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RG, dia 3: o tombo de Zverev, o 'hat-trick' brasileiro e a punição a um caso de assédio

Alexandre Cossenza

30/05/2017 17h16

Depois de dois dias bem mais ou menos, Roland Garros, enfim, esquentou. Sim, a terça-feira teve emoção dentro e fora de quadra, com top 10 eliminados, um número 1 claudicante e mais vitórias brasileiras. Já são três só nas simples! Além disso, o torneio expulsou um wild card francês que assediou uma repórter e viu o curioso (não)aperto de mãos de Laurent Lokoli, que mandou o eslovaco Martin Klizan passear. O resumaço do dia tem tudo isso com imagens, vídeos e tudo mais.

As zebras

Ele chegou a Roland Garros como top 10, campeão do Masters 1.000 de Roma e credenciado por uma final impecável contra Novak Djokovic. Era justo, portanto, colocar Alexander Zverev entre os candidatos ao título em Paris. Nas casas de apostas, era o quarto mais cotado. Se a chave não ajudou, colocando Fernando Verdasco em seu caminho, o garotão alemão fez menos ainda. Tanto na segunda quanto na terça (a partida foi interrompida), esteve irregular, impaciente e irritadiço.

Verdasco, por sua vez, fez o seu – e bem feito. Usou spins, pegou forte na bola e empurrou Zverev para trás. Aproveitou as chances que teve e protagonizou uma grande zebra já no terceiro dia de torneio. 6/4, 3/6, 6/4 e 6/2. Vai enfrentar agora Pierre-Hugues Herbert, que vem de vitória sobre Jared Donaldson.

Quem ganha com isso? No papel, Pablo Cuevas, que enfrentaria Zverev na terceira rodada, além de Kei Nishikori, cabeça 8. O japonês encontraria o alemão nas oitavas. Essa turma está no primeiro quadrante da chave masculina e decide o quadrifinalista que vai encarar quem avançar da seção com Murray, Del Potro, Isner e Berdych. Não está nada fácil apontar um favorito aqui…

Johanna Konta caiu, talvez, na parte mais acessível da chave feminina de Roland Garros. Até a semifinal, não encontraria ninguém que vinha tendo bons resultados no saibro. O problema é que a britânica, atual #8 do mundo, também fez pouco na terra batida. Foram duas vitórias e três derrotas antes de ir a Paris. E mais um revés na primeira rodada do grand slam francês.

Sua algoz foi a nada ortodoxa taiwanesa Su-Wei Hsieh, que deu slices de todo tipo, fez a britânica se mexer o tempo inteiro e jogou muito quando precisou. No último game, quando sacava para fechar, salvou quatro break points – inclusive um com direito a paralela de fora para dentro e uma curtinha precisa na sequência. Triunfou por 1/6, 7/6(2) e 6/4, avançando para encarar a americana Taylor Townsend.

A derrota de Konta significa, em tese (negrito e sublinhado imaginários para "em tese", por favor!), um caminho mais fácil para Radwanska, que encontraria a britânica nas oitavas. Esse quadrante agora tem como principais cabeças Karolina Pliskova, Aga, Anastasia Pavlyuchenkova, Barbora Strycova e Caroline Garcia. Uma delas estará nas semifinais de Roland Garros. Ou não.

Do assédio à punição em algumas horas

Em entrevista para o Eurosport, o tenista francês Maxime Hamou, de 21 anos, fez isso com a repórter Maly Thomas. Vejam o vídeo autoexplicativo abaixo:

Hamou ganhou um wild card (convite) para o qualifying e se classificou para a chave principal. Já eliminado pelo uruguaio Pablo Cuevas, ele foi punido pelo episódio acima e teve sua credencial retirada pela Federação Francesa de Tênis.

Os favoritos

A campeã de Roma, Elina Svitolina, chegou a Roland Garros como segunda mais cotada para o título nas casas de apostas. Pelo menos na primeira rodada, a ucraniana venceu e correspondeu às expectativas. Disparou 25 winners, cometeu só 16 erros não forçados e perdeu o saque só uma vez (ainda no comecinho do encontro) na vitória por 6/4 e 6/3 sobre Yaroslava Shvedova.

