Topo

Saque e Voleio

Del Potro e o backhand que abateu Roger Federer

Alexandre Cossenza

07/09/2017 12h43

Duas noites depois do memorável triunfo sobre Dominic Thiem, Juan Martín del Potro apareceu na sessão noturna do Estádio Arthur Ashe para protagonizar outra noite brilhante. O campeão do US Open de 2009 voltou a superar a vítima da decisão de oito anos atrás. Desta vez, sem o drama dos cinco sets, mas com uma arma subestimada. Não, na vitória por 7/5, 3/6, 7/6(8) e 6/4 não foi o feroz forehand que fez faíscas.

A atuação do argentino merece destaque porque se não foi perfeita do início ao fim, foi inteligente e eficiente, e Del Potro fez muito mais do que mostrar por que seu forehand é o mais temido do circuito mundial hoje em dia. Sim, a direita sempre será o ganha pão do argentino, mas o jogo contra Federer foi vencido com o backhand, o golpe supostamente vulnerável que o suíço não conseguiu explorar, muito menos anular.

O atual campeão de Wimbledon tentou um número de variações. Tentou subir à rede na esquerda de Del Potro, mas tomou seguidas passadas. Tentou longas trocas de backhand do fundo e até ganhou alguns pontos, mas não com a consistência que precisava. Tentou saque-e-voleio, sempre buscando o backhand do rival, mas levou mais e mais passadas, inclusive em break points. Tentou curtinhas e levou lobs ou perdeu disputas na rede. Para tudo que Federer atirou, Del Potro teve uma resposta.

A base disso tudo foi uma esquerda sólida, que não agride tanto, mas que se sustenta e joga a armadilha. Acontece desde o ano passado, quando o argentino voltou ao circuito usando quase só slices e se posicionando o tempo quase inteiro no lado ímpar da quadra. O golpe não lhe ganhava pontos, mas mantinha os rivais no fundo e os desafiava a gerar potência por conta própria e atacar a direita, aquele espaço da quadra propositalmente desguarnecido. Quem ousava correr o risco invariavelmente levava uma marretada na bola seguinte. Foi assim com Djokovic e Nadal nos Jogos Olímpicos, com Murray na Copa Davis e com Wawrinka em Wimbledon.

Na noite desta quarta-feira, o backhand foi muito exigido. É claro que a direita estava lá, com sua eficiência de sempre, quase arrancando a cabeça de um suíço que ousou subir à rede daquele lado (veja no vídeo acima). Mas foi a esquerda que ganhou o jogo de xadrez. Era onde Federer contava ganhar um número de pontos que não conseguiu. É o golpe que vai precisar funcionar como relógio contra o forehand cruzado de Rafael Nadal, só que a essa altura, ninguém mais duvida do argentino…

Nas casas de apostas

Antes do primeiro dia do US Open, Juan Martín del Potro estava longe de figurar entre os principais favoritos ao título do US Open. A maioria das casas de apostas pagava por volta de 30 para 1 no argentino. Isso significa que uma aposta de US$ 10 renderia US$ 300 em caso de conquista. Hoje, isso mudou. Classificado para as semifinais, Del Potro paga só 4 para 1. Atrás de Nadal (1,55 para 1 de média), mas à frente de Kevin Anderson (6,5) e Pablo Carreño Busta (16).

E Roger Federer?

Embora não seja corriqueiro ver Federer eliminado nas quartas de final de um slam, parece injusto dizer que foi um torneio ruim, ainda mais considerando a lesão nas costas que o fez ficar sem treinar na semana anterior ao US Open. Não fosse uma chave suave (superou o inexperiente Frances Tiafoe, um cansado Mikhail Youzhny e os fregueses Feliciano López e Philipp Kohlschreiber), poderia ter caído antes. No primeiro duelo realmente desafiador, acabou derrubado.

Não foi uma atuação ruim-ruim do suíço, do começo ao fim, mas foi uma noite com erros bizarros aqui e ali – alguns deles, em pontos importantíssimos. O jogo teve curtinhas horrorosas, teve dupla falta em break point, teve uma esquerda pavorosa em um set point, um voleio errado por mais de metro em outro, um smash errado para ceder break point no quarto set e, por fim, le pièce de résistance da noite: com Del Potro sacando em 5/4 e 30/30, Federer subiu à rede e mandou um voleio a mais de dois metros da linha de fundo (veja no vídeo acima).

Ainda assim, é preciso lembrar que o suíço teve quatro set points no tie-break do terceiro set. Tivesse convertido um, a história poderia ter tido páginas bastante diferentes a partir dali. Não foi o caso, e agora Federer vai descansar e se recuperar para sua Laver Cup. E sim, ele ainda terá chances de tomar a liderança do ranking até o fim da temporada. É esperar para ver.

Rafael Nadal e a frase do torneio

Depois de superar um tenso e errático Andrey Rublev na tarde de quarta, o espanhol foi seguidamente questionado sobre o possível duelo com Federer. O US Open é o único dos slams que não viu os dois se enfrentarem, e um primeiro encontro no Estádio Arthur Ashe significaria também um confronto direto pelo número 1. Após várias das questões e vários elogios feitos ao suíço, o espanhol decidiu brincar e afirmou: "não quero que pareça que eu vou ser seu namorado, né? Não queremos falar esse tipo de coisa antes de uma partida importante". A sala foi abaixo.

A derrota de Federer significou também que Nadal sairá de Nova York como número 1. A questão agora é ver qual o tamanho dessa vantagem. Por enquanto, o espanhol tem 680 pontos de frente. Se for campeão, ampliará para 1.960.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.