Topo

Saque e Voleio

US Open 2017: da briga insana pelo #1 ao 'convite' para enfrentar Halep

Alexandre Cossenza

25/08/2017 20h10

O último torneio do grand slam da temporada 2017 revelou as chaves nesta sexta-feira já com uma bomba: Simona Halep, número 2 do mundo e candidatíssima a sair de Nova York como líder do ranking, vai encarar a convidada Maria Sharapova logo na primeira rodada. "Boom", como diria Chazz Michael Michaels.

Só que os atrativos da chave feminina deste US Open vão muito além de Halep x Sharapova. Até porque a romena faz parte de uma briga com outras sete tenistas. Sim, são oito mulheres com possibilidades em Flushing Meadows. Este resumaço do torneio traz todos os cenários além da tradicional análise das chaves, das cotações nas casas de apostas, dicas do que ver na primeira rodada e tudo mais. É só rolar a página.

A briga pelo número 1

Comecemos pelo mais importante, certo? Karolina Pliskova, atual número 1 do mundo, foi vice-campeã em Nova York ano ano passado, então tem muitos pontos a defender. Por isso, ela começa a corrida neste US Open atrás de Halep, Muguruza e Svitolina. O gráfico abaixo mostra quem precisa somar quanto para chegar lá.

Pra Wozniacki, Konta, Kuznetsova e Venus, só o título interessa. E, mesmo assim, os cenários são tantos que nem vale a pena citar um por um neste momento. Durante a primeira semana, o melhor mesmo é ficar de olho no quadro acima.

A melhor história

Podia ser – e já foi – uma final, mas é só a primeira rodada, e Halep x Sharapova já começa com contornos dramáticos por uma série de motivos. O primeiro deles, claro, é a tentativa da romena de chegar ao topo. Ela já esteve três vezes a uma vitória do número 1, mas saiu derrotada em Roland Garros (Ostapenko), Wimbledon (Konta) e Cincinnati (Muguruza). A expectativa é (ou era?) ainda maior em Nova York, justamente onde ela já começa com vantagem sobre Muguruza, Svitolina e Pliskova. Uma derrota na estreia seria um balde gelado em Halep.

Sharapova, por sua vez, vai fazer seu primeiro jogo em um slam desde o Australian Open de 2016. Foi lá que ela acabou flagrada em um exame antidoping. Punida, a russa teve negados seus pedidos de wild card para a chave principal em Roland Garros e Wimbledon. Em Londres, ela poderia jogar o quali, mas desistiu por causa de uma lesão. Mais tarde, Sharapova desistiu antes da segunda rodada em Stanford por causa de um problema no braço esquerdo. A mesma lesão fez a russa abandonar Toronto e Cincinnati. Sua forma no US Open é uma incógnita. Seu ranking? Apenas #147, daí o "convite" necessário para ela estar na chave.

Difícil prever uma vencedora aqui. Halep tem a seu lado a consistência e a boa forma que a levaram até a final em Cincy. Sharapova tem o peso de bola e o histórico favorável de 6 a 0 sobre a romena. O que dá para dizer ao certo é que quem avançar terá um quadrante acessível pela frente. O caminho prevê jogos contra Babos/Golubic na segunda rodada, Davis na terceira e Sevastova/Peng nas oitavas e Konta/Cibulkova/Konjuh/Goerges nas quartas.

A campeã do sorteio

Ninguém tem caminho tão descomplicado quanto Karolina Pliskova, a número 1 e atual vice-campeã do US Open. Seus maiores obstáculos antes das semifinais parecem ser Kristina Mladenovic, nas oitavas, e Kuznetsova (ou Radwanska ou Vandeweghe ou Kontaveit) nas quartas. A francesa, no entanto, vem de quatro derrotas seguidas, enquanto a russa fez quatro partidas desde Wimbledon e perdeu duas (Bellis e Muguruza). Não é ruim, mas está longe de ser a melhor das campanhas pré-slam.

Talvez Radwanska aproveite o embalo de New Haven (está nas semifinais enquanto escrevo este post) e vá longe, ou talvez Vandeweghe, eliminada na estreia em Tonroto e Cincinnati, encontre ritmo com seus bons saques. Hoje, porém, é Pliskova, quadrifinalista em Toronto e semi em Cincy, que aparece como grande favorita pelo menos nesse quadrante. E para quem não entendeu o tweet acima, ela vai doar para um hospital em Praga 200 euros para cada ace que disparar no US Open.

As outras candidatas

Garbiñe Muguruza, Caroline Wozniacki e Venus Williams estão na chave de baixo, no quadrante mais indigesto deste US Open. A espanhola pode ter Petra Kvitova pela frente já nas oitavas, mesma fase em que Wozniacki e Venus vão colidir se não tombarem antes. Para a dinamarquesa, a vida é dura, com um duelo de segunda rodada contra Makarova/Barthel, além de Lucic-Baroni, Puig ou Suárez Navarro na terceira fase. O esperado é que a espanhola avance aqui e chegue à semi, mas não será o fim do mundo se ela ficar pelo caminho.

Também na chave de baixo, mas em outra seção, está Johanna Konta, a cabeça 7. Seu caminho nem é dos piores e inclui estreia contra Krunic, depois Tomljanovic/Larsson e um potencial duelo de terceira rodada com Goerges. Seu primeiro grande desafio pode vir nas oitavas, diante de Cibulkova ou Konjuh (ou ainda Stephens, Vinci ou Barty). Nas quartas, aí, sim, deve aparecer a vencedora de Halep x Sharapova. Konta é favorta para pelo menos chegar até esse jogão.

Kuznetsova, como já citado, pode enfrentar Pliskova nas quartas, mas antes pode precisar enfrentar Kontaveit/Safarova/Bellis na terceira rodada e Radwanska/Vandeweghe nas oitavas. Não é a chave dos sonhos de ninguém. E, por fim, Kerber e Svitolina estão no quadrante de baixo da chave de cima – ou seja, a semifinal seria contra a vencedora da seção de Pliskova.

A alemã, atual campeã do US Open, estreia contra Naomi Osaka e pode esbarrar com Ostapenko nas oitavas, antes de encarar Svitolina nas quartas. A ucraniana, por sua vez, pode duelar com Bouchard na segunda fase, Gavrilova na terceira e Keys/Vesnina nas oitavas. Campeã em Toronto, Svitolina deve ser vista como favorita de sua seção, já que Kerber pouco jogou antes do US Open. Perdeu na segunda rodada em Toronto (Stephens) e na estreia em Cincy (Makarova). Não é exatamente o melhor dos aquecimentos para um slam.

A brasileira

O Brasil, que não teve representantes no qualifying (tem quem ache isso bom!), chega ao torneio apenas com Bia Haddad Maia. A paulista, atual #71 do mundo, vai estrear contra a croata Donna Vekic, #52. Não foi um sorteio ruim para Bia, mas Vekic entrará em quadra com mais ritmo, já que jogou bastante em quadras duras recentemente. Furou os qualis de Toronto e Cincinnati, somando nove jogos de preparação.

Bia, por sua vez, furou o quali de Cincy, onde também venceu na estreia antes de perder por 6/2 e 6/0 para Muguruza, e foi derrotada na primeira rodada do quali em New Haven. No fim das contas, fez três jogos a menos que Vekic. A favor da brasileira, o confronto anterior. Ela duelou com a croata no quali de Praga (saibro), também este ano, e venceu por 6/3 no terceiro set.

Se vencer, Bia vai encarar Shuai Peng ou Amandine Hesse na sequência e, quem sabe, pode até fazer uma terceira rodada contra Sevastova/Witthoeft/Begu/Kozlova. Se chegar às oitavas, pode encarar a vencedora de Halep x Sharapova.

Os melhores jogos na primeira rodada

Tem bastante coisa interessante além do óbvio Halep x Sharapova, quer ver? Kerber encara Osaka, Kvitova joga contra Jankovic, Stephens pega Vinci, Kontaveit joga contra Safarova e Mladenovic joga contra Niculescu. Precisa de mais?

