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RG, dia 6: o pequeno drama de Djokovic, o massacre de Nadal e a surpreendente eliminação de Marcelo Melo

Alexandre Cossenza

02/06/2017 15h53

A chave de duplas de Roland Garros continua proporcionando resultados surpreendentes. Nesta sexta, a zebra fez uma vítima brasileira: Marcelo Melo, que caiu junto a Lukasz Kubot ainda na segunda rodada, perdendo a chance de brigar pelo número 1 do mundo ainda em Paris. Nos torneios de simples, não houve grande surpresas, mas Novak Djokovic passou um pequeno aperto. Rafael Nadal, pelo contrário, atropelou. Por fim, entre as mulheres, Garbiñe Muguruza continua a consolidar seu status de séria candidata ao título.

O resumaço do dia traz as análises dos resultados acima, além das fortes imagens do abandono de David Goffin, o vídeo de Boris Becker entrevistando Andre Agassi sobre Novak Djokovic e um link para uma entrevista interessante de Toni Nadal. O resto você já sabe. É só rolar a página…

O pequeno susto

Pela maior parte de três sets, Novak Djokovic foi um tenista instável que teve a paciência testada por um adversário persistente. O pequeno susto do sérvio veio na forma do diminuto Diego Schwartzman. O argentino, que segundo a ATP tem 1,70m e segundo todo mundo que já viu de perto tem 1,60m, saiu de 1/4 para vencer o primeiro set e, mais tarde, salvou quatro break points e confirmou o serviço para faturar também o terceiro. A um set da eliminação, o atual campeão de Roland Garros compensou com vontade o que faltava em precisão. E até que apareceu algum nível de regularidade nesse momento, justamente quando Schwartzman começava a sentir o desgaste da correria dos sets anteriores. Atual #41 do mundo, o argentino venceu apenas dois games nos últimos dois sets. Pediu atendimento médico, mas pouco adiantou. No fim, o número 2 do mundo avançou por 5/7, 6/3, 3/6, 6/1 e 6/1.

O que concluir? Que no primeiro jogo em que foi testado de verdade, Djokovic mostrou os buracos de seu tênis. Ainda é a primeira semana do torneio, mas já não lhe sobra tanto tempo assim para calibrar os golpes. Um confronto contra Dominic Thiem parece estar a quatro dias de distância. Nadal é favoritíssimo para chegar à semi. Ainda que seu jogo "case" bem com o do austríaco, que o susto de Schwartzman sirva de alerta. O sérvio vai precisar mostrar mais do que isso nos próximos dias.

A discussão

Djokovic vencia o set por 4/0, mas demorou para sacar e levou uma advertência do árbitro de cadeira. Ficou irritado, gesticulou, soltou umas palavras em sérvio, ameaçou jogar a bola na direção do árbitro e tomou outra punição, agora por falta de esportividade. Deu para ver que o ex-número 1 não estava num dos seus melhores dias, né?

O ex e o atual

Aproveitando o tema Djokovic, deixo aqui a entrevista que Boris Becker, a serviço do Eurosport, fez com Andre Agassi. No papo com o ex, o atual técnico do sérvio falou de como foi a aproximação de Nole, revelou que não pediu um centavo de salário do número 2 do mundo, e falou sobre como Djokovic sempre pensou muito pouco no que acontece do outro lado da rede. Segundo o americano, Nole, aos 30, pode encontrar maneiras de fazer ajustes em seu jogo e fazer sua vida ficar mais fácil dentro da quadra ao saber o que fazer com o atleta que está do outro lado da rede. Assistam!

Os outros favoritos

Garbiñe Muguruza abriu a programação do dia na Quadra Philippe Chatrier e não decepcionou. Diante de uma muito sólida Yulia Putintseva (#29), a atual campeã de Roland Garros foi melhor nos pontos importantes. Tanto no apertado primeiro set, que teve break points em nove dos 12 games jogados, quando na segunda parcial. Venceu por 7/5 e 6/2, se garantiu nas oitavas de final e se estabeleceu de vez como o nome mais forte da metade superior da chave. Não que ela já não fosse a favorita no dia do sorteio. A questão é que o nível de tênis apresentado até agora credencia a espanhola – que não foi nada consistente nas últimas 52 semanas – a alcançar a final.

