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Saque e Voleio

Ricardo Hocevar: a sofrida e bela carreira que inspira a nova vida de coach

Alexandre Cossenza

17/11/2017 09h12

Caráter, respeito e princípios. É isso que Ricardo Hocevar responde quando alguém pergunta que tipo de atletas ele pretende formar. Depois de quase 14 temporadas completas no circuito profissional, o paulista de 32 anos troca a quadra por aquele lugarzinho na arquibancada, pertinho da área de jogo. Geograficamente, é uma mudança pequena. Na prática, porém, é uma vida nova, com a responsabilidade gigante de moldar golpes e mentes.

Para a nova profissão, Hocevar leva uma experiência que talvez não seja devidamente reconhecida por fãs de tênis no Brasil. Filho de professores de educação física, fez carreira contra as probabilidades. Despontou tarde e não teve grandes patrocínios. Fez o que pôde e conseguiu um bocado. Foi número 149 do mundo, ganhou um Challenger e 14 Futures, e jogou na Rod Laver Arena, no Australian Open, contra Lleyton Hewitt.

Hocevar tem motivos para se orgulhar e, também, se arrepender. E falamos bastante sobre isso quando sentamos para conversar no Tênis Clube de Santos, onde o paulista está como técnico de Eduardo Dischinger (e onde estou a convite do Instituto Sports, organizador do IS Open Santos, torneio da série Future).

O novo "coach" falou dos momentos felizes, tristes, prováveis e improváveis. Falou de quando precisou dormir embaixo de arquibancada para jogar um torneio e contou a série louca de eventos que terminaram com ele furando o quali do Australian Open. E, claro, falou também do centro de treinamento que vai abrir em breve com dois tenistas. Leiam e conheçam (e respeitem) um pouco mais da vida e obra de Ricardo Hocevar.

Seu primeiro torneio profissional foi em 2004. São praticamente 14 temporadas como profissional até essa decisão de trocar de função. O que pesou mais para isso?

Foi uma junção de coisas. Durante uma época, eu estava muito perto de estar no top 100. De repente, com quatro semanas bem jogadas eu poderia estar lá. Talvez até um pouquinho mais se mantivesse uma consistência de resultados. Mas por alguns motivos… Acabei jogando mal umas semanas, caí um pouco no ranking, fiquei ali entre 250, entrava entre os 200 de novo… Enfim, fiquei nesse ranking e acabei caindo. Quando eu caí, teve uma época que eu pensei em parar. Isso faz uns quatro anos. Ia ser um esforço muito grande para voltar aos torneios onde eu queria estar. Perdi patrocínio, não tinha apoio, então foi ficando difícil. Eu pensei bem, vi que não era o momento e tentei voltar nesse ranking. Aí eu estava passando por algumas dificuldades. Mudei o lugar onde eu treinava, comecei a me dedicar, a trabalhar bem de novo depois desse período que eu parei de jogo, que foi de uns três meses. Fiquei um tempo #400 com dificuldade financeira. Sem apoio, patrocínio, e custa isso, né?

Como #400 você joga Futures, qualis de Challenger…

Sim, você joga uns Challengers, às vezes pode ter uns resultados bons…

Mas o retorno financeiro… Você nunca "empata" quando está nesse ranking, né?

É. E era eu sozinho. Você não consegue estar com treinador, com equipe… Apesar de que naquele momento a gente montou uma equipe legal em São Carlos (SP), mas estava difícil. Sempre aperta daqui, aí você faz um resultado legal, investe na semana seguinte e de repente joga um pouco pressionado… Comecei a sentir dificuldade e a não jogar muito feliz. Este ano fui para a Europa, fiquei mais de quatro meses lá jogando Interclubes e torneios…

Não quero saber quanto você ganha, mas eu não tenho ideia… As pessoas tiram 50 mil, 10 mil, 5 mil euros?

Depende muito do ranking que você está. Eles pagam por ranking, depende tambem do clube, às vezes se você já teve bons resultados eles te pagam mais. Tem um X por jogo, uma bonificação por vitória e pagam suas despesas durante o fim de semana. Você pode jogar até sete partidas na Alemanha, na Itália, França e outros lugares… A galera joga mais em Alemanha, Itália e Suíça, mas Alemanha e Itália são mais fortes.

Você ganha mais num Interclubes do que se jogasse Challenger o ano inteiro então?

