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Petra Kvitova: muito mais do que tênis

Alexandre Cossenza

26/06/2017 11h26

Petra Kvitova teve muitas linhas dedicadas neste blog antes e durante a primeira semana de Roland Garros, mas nunca é demais lembrar, até porque a cena deste domingo, com a tcheca levantando um troféu no WTA de Birmingham, é daqueles momentos em que o esporte nos lembra que é feito por muito mais que vitórias e derrotas, winners e erros não forçados ou pontos somados e computados em uma lista.

Milhares de horas de treino, anos de sonhos, um currículo cheio de títulos… Tudo tão incrível, tudo testemunha da força de atletas geniais e, ao mesmo tempo, tudo tão frágil. Kvitova quase viu o fim da linha seis meses atrás, quando foi assaltada e atacada. Ao tentar se defender, terminou com uma lesão séria em um tendão da mão esquerda. Segundo os médicos, a chance de voltar a jogar tênis profissional não era das maiores.

Ela teve todos os cinco dedos da mão esquerda lesionados – dois deles sofreram dados nos nervos. Seu cirurgião, Radek Kebrle, afirmou que Kvitova correu riscos cirúrgicos (algo sempre pode dar errado), riscos de infecção e de cicatrização da pele, e risco da ruptura de tendões nas primeiras oito semanas de fisioterapia. Com uma mistura de sorte e competência (dela e da equipe que a tratou), nada deu errado. A tcheca começou a fisioterapia no segundo dia após a operação e fez duas sessões por dia já na primeira semana, movimentando todos os dedos.

O único erro de Kvitova veio em Paris. Ao ser eliminada por Bethanie Mattek-Sands, a bicampeã de Wimbledon disse: "O conto de fadas acabou, e as próximas semanas serão de trabalho como sempre." Não, Petra. Você trabalhou, mas ainda faltava escrever algumas páginas desse conto de fadas. E elas apareceram para todo mundo ler – e sorrir e chorar e comemorar – em Birmingham.

Após o título, que veio com vitória sobre Tereza Smitkova (6/2 e 6/3), Naomi Broady (6/2 e 6/2), Kristina Mladenovic (6/4 e 7/6-5), Lucie Safarova (6/1, 1/0 e abandono) e Ashleigh Barty (4/6, 6/3 e 6/2), Kvitova lembrou: "Passei por um período muito difícil na minha vida e não era pelo tênis, mas para conseguir voltar saudável e viva, movimentando meus dedos devidamente e tudo mais. Isto é algo claramente especial. É um bônus ter minha vida e minha carreira e tudo."

"É por isso que lutei tanto para voltar e jogar tênis. Sempre disse que não estou aqui só para jogar tênis. Estou aqui para jogar meu melhor e ganhar troféus, como hoje. Então tenho que dizer que estou orgulhosa do que fiz hoje."

Não que a essa altura faça tanta diferença, mas com o título Kvitova sobe para a 12ª posição no ranking mundial. E agora, a uma semana do começo do Torneio de Wimbledon, a tcheca é a principal favorita ao título em várias casas de apostas. Em algumas, lidera isolada. Em outras, divide a ponta com sua compatriota Karolina Pliskova. Mas, com todo esse contexto sobre o que Kvitova viveu nos últimos seis meses, quem precisa se importar com esses números todos, né?

Brasileiros dominando a grama

Dois brasileiros, quatro torneios na grama, quatro títulos. É assim o momento do circuito mundial nas duplas, com Bruno Soares, Marcelo Melo e seus respectivos parceiros dominando. Soares e Jamie Murray foram campeões no ATP 250 de Stuttgart e, em seguida, no ATP 500 de Queen's. Melo e Lukasz Kubot também ganharam um 250 e um 500. Primeiro, triunfaram em 's-Hertogenbosch; depois, em Halle.

Outra notícia boa é que Melo e Kubot devem ser os cabeças 3 em Wimbledon, enquanto Soares e Murray serão os cabeças 4. Caso isso se confirme, os dois mineiros só poderão se encontrar na hipótese de ambos alcançarem a final.

Federer campeão em Halle

Stuttgart não foi lá o mais animador dos recomeços de Roger Federer. Uma derrota na estreia para o veteraníssimo Tommy Haas, depois de perder match point, não era exatamente o que o suíço planejava. Halle foi outra história. Federer passou por três jogos de forma bastante confortável, mesmo sem sacar espetacularmente, e foi se encontrando. No fim de semana, bateu Khachanov em dois sets duros e Alexander Zverev em dois sets fáceis. Foi seu nono (!!!) título no torneio.

Enquanto isso, Rafael Nadal e Novak Djokovic optaram por não jogar na grama até esta semana, e Andy Murray foi eliminado na primeira rodada em Queen's. O cenário parece bastante favorável para o suíço em Wimbledon. Ele agora lidera as cotações na maioria das casas, seguido por Andy Murray e Rafael Nadal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.