Topo

Saque e Voleio

Como Sharapova foi de suspensa a favorita para Roland Garros em três jogos

Alexandre Cossenza

28/04/2017 15h26

Depois de 15 meses de suspensão por doping, Maria Sharapova voltou às quadras na última quarta-feira, dia 26 de abril, no WTA de Stuttgart. Cerca de 48 horas e três vitórias depois, a russa, que ainda nem aparece no ranking mundial, já é favorita ao título de Roland Garros. Quem diz isso são as casas de apostas, e elas têm bons motivos para colocar a ex-número 1 no alto de suas listas.

Primeiro, as cotações: na australiana Sportsbet, um título de Sharapova paga 8/1, ou seja, oito dólares para cada um apostado na russa – é a mesma cotação de Simona Halep; na britânica William Hill, a principal favorita é Garbiñe Muguruza (9/2), seguida de Halep (6/1) e Sharapova (7/1); e na casa virtual Bet365, a russa lidera as cotações (7/1), novamente empatada com Halep (7/1) e com Muguruza (7,50/1) logo atrás. Veja as listas no tweet abaixo.

Mas como alguém sobe tão rápido assim nas cotações? Não é tão difícil entender. A começar pelo nível de tênis que Sharapova apresentou até agora. Ainda que seus triunfos tenham vindo sobre tenistas fora do top 30 (Vinci, Makarova e Kontaveit), a ex-número 1 foi sólida, cuidou bem de seus games de serviço e deu raras chances às rivais. Seu tênis, bem adaptado ao saibro ao longo da carreira, trouxe excelentes resultados no piso recentemente. Em Roland Garros, foram 20 vitórias em 21 jogos de 2012 ate 2014. Ninguém não chamado Serena Williams mostrou tanta consistência assim nos últimos anos no slam francês.

A ausência da americana (grávida) é outro fator a favor de Sharapova nesta temporada de saibro. Serena é a única tenista do circuito atual que tem triunfos regulares contra a russa. E não é só isso. Victoria Azarenka e Petra Kvitova também estão afastadas (não que seu histórico na terra batida seja espetacular), e Angelique Kerber faz uma péssima temporada. Por fim, Muguruza e Halep, que dividem a "liderança" nas casas de apostas com Maria Sharapova, são tão previsíveis e consistentes quanto o humor de Bernard Tomic.

Outro motivo é a questão financeira. Afinal, o objetivo de toda casa de apostas é fazer dinheiro. Logo, é preciso considerar o potencial de Sharapova. É óbvio que é muito cedo para fazer previsões para daqui a um mês (a chave principal começa no dia 29 de maio), mas não é nada impossível que a bicampeã de Roland Garros ganhe ritmo em Roma e Madri e chegue ao slam francês jogando um tênis ainda melhor. Listar Sharapova como favorita agora evita que muitas pessoas apostem agora e embolsem um prêmio gordo lá na frente. Já pensaram se Sharapova estivesse cotada em 20/1 e cada apostador colocasse 100 dólares nela? Daria um prejuízo enorme.

Com tudo isso em mente, é justificável a postura de quem vive do dinheiro de apostadores. Mesmo levando em conta que Sharapova ainda nem tem a certeza de que vai estar na chave principal em Paris…

Coisas que eu acho que acho:

– Se Sharapova foi brilhante dentro da quadra, não dá para dizer o mesmo de sua postura nas entrevistas coletivas. Em vez de responder perguntas relevantes sobre seu retorno e ainda sobre o doping (já que as entrevistas concedidas durante a suspensão foram todas leves, sem perguntas duras), a ex-número 1 ou se esquivou ou debochou de jornalistas. Em alguns casos, fez os dois.

– A começar pela pergunta de quinta-feira sobre se ela havia encontrado um medicamento alternativo para tratar seus problemas de saúde. Sharapova respondeu que "essa informação é entre mim, a WTA e o médico ortopedista com quem estou trabalhando agora."

– Na sequência, respondeu apenas com "next question" quando um jornalista indagou se ela estava trabalhando com mais alguém para tratar os problemas de diabetes e cardíacos que ela mencionou quando falou na primeira vez sobre seu caso de doping.

– Nesta sexta, indagada se sua equipe tinha ficado chateada quando descobriu os medicamentos que ela tomava para sua saúde, a russa se esquivou de novo e se deu, inclusive, o direito de julgar a pergunta. Falou que a questão era inadequada, deu um risinho irônico e pediu que fosse feita outra pergunta, por outra pessoa.

– Sharapova também debochou quando um jornalista se apresentou como funcionário do "Sun", respondendo um "oh, deus" e perguntando se o "Sun" já havia mandado alguém a Stuttgart antes.

– Não, ninguém é obrigado a responder nada. Porém, no caso de Sharapova, um doping que envolveu justificativas questionadas por muita gente (e pelo tribunal que a condenou), quanto menos ela esclarecer, mais margem dá para especulações e para que quem não acreditou nas suas justificativas siga sem acreditar em suas boas intenções. O deboche, então, é mais difícil ainda de defender.

– Sobre o possível (ou provável?) wild card para Roland Garros, o torneio francês disse que só vai fazer o anúncio no dia 16 de maio. Assim, o torneio ganha tempo e foge de polêmicas. Isso também faz bem para Sharapova, que já vem mostrando ótimo nível de jogo. Com mais vitórias e mais resultados, ficará difícil para a organização do torneio negar o benefício.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.