Proporcionalmente, sim. Você joga durante um, dois meses e ganha legal. De repente, dependendo do ranking, você ganha de 500, 600 euros até 5 mil euros por jogos. Se for top 100, acho que é até mais. Depende dos contatos, se você tem passaporte europeu ou não, de algumas coisas. Aí a negociação é por clube. É tipo negociação no futebol. Tem um empresário, alguém que te ajuda nesses contatos e recebe uma porcentagem disso muitas vezes, e você recebe boas propostas. É mais ou menos nessa linha.

Não teve lesão que ajudou a acelerar essa decisão de parar?

Eu tive um problema no tendão de aquiles quando eu voltei da Europa, mas acabei nem comentando. Fiquei uma semana sem treinar, estava jogando bem, acho que era um ano que eu poderia, de repente, terminar em 300, 200 e alguma coisa pelo ritmo que eu estava vindo. Só que você começa a pesar o quanto que vale a pena estar 200, 300 de novo… Eu já estive lá, sei como é que é. Não sei o quanto eu poderia chegar longe de novo sem ter patrocínio. Comecei a pensar no futuro, e sempre tive vontade de trabalhar com tênis, virar treinador, começar a passar coisas minhas. Coisas que eu não gostei durante a minha carreira, onde eu trabalhei; coisas que eu posso passar. Vai entrar um pouco a minha maneira de ver tênis hoje. Isso começou a pesar e falei: "Vamos começar? Acho que está chegando a hora, né?" Conversei com pessoas próximas, como era, onde eu teria espaço… Foi mais ou menos assim.

A diminuição do número de torneios no Brasil contribuiu para você parar? Ou não teria feito diferença nenhuma?

Talvez. Pode ser.

Pergunto porque há menos de cinco anos, o Brasil chegou a ter mais de 30 Futures e dez Challengers por temporada.

Se tivesse torneios aqui, eu ficaria mais perto, com um acompanhamento, seria mais barato… Um monte de coisas para você seguir. Pode ser que eu tivesse somado mais ponto, teria um ranking mais perto do meu objetivo. Pode ser que sim. Um dos motivos é esse, sim.

É uma pergunta clichê, mas eu preciso fazer. Do que você se orgulha mais durante a carreira?

Acho que de como eu comecei, de onde eu vim e onde eu cheguei. Eu nunca fui um juvenil top. Até os meus 16, 17, eu jogava legal, poderia beliscar uma semifinal de um Brasileiro, que era diferente de hoje, mas eu não era um jogador de muita expressão. Eu tive até um probleminha com 15 anos, que eu fiz uma cirurgia aqui (aponta para o pescoço), tive que ficar parado quase um ano, e ali, quando eu voltei, voltei com mais garra, vontade e comecei a ter uns resultados. Lembro que fiz uma semifinal no Brasil que perdi do Rogerinho, comecei a ganhar torneio brasileiro… Se fosse colocar na balança onde eu estava e aonde eu poderia chegar… Na minha idade, por exemplo, tinha o Kirche, que era top 10 do mundo e ganhava de Murray e Almagro na época. Eu estava ali tentando ganhar brasileiro com quase 18. Lembro que eu tive convites de universidades americanas com bolsa, e eu não queria. Eu queria jogar tênis profissional. Queria seguir, de repente, os passos do meu tio (Marcos Hocevar, que foi #30 do mundo na década de 1980). Comecei a treinar e, querendo ou não, cheguei a 140 do mundo saindo de um cara que não jogava legal, não tinha expressão no Brasil, muito menos no mundo, e bati de frente com outros que jogavam bem na minha idade. Então isso foi muito legal. Quando eu paro e penso… Pô, cara, eu fui meio louco. Se botar na balança, é difícil fazer isso, né?

Hoje, é o perfil de tenista que vai para a universidade. A impressão que eu tenho é que hoje está mais fácil esse caminho, até porque existem empresas que facilitam o processo. Mas, com certeza, o que você fez não é o padrão no tênis.

Não, não é. Eu lembro que algumas pessoas me citavam de exemplo para uns meninos que não jogavam tão bem. Fiquei sabendo quase agora que falavam "o Hocevar chegou a isso, fez aquilo", e eu fiz meu primeiro ponto na ATP com quase 20 anos. Se você olhar, não tem sentido. Não, não. Aqui tem molecada com 16, 17 anos fazendo o primeiro ponto. Já estão num caminho muito mais fácil de seguir. Eu não estava. Fui meio louco, determinado, guerreiro e comecei a ir, cara. Também não vim de uma família que tinha condição financeira.