O próximo jogo de Muguruza promete ser dos mais animados. Sua rival será Kristina Mladenovic, que escapou por pouco da eliminação – de novo! Desta vez, a americana Shelby Rogers teve 5/2 no terceiro set. Sacou para a vitória em 5/3 e foi quebrada de zero. Perdeu o serviço de novo no 6/6. A tenista da casa triunfou, enfim, por 7/5, 4/6 e 8/6. Bem cotada para chegar à segunda semana, Mladenovic não faz lá um torneio espetacular. Variou demais entre grandes momentos e instantes de insegurança. Pelo que Muguruza mostrou até agora, a francesa vai precisar de uma consistência que não mostrou até agora. De qualquer modo, promete ser interessante.

Rafael Nadal, por sua vez, nunca havia perdido tão poucos games em um jogo em Roland Garros. Nunca. Nenhuma vez. E o cidadão é eneacampeão do torneio. Foi nesse nível a (não)resistência imposta por Nikoloz Basilashvili, #63, que vinha fazendo um torneio muito respeitável, com vitórias sobre Gilles Simon e Viktor Troicki. Hoje, ganhou um gamezinho só: 6/0, 6/1 e 6/0. Nadal segue tão favorito quanto antes rumo às oitavas de final para enfrentar Roberto Bautista Agut.

A mudança de cara

Em uma mesa redonda com jornalistas em em Roland Garros, Toni Nadal falou sobre a evolução de seu sobrinho este ano e de como ele vê a chance de conquistar o torneio pela décima vez. No papo, Toni conta sobre como disse a Rafa, no ano passado, que o sobrinho precisava "mudar de cara". É uma declaração interessante e que ilustra bem a relação entre os dois. Leiam aqui.

Os brasileiros

Bruno Soares e Jamie Murray, que fizeram o primeiro jogo da Quadra 16, avançaram depois de um segundo set dramático, com seis match points perdidos – dois no nono game, mais três no décimo e outro no tie-break. E ainda salvaram um set point no 12º. Pelo menos eles conseguiram evitar um terceiro set e fechar em 6/1 e 7/6(2) sobre os russos Mikhail Elgin e Karen Khachanov, conquistando uma vaga nas oitavas de final.

Brasileiro e britânico agora vão enfrentar Rohan Bopanna e Pablo Cuevas, que derrotaram Treat Huey e Denis Istomin por 5/7, 7/6(4) e 6/4. Cabeças 9, Bopanna e Cuevas foram campeões em Monte Carlo e alcançaram as quartas em Roma. No papel, é a dupla mais forte que Soares e Murray têm a enfrentar antes da final.

Marcelo Melo e Lukasz Kubot, que chegaram a Roland Garros como fortes candidatos ao título, acabaram eliminados na segunda rodada. Seus algozes foram o americano Ryan Harrison e o neozelandês Michael Venus: 6/4, 6/7(5) e 6/3.

Brasileiro e polonês, campeões em Madri e dupla que somou mais pontos em 2017 até agora, estiverem sempre muito bem junto à rede, mas não o bastante nas devoluções. "Entraram" em poucos pontos de retorno e não conseguiram pressionar os games de serviço dos oponentes. Melo e Kubot venceram apenas 26% dos pontos de devolução e não conquistaram um break point sequer.

O resultado é doído não só pela expectativa da dupla de ir longe no torneio, mas porque Melo também tinha a chance de se tornar número 1. Além disso, a chave de duplas masculinas já havia perdido os times cabeças de chave 1, 2, 6 e 8. Agora, Harrison e Venus vão encarar os indianos Purav Raja e Divij Sharan por um lugar nas quartas.

Se não é animador que Melo, Sá e Demoliner já estejam eliminados, é uma surpresa feliz a presença de Rogerinho nas oitavas. Depois de vencerem por WO na estreia, ele e Paolo Lorenzi derrotaram Quentin Halys e Adrian Mannarino por 7/5, 2/6 e 7/5. Brasileiro e italiano agora vão enfrentar os tchecos Jiri Vesely e Roman Jebavy, que eliminaram os cabeças 8, Raven Klaasen e Rajeev Ram: 7/5 e 6/4.

