas cometo muitos erros. É manter a agressividade, mas de maneira diferente. Em vez de ficar lá atrás, fazendo muita força para jogar ou dando porrada, é tentar encurtar o tempo do adversário entrando mais na quadra e pegar a bola um pouco mais na subida, tirar o tempo do adversário e subir para a rede."

Como aparecer nos vídeos de André Sá no Instagram ajuda sua imagem

"Não chegamos a conversar de Instagram, não (risos), mas ele é um cara que gosta de mídia social, gosta de estar envolvido nisso. Ele falou 'vou postar uns vídeos, você se importa de estar nesses vídeos?' Eu falei 'não, de maneira alguma', e é legal mostrar um pouco do nosso dia a dia. É importante que as pessoas me vejam não só dentro da quadra, mas fora, no dia a dia. Acho que são coisas que o público gosta de ver."

A partida contra Fognini

"É um cara que vai entrar favorito contra mim. É um cara com o ranking melhor, ganhou todas vezes que joguei contra ele. Mas cada jogo é uma história diferente. Vai ser o primeiro jogo no Brasil. Ele joga muito bem no saibro, é um baita atleta, mas estou jogando dentro de casa, com a torcida, estou super motivado de voltar a jogar no Brasil… Acho que estou num momento em que estou subindo de nível. Em Buenos Aires, eu consegui fazer quatro jogos, que era uma coisa que eu não conseguia fazer há muito tempo num torneio só, então estou num momento de evolução e que pode ser um jogo para mudar um pouco a história dessas coisas. Vou entrar com a tática de ser um cara agressivo, eu eu o André já sentamos e conversamos um pouco sobre o Fabio, então a gente já sabe um pouco como eu tenho que lidar com isso. Vou ter que mudar a maneira de jogar porque nas últimas quatro, não deu muito certo (risos), mas a gente tem muito claro o que eu vou ter que fazer na quadra."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.