Isso e um negócio bom de dizer porque as pessoas falam "ele vem de família de tenistas" e automaticamente pensam que você sempre teve dinheiro.

Não! Meus dois pais são professores de educação física. Sempre foi tudo contado na minha casa. Eu tenho uma irmã e um irmão. São dois professores de educação física que cuidam de três filhos. É só fazer a conta. Como é que o filho vai jogar tênis profissional? Pagar treinador, pagar viagem… A nossa geração teve um pouco disso. Eu, Caio Zampieri, Rogerinho, Daniel Silva, acho até que quem passou mais dificuldade foi o Julinho Silva. Essa geração eu olho e… Não tem por que um cara dizer "eu não tenho condição". Eu digo "tem, cara! Se você acreditar, você pode!" É o que eu bato de frente com os moleques, os pais… Acho que é possível desde que você queira. Acho que tudo é possível. Um cara que fez ponto com quase 20 e chegou muito perto de entrar entre os 100, teve resultados legais… Fui um cara que não joguei um tênis absurdo, mas foi legal! Hoje, eu consigo entender muito de tênis, ganhei de caras que são muito bons… Acho que é isso o resumo.

Vou voltar um pouco na sua resposta porque fiquei curioso. O que você teve no pescoço que precisou operar?

Foi um momento difícil. O meu pai (Jorge Hocevar) teve um problema de saúde quando eu tinha 14 ou 15 anos. Ele teve câncer. Foi uma situação muito difícil na minha casa. Ele se recuperou, graças a deus. E um ano depois que ele teve, eu tive um nódulo aqui no pescoço. Fui fazer exames e ninguém descobria o que era. Existia o risco de ser (câncer) também, então fiquei uns seis, sete meses procurando saber. Vários médicos disseram que poderia ser uma doença parecida com leucemia, mas hoje eu vejo que não precisava ter passado por aquilo. E foi um momento que acabou sendo decisivo. A partir dali, com a dificuldade que eu vi meu pai passar, o que eu tive que parar… Acho que ali deu um gás também. Parece que foi um combo para eu…. Mas deu tudo certo, não foi nada de mais.

Outra pergunta-clichê, mas que eu preciso fazer. Do que você se arrepende? E não vale dizer "nada", tá? (risos) Tem sempre uma coisinha, por menor que seja…

Tem, tem. Acho que eu acabei fazendo escolhas erradas. Assim, relacionado a bastante coisa. Um pouco o calendário, um pouco lugares de treino, o que eu precisava fazer fora da quadra… É um assunto bem complexo, mas eu acabei complicando um pouco mais o que não deveria ser complicado. Poderia ter sido mais fácil, tranquilo hoje, se eu pudesse voltar e fazer diferente, mas vou te falar a verdade: esse "se", "se"…

Faz parte do aprendizado.

É. Pô, eu cheguei perto ali. Em alguns momentos, não consegui evoluir o quanto eu precisava melhorar meus buracos como jogador de tênis. Não posso ser hipócrita e falar que poderia ter sido isso, aquilo… Eu precisava acrescentar coisas no meu jogo. Talvez em algum momento eu tivesse precisado fazer um trabalho diferente. Sempre fui um cara intenso jogando, com bom saque, uma boa direita, mas a esquerda não era tão boa, então precisava jogar de uma maneira… Principalmente num certo nível, esses buracos aparecem. Faltaram algumas coisinhas relacionadas a isso, mas faz parte.

E são coisas que você, agora, leva para a carreira de técnico. Quem for treinado por você vai ouvir histórias de alguém experiente e vai poder fazer suas próprias escolhas, mas depois de absorver a experiência de um cara com quase 15 anos de profissional. Isso é bem legal. Mas voltando às lembranças, qual o momento mais feliz da carreira?

Sem dúvida, foi o Australian Open, né? Não tem como falar que nem foi. Teve outros momentos, mas aquilo lá é o auge. Jogar com um cara que… Engraçado que quando eu era garoto e batia bola no paredão, ia no clube jogar, eu imitava o Lleyton Hewitt. Eu sempre usei boné para trás por causa dele. Tinha um joguinho de videogame que eu adorava que eu só jogava com ele. E eu fui lá em 2010, passei o quali e joguei com o cara, na Austrália, na quadra central do Australian Open.