As tenistas mais perigosas que ninguém está olhando

Com o equilíbrio no bolo na WTA, é difícil apontar alguém, mas consigo pensar em dois nomes interessantes. Um é Lucie Safarova, que não é cabeça de chave e não teve lá um primeiro semestre tão animador. Ainda assim, a tcheca fez quartas em Toronto, onde perdeu para Stephens, sua algoz também em Cincinnati. A estreia contra Kontaveit não é das mais simples, mas talvez seja uma chance interessante. Se vencer, Safarova entra no caminho da cabeça de chave e pega Hibino/Bellis na sequência e possivelmente Kuznetsova na terceira rodada. Ninguém está dizendo que é fácil, mas não dá para descartar totalmente a possibilidade.

O segundo nome é Ashleigh Barty, que vem ensaiando algo grande desde a temporada de grama. No pós-Wimbledon, furou os qualis de Toronto e Cincy e só perdeu para Muguruza e Wozniacki. Derrubou gente como Cirstea, Vesnina, Flipkens, Puig e Venus, o que não é pouco. A chave do US Open é que não ajuda. A australiana estreia contra Ana Konjuh, cabeça 21. Se passar, Barty pega Sasnovic/Boserup e, quem sabe, Cibulkova/Stephens/Vinci na sequência. O mais provável é que ela fique pelo caminho, mas Barty vai dar trabalho.

As tenistas mais perigosas que todos estão olhando

US Open, Nova York, imprensa americana em peso, torcida empurrando… É lógico que todos olhos vão estar nas tenistas na casa, ainda mais sem Serena Williams. Para o público, a substituta imediata deve ser Venus, a irmã mais velha, cabeça 9 e com chances de se tornar número 1. Já pensou que história incrível se acontece?

Maaaas a torcida americana tem outras tenistas com chances interessantes. Madison Keys, vindo de título Stanford e oitavas em Cincy (perdeu para a campeã Muguruza), está num quadrante interessante, onde ela é favorita para navegar bem até pelo menos as oitavas, quando enfrentaria Svitolina. Uma vitória da americana aqui não é nada impossível do mesmo jeito que não seria impossível outra sobre Kerber ou Ostapenko nas oitavas. Se o jogo teimoso de Keys estiver funcionando e as pancadas estiverem entrando, quem sabe?

Vale ficar de olho também em Sloane Stephens, semifinalista em Toronto e Cincy. Em uma chave ingrata, a americana precisaria bater Vinci na estreia e Cibulkova/Cepelova na segunda rodada para chegar a um duelo com Konjuh/Barty na terceira fase. E depois Konta nas oitavas. E depois Halep/Sharapova nas quartas. Difícil? Bastante. Mas a gente já viu coisas mais estranhas acontecerem em slams, né? Acompanhemos.

A grande ausência

É a história mais triste do pré-US Open. Em uma batalha judicial pela guarda do filho, Victoria Azarenka não pode tirar o pequeno Leo do estado da Califórnia. Como não entrou em acordo com o pai (Vika se ofereceu para pagar a viagem e a hospedagem dele em Nova York durante o US Open), a bielorrussa não quis se afastar do filho e ficará fora do último slam da temporada.

Onde ver

SporTV e ESPN dividem os direitos de transmissão do torneio. Como sempre, o canal da Disney mostra o evento em dois canais e ainda encaixa o ótimo programa diário "Pelas Quadras" entre as sessões diurna e noturna. O SporTV costuma usar apenas um canal, mantendo o velho padrão de transmissão que usa há 20 anos.

Nas casas de apostas

A campeã de Wimbledon e, mais recentemente, de Cincinnati, Garbiñe Muguruza, é a mais cotada para levantar o troféu do US Open segundo as casas de apostas. Logo atrás vêm Karolina Pliskova, a número 1 do mundo, Johanna Konta, Simona Halep e Elina Svitolina. Sharapova aparece em oitavo, atrás ainda de Madison Keys e Angelique Kerber, mas à frente Venus, Wozniacki, Ostapenko, Kvitova e Vandeweghe.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.