Stan Wawrinka também deu partida em sua caminhada (quase) sem sobressaltos. O campeão de 2015 bateu o eslovaco Jozef Kovalik por 6/2, 7/6(6) e 6/3. Perdeu o serviço apenas uma vez – justamente no segundo set, o único em que teve trabalho. Kovalik chegou a ter três set points no tie-break (6/3), mas Wawrinka jogou cinco pontos impecáveis para virar o placar e tomar as rédeas do encontro. Seu duelo com Alexandr Dolgopolov pode ser visto como um dos mais interessantes da segunda rodada.

Já perto do fim do dia, foi a vez de Simona Halep e a expectativa sobre seu tornozelo lesionado. A romena saiu do WTA de Roma sem saber se teria condições de competir em Roland Garros, mas não mostrou sinais negativos nesta terça. Fez rapidamente 6/2 e 6/3 sobre Jana Cepelova e manteve seu status de principal favorita ao título. Ela encara a alemã Tatjana Maria na segunda fase.

Só depois, na coletiva, é que a favorita afirmou estar com o tornozelo "apenas" 80% recuperado. Halep, no entanto, disse confiar que suas condições físicas lhe permitirão competir durante todo o torneio. Ela "só" precisa de mais seis jogos.

Monteiro e o 'hat-trick' brasileiro

Na chave de simples, Thiago Monteiro precisou fazer a primeira partida de cinco sets da sua vida. Com uma atuação nada especial tecnicamente, mas muito elogiável mental e fisicamente, o cearense esteve perdendo por 2 sets a 1 antes de vencer um apertado quarto set. Só aí conseguiu deslanchar e deixar o exausto wild card francês Alexandre Muller (#330, 20 anos) para trás: 7/6(4), 2/6, 4/6, 7/6(3) e 6/0.

Com a vitória de Monteiro, o Brasil coloca três tenistas na segunda rodada de Roland Garros pela primeira vez desde 2002. Naquela edição, Gustavo Kuerten, Fernando Meligeni e Flávio Saretta avançaram. Guga acabou eliminado por Albert Costa nas oitavas, Fininho e Saretta pararam na segunda rodada. O primeiro, diante de Fernando González; e Saretta venceu apenas sete games diante de David Nalbandian.

Foi apenas a segunda vez na década de 2010 que o Brasil teve três tenistas na chave principal, e a primeira em que todos os três avançam. Em 2012, Bellucci, Feijão e Rogerinho estavam entre os 128, mas os três foram eliminados na estreia.

Na década de 2000, o Brasil teve pelo menos três tenistas na chave principal em oito oportunidades, mas apenas em 2002 houve três brasileiros na segunda rodada. Em 2003, porém, Guga e Saretta alcançaram as oitavas. O catarinense perdeu para Tommy Robredo, enquanto Saretta foi eliminado por Andre Agassi.

Especificamente sobre Monteiro, vale lembrar que ele vinha de cinco derrotas seguidas em chaves principais de torneios ATP. A vitória desta terça é especial não só por encerrar a série negativa, mas por ser também a sua primeira em um slam. Com o resultado, ele marca um encontro com Gael Monfils, que bateu Dustin Brown.

As duplas brasileiras

Na chave de duplas, o dia começou bem. Bruno Soares e Jamie Murray derrotaram os sérvios Janko Tipsarevic e Viktor Troicki por 6/3 e 7/6(0). O tie-break se fez necessário porque brasileiro e britânico, que haviam acabado de quebrar os sérvios, também perderam o serviço no 12º game do segundo set. Cabeças de chave 5, Soares e Murray enfrentarão em seguida os vencedores de Darcis/Paire x Elgin/Khachanov.

André Sá, ao lado de Jonathan Erlich, também venceu. Ele e o parceiro fizeram 6/3 e 7/5 sobre João Sousa e Martin Klizan. Na próxima rodada, brasileiro e israelense encaram Santiago González e Donald Young, que eliminaram os cabeças 14, Martin e Nestor, em três sets: 7/6(4), 6/7(4) e 6/3.

Thomaz Bellucci e Carlos Berlocq, no entanto, venceram apenas três games contra os favoritos Jean-Julien Roger e Horia Tecau: 6/2 e 6/1.

Os pequenos sustos

Há muito tempo um número 1 não era tão pouco cotado a um título de slam, mas a temporada de Andy Murray não é lá das mais animadoras. Por isso, nem foi tão surpreendente a dificuldade encontrada pelo britânico nos dois primeiros sets (especialmente no segundo) contra Andrey Kuznetsov. As duas últimas parciais foram um pouco mais animadoras, com Murray dando menos pontos de graça e encontrando algum ritmo. No fim, avançou por 6/4, 4/6, 6/2 e 6/0 para encontrar Martin Klizan na sequência e Del Potro ou Almagro em uma já aguardada terceira rodada.

Quem também jogou um tênis pouco inspirado e teve de suar foi Kei Nishikori, que viu em Thanasi Kokkinakis um adversário mais complicado do que o esperado. O australiano, afinal, vinha de longa pausa por lesão e só tinha feito uma partida de simples na temporada – uma derrota em Lyon diante de Denis Istomin. Nesta terça, Kokk venceu o primeiro set e teve 3/0 de frente no terceiro. Só que a falta de ritmo, especialmente em jogos longos e duros, pesou. Nishikori acabou "escapando" por 4/6, 6/1, 6/4 e 6/4 e vai enfrentar Jeremy Chardy na segunda rodada.

A cabeça que quase rolou, mas ainda pode rolar

À noite, foi Jo-Wilfried Tsonga quem sofreu. O francês, que vinha no embalo do título em Lyon, no último fim de semana, viu em Renzo Olivo (#91) um oponente mais do que à altura. Enquanto Tsonga encontrava problemas para fazer seu jogo agressivo (35 erros não forçados nos dois primeiros sets), o argentino, em apenas sua quarta partida em um slam, abria vantagem.

O tenista da casa ainda venceu um tenso terceiro set, encerrado às 21h locais. A organização decidiu não interromper o duelo, e Tsonga quebrou primeiro no quarto set. Parecia que uma virada daquelas espetaculares estava por vir, mas não. Olivo quebrou de volta e venceu quatro games seguidos para abrir 5/2. Logo acabaria, certo? Errado. Tsonga de volta quebrou com uma curtinha insana e deixou o placar em 4/5. Foi aí que, já quase no escuro, a organização decidiu interromper e adiar a continuação para a quarta-feira.

Fiquemos de olho

Para quem vem sofrendo com lesões no quadril e no ombro, desistiu de Roma e perdeu na estreia em Lyon, Nick Kyrgios fez uma apresentação muito respeitável nesta terça, despachando o alemão Philipp Kohlschreiber por 6/3, 7/6(4) e 6/3. Foi um jogo típico do australiano. Teve saques potentes (Kyrgios não permitiu uma quebra sequer), teve bola por baixo das pernas, teve curtinha precisa e teve discussão com o árbitro de cadeira.

Kyrgios avança para enfrentar Anderson ou Jaziri e, a essa altura, é de se esperar que ele vença e faça um duelo interessante com quem passar da seção que tem Tsonga, Olivo e Kyle Edmund.

Outra estreia imponente na chave masculina foi a de Juan Martín del Potro, que aplicou 6/2, 6/1 e 6/4 no compatriota Guido Pella. Foi sua primeira vitória em Roland Garros nos últimos cinco anos, já que ele não ia a Paris desde 2012. O ex-top 10 argentino não está entre os cinco mais cotados nas casas de apostas, mas está numa chave interessante, com um jogo diante de Nicolás Almagro na segunda rodada e um possível encontro com a empobrecida versão 2017 de Andy Murray. Não convém descartar a possibilidade de Del Potro chegar bem à segunda semana.

O (não) aperto de mãos do dia

Laurent Lokoli e Martin Klizan duelaram por cinco sets nervosos. O francês, empurrado pela torcida da casa, venceu o terceiro e quarto sets, mas perdeu o quinto. Depois de sair da quadra, Lokoli declarou que o adversário fingiu estar lesionado durante dois sets e correu como um garoto no quinto. Foi por isso que, irritado, não cumprimentou o eslovaco ao fim do jogo. E o "não-cumprimento" já é uma das cenas mais comentadas de Roland Garros. Vejam aí que coisa… diferente.

O ponto do dia

Cortesia de Su-Wei Hsieh, salvando break point quando sacava para eliminar uma top 10. Momento importantíssimo para a taiwanesa acertar uma paralela daquelas seguida de uma curtinha precisa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.