Eu lembro porque eu fiz essa matéria na época, falei com você por telefone e estou com a matéria aberta no laptop aqui, agora. Mas você lembra da história toda dessa viagem?

Pô, lógico!

Então conta de novo porque é legal ouvir e muita gente que vai ler não conhece ou não lembra de tudo que aconteceu.

Eu lembro que fui jogar o Villa-Lobos (Aberto de São Paulo, forte torneio Challenger realizado quase sempre na primeira semana do ano, frequentemente com jogos nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro), peguei um jogo duro na primeira rodada, que foi o (Eduardo) Schwank. Eu estava jogando bem e perdi por 7/6 no terceiro. Fiquei muito puto porque treinei demais na pré-temporada. Com Bellucci, Thiago Alves, Ghem, a gente fez um esquema legal, o João Zwetsch estava.

Era um torneio forte na época!

Fechava fraco às vezes porque era Ano Novo, mas os principais nomes eram sempre pedrada. Cañas, Ricardinho Mello, Chela, Berlocq, Saretta, era fortíssimo. Até o Fino jogou lá. Aí saí de lá, fiquei bravo e tal, e estava inscrito na Austrália, mas não tinha comprado passagem porque se eu fosse bem no Villa-Lobos, não dava tempo de chegar na Austrália. E na época, se eu chegasse e perdesse, talvez ia perder dinheiro. Não valia a pena. Falei "vou pra Austrália ou não vou?", aí "pum", comprei um voo. É um grand slam, cara. 'Vambora.' Aí, quando fui embarcar, a mulher falou "desculpa, o voo daqui de São Paulo atrasou e você vai perder a conexão para a Austrália, você não vai conseguir embarcar." Falei "como assim? Preciso embarcar hoje!" porque tinha o fuso horário, eu precisava embarcar. Ela falou "tem um voo amanhã, a gente vai te colocar e tudo certo". Eu falei "amanhã não posso, vou chegar no horário do jogo!". Aí desencanei. Falei "vou chegar lá, treinar e fazer outro calendário por aqui".

E ia embora do aeroporto…

Saindo, até liguei pra alguém, não sei pra quem, mas na volta, passei no balcão e perguntei "moça, qual é o horário amanhã?" Ela falou "você é o Ricardo Hocevar? Peraí que a gente te realocou em outro voo, está saindo agora, é última chamada!" Como assim? "É um voo da British Airways, que vai dar conexão para você, espera aí." Saí correndo, entrei no avião, consegui chegar na Austrália. Quando cheguei lá, as malas não chegaram por causa da conexão, estava cansado pra caramba. Lembro que fiquei num hotel afastado porque nos hotéis oficiais era "salgado" o negócio. Estava longe, sozinho, não foi nenhum brasileiro, fui lá treinar e estava muito calor, uns 42 ou 43 graus…

Você me falou 47 na época. (risos)

Quarenta e sete? Pode ser então. Eu lembro que entrei e era inacreditável. Eu lembro que estava perguntando se eles cancelavam jogo naquela temperatura. Aí entrei lá, fui jogar o quali, ganhei de um russo na primeira, aí na segunda rodada estava perdendo do Mathias Bachinger, um alemão. Eu sei que estava 0/30, ele ia fazer 5/2, e comecei a jogar pra caralho… Ace, ace, winner e um puta de um voleio. Falei "caraca". O cara de novo teve 30/0 para fazer 5/3, virei um jogo perdido e ganhei por 7/5. Aí fui para a útima do quali . Joguei com um irlandês e também estava perdendo. Comecei a jogar pra caralho de novo, fui sacar para o jogo e lembro muito bem dessa imagem: estavam o Nicolás Lapentti, o treinador dele, Bellucci, André Sá, Marcos Daniel… Juntou uns brasileiros e, quando eu olhei, estava todo mundo em pé batendo palma. Eu vi aquela imagem e falei "caralho, vamo aí, né?" É difícil você encontrar todos brasileiros assim, juntos. Mas estavam todos lá. Eu lembro do André Sá fazendo assim (Hocevar mostra os dois punhos cerrados). Porra, falei "beleza, vou sacar para o jogo". Só sei que fiz três aces e um winner de direita. Ganhei o jogo. Normalmente, você sente (a pressão), né? Mas foi pum, pum, pum, pum. Passei o quali.

E na chave, veio o Hewitt…

Eu dei um abraço no Nicolás Lapentti, e ele falou assim: "você quer a notícia boa ou a ruim primeiro? Acabei de sortear a chave" (risos) "Não sei, cara. A ruim!" Ele falou "você joga com o Hewitt". Eu falei "porra… beleza. E a boa?" "Você joga na central." E fui jogar contra o Hewitt na central lá. É isso. Muito louco, né?

E o momento mais difícil da carreira? Foi essa parte que você comentou, quando caiu para 400 e ficou um tempo sem jogar?

Não. O mais difícil foi quando eu comecei. Pela condição financeira e por não ter ponto. Todo mundo que jogava já estava voando, com ranking muito bom, e eu estava no começo. Tinha universidade para escolher e tinha o "acreditar em mim mesmo". O quanto você vai lá, perde, perde, perde e pensa "será que isso é para mim?" Esse começo foi o mais difícil. Com certeza. Eu jogava torneios de grana para poder jogar o circuito. Lembro que eu fui num torneio em Pelotas, no Rio Grande do Sul. O campeão ganhava 5 mil reais, mas era uma boa grana porque o câmbio era quase igual (ao dólar). Fui lá, o torneio estava uma pedrada. Tinha Engel, Ghem, Portal, Guidolin… Todo mundo com ranking 500 ou menos, mas eu fui tentar. Eu não tinha ponto. Eu dormi debaixo da arquibancada do ginásio, no alojamento que tinha, e precisava ser campeão para ir para o Chile. Aí eu fui lá e ganhei o torneio. Essas coisas aí, se parar pra pensar, é duro. Duro. Duro. Como se consegue começar uma carreira de tênis assim? Foi um dos momentos mais complicados.

Quem fez as primeiras propostas de trabalho para a vida de técnico?

Antes de começar a pensar nisso, eu estava trabalhando e treinando em São José dos Campos, com um grande amigo meu, que é o Vitor Pinheiro, e o Marcelo Brandão. Eles têm uma equipe lá. Quando eu decidi que ia parar, começaram as conversas com eles, e a gente começou a pensar em algo junto. A partir de dezembro, estou abrindo uma nova equipe em São José dos Campos. Eu, Vitor Pinheiro e mais um outro nome que eu não posso falar ainda por questões profissionais. Só a partir de dezembro, mas é um nome fortíssimo que se eu falasse agora, você ia falar "porra!". É ele mesmo. Infelizmente, é um mistério, mas esse é o novo centro de treinamento que a gente vai abrir em dezembro. Quem quiser fazer pré-temporada em janeiro, dezembro, vai estar aberta. Já tem um pessoal procurando a gente, tem uma equipe lá que já joga bem legal…. Vamos fazer um novo trabalho. Vamos colocar toda esse energia na formação profissional. Essa é a nossa ideia.

Como é o tenista perfeito para o coach Hocevar? Se você pegar um garoto do zero, como você quer que ele seja em quadra?

O mais importante hoje, para mim, o que eu quero, junto com os outros dois caras que estou abrindo o CT… O mais importante é a formação do caráter. Às vezes você vê o cara aqui, jogando, e ele não tem o mínimo de respeito. Ele quer ganhar acima de tudo. O mais importante, lá na frente, não é isso. É o cara ser educado, que respeita. Que saiba competir, mas que tenha princípios. Essa é a minha primeira ideia. Ele tem que dar valor a isso aqui, ser um cara disciplinado… Para ele aprender coisas não só para o tênis, mas para a vida. Eu aprendi assim. Pela minha família, pelo que meu pais e meus tios me passaram. Foram caras corretos. Óbvio que a gente comete erros, mas sempre tem um cara para te puxar a orelha e fala "não é esse o caminho". Essa é a primeira ideia. Depois, tem a parte da competição. Gosto de um cara intenso, que está ligado a essa energia na quadra, com intensidade, como eu sempre joguei e como sempre gostei de ver. Mas isso também vai de acordo com cada competidor. Tem cara que não joga assim e joga tênis pra caramba, que é o caso do Gilles Simon, que foi top 10 durante anos. Aí vai da capacidade do treinador de trabalhar com cada tipo de jogador.

E que característica seu jogador não pode ter de jeito nenhum?

Ser mal educado, não ter caráter, não ter respeito. Isso, para mim, é inadmissível. Pode acontecer de o cara surtar no jogo e brigar, mas o cara não ter princípios… Um mínimo de respeito com o adversários, com as pessoas em volta, com a família, com quem esteja te apoiando… Isso, para mim, é inadmissível. Não dá.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.