Nas duplas mistas, Bruno Soares não teve tanta sorte. Ele e Jelena Ostapenko foram superados por Michael Venus (ele de novo!) e Alicia Rosolska: 6/2 e 7/6(5). O Brasil, no entanto, segue vivo na chave porque Marcelo Demoliner e sua parceira espanhola Maria José Martínez Sánchez, que entraram como alternates, derrotaram Nikola Mektic e Anastasia Rodionova por 7/5 e 6/2. Os dois vão enfrentar Abigail Spears e Juan Sebastián Cabal, que vêm de vitória sobre os cabeças 1, John Peers e Yung-Jan Chan.

Cabeças (e tornozelos!) que rolaram

David Goffin, cabeça 10 e favoritíssimo contra Horacio Zeballos, foi protagonista da cena mais chocante da manhã parisiense. Ao tentar alcançar uma bola no fundo de quadra, colocou o pé em cima da lona, torceu o tornozelo e teve de abandonar a partida. O vídeo e a foto abaixo são fortes.

O belga era a principal ameaça para Dominic Thiem na chave antes das quartas de final. Sem ele, o austríaco, que avançou nesta sexta ao derrotar Steve Johnson por 6/1, 7/6(4) e 6/3, entrará em quadra nas oitavas contra Zeballos (#65). Tudo indica que Thiem vai mesmo encontrar Djokovic nas quartas.

Pablo Carreño Busta tem uma lista respeitável de resultados no saibro este ano. Vice no Rio, semi em Buenos Aires, campeão em Estoril. Atual número 21 do mundo, o espanhol agora está nas oitavas em Roland Garros após passar de forma surpreendentemente fácil por Grigor Dimitrov, o cabeça 11: 7/5, 6/3 e 6/4. Carreño Busta agora vai enfrentar Milos Raonic, que fez pouco esforço nesta sexta.

O canadense vencia por 6/1 e 1/0 quando Guillermo García-López abandonou or causa de uma lesão no quadríceps. O espanhol já havia desistido da chave de duplas – foi seu WO que deu a Rogerinho e Paolo Lorenzi uma vaga na segunda rodada – e sabia que entraria em quadra com mobilidade reduzida. Mesmo assim, resolveu tentar. Quando viu que não havia chance, desistiu.

Fiquemos de olho

Svetlana Kuznetsova, cabeça 8, voltou a vencer um jogo apertado. Após bater Oceane Dodin por 6/3 no terceiro, a russa foi ainda mais exigida por Shuai Zhang e venceu por 7/6(5), 4/6 e 7/5 nesta sexta. Sveta, lembremos, está no primeiro quadrante – aquele de Kerber – e vai enfrentar Caroline Wozniacki ou CiCi Bellis nas oitavas. Dinamarquesa e americana tiveram sua partida interrompida por chuva logo depois de a ex-número 1 reclamar por causa da luz (ainda eram 20h20min em Paris). Continua difícil prever alguma coisa aqui. Uma semifinalista sairá do grupo de Sveta, Woz, CiCi, Ostapenko e Stosur.

Enquanto isso, Venus Williams continua aproveitando a chave agradável que Roland Garros lhe proporciona. Nesta sexta, fez 6/3 e 6/1 sobre Elise Mertens, #60, e se garantiu nas oitavas. A número 11 do mundo, que não alcança as quartas em Paris desde 2006, agora tem uma chance interessante de repetir a campanha de 11 anos atrás. Ainda sem perder sets no torneio, Venus fará um jogo que promete ser bastante interessante contra Timea Bacsinszky, semifinalista em 2015 e quadrifinalista em 2016. A suíça, #31, superou a tunisiana Ons Jabeur por duplo 6/2 nesta sexta.

Questão de respeito

Steve Johnson perdeu o pai há menos de um mês. No meio de todo sofrimento, foi a Roland Garros com a família e não deixou que isso afetasse demais seu tênis. Venceu dois jogos duríssimos, chegou à terceira rodada e perdeu uma partida na qual não era favorito. Nem todo mundo conseguiria ir tão longe. Todo respeito do mundo a ele.

Vale registrar aqui também o momento em que Diego Schwartzman deixou a Quadra Philippe Chatrier, após a derrota. Djokovic aplaudiu de pé a caminhada do argentino até a porta. Bacana de ver.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.