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AO 2017: o guia da chave masculina

Alexandre Cossenza

13/01/2017 14h57

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E lá vamos nós de novo. Mais um torneio do Grand Slam. Un evento incomum pelas posições de Roger Federer (cabeça 17) e Rafael Nadal (9) na chave, mas um torneio com todos elementos comuns de um típico Australian Open. Novak Djokovic como favorito, Andy Murray cotadíssimo, duelos fortíssimos já na primeira rodada, expectativa de calor, etc. e tal. Vocês sabem o esquema.

As chaves foram sorteadas nesta sexta-feira, o que significa que é hora de analisar não só o momento de cada tenista, mas quais desafios ele vai encontrar pela frente e se suas chances de ir longe em Melbourne aumentaram ou diminuíram depois disso. É também a hora de olhar os azarões e começar a imaginar quem pode pegar todo mundo de surpresa nas próximas duas semanas. E é isso que tento fazer nas linhas abaixo. Role a página, fique por dentro e, depois, fique à vontade para deixar seus palpites nos comentários.

Os favoritos

Pra começar, há dois candidatos mais claros neste torneio. Novak Djokovic e Andy Murray. Nesta ordem, que leva em consideração a final de Doha, vencida pelo sérvio em cima do britânico. Sim, foi apenas um ATP 250, mas não dá para desconsiderar o peso psicológico de um jogo daqueles, brigado e com quase 3h de duração. Por isso, Nole sai na frente, pelo menos no papel.

A chave de Djokovic não é a mais fácil, mas não me parece complicada pelo "ponto de vista Djokovic", ou seja, pelo estilo de jogo e pelo histórico de confrontos diretos dos adversários. "Ah, mas Nole não estreia contra Verdasco, que quase venceu em Doha?", pode imaginar alguém. Sim, mas vai ser necessário um alinhamento de 38 planetas e 17 asteroides para aquilo acontecer de novo. Desde já, esse Djokovic x Verdasco da primeira rodada é meu grande favorito a "jogo cheio de expectativa que acaba dando sono".

Depois disso, Djokovic pega Istomin/qualifier, possivelmente Carreño Busta na terceira rodada, Dimitrov/Gasquet nas oitavas e o vencedor da seção com Thiem, Feliciano, Karlovic e Goffin nas quartas. A maior casca de banana aí parece o confronto de oitavas, mas Djokovic venceu os últimos dez jogos contra Gasquet (perdeu só um set!) e bateu Dimitrov seis vezes em sete encontros. A única vitória do búlgaro aconteceu em 2013, no saibro de Madri. Não me parece lá um retrospecto tão animador para o azarão, embora precisemos levar em conta o recente ressurgimento de Dimitrov, que atropelou e foi campeão em Brisbane, batendo Thiem, Raonic e Nishikori em sequência.

Lembremos também que Djokovic tem em sua metade da chave Milos Raonic, o que é melhor do ter Stan Wawrinka na semifinal. Além disso, Federer também ficou na outra metade da chave, o que não deixa de ser bom para para o sérvio.

O sorteio não foi tão amigável com Andy Murray, embora não tire seu status de favorito na metade de cima da chave. Vários elementos podem jogar contra o número 1 do mundo em momentos diferentes, a começar por possíveis duelos com Querrey na terceira rodada e Isner/Pouille nas oitavas. Embora Murray seja um excelente devolvedor, não é difícil imaginar esses jogos em rodadas diurnas, com sol forte e bolinhas voando mais rápidas ainda, o que não é nada bom para o #1.

Além disso, Murray provavelmente vai precisar passar por Federer, Berdych ou Nishikori nas quartas. Berdych não seria o maior dos problemas, mas o japonês costuma causar problemas para o escocês. Além disso, se o suíço chegar às quartas, terá passado por Berdych e Nishikori e estará em excelente forma. Ou seja, o cenário não é dos mais animadores para Murray.

As "lendas"

Federer estreia contra um qualifier, pega outro qualifier na segunda rodada e deve encarar Tomas Berdych já na terceira fase. Considerando que o suíço chega a Melbourne como cabeça de chave 17, está longe de ser o pior dos cenários, mesmo com um eventual confronto com Kei Nishikori nas oitavas. O japonês, lembremos, sentiu dores no quadril em Brisbane e não se sabe se estará 100% para o início do Australian Open. Acredito que a forma física de Nishikori será chave. Caso o asiático consiga alongar uma partida com Federer, suas chances aumentam. Caso contrário, o suíço pode bem se encontrar na segunda semana diante de Andy Murray nas quartas.

Nadal, cabeça 9, também não teve um sorteio dos piores, mas seu caminho tem uma pedra grande: Alexander Zverev na terceira rodada. O adolescente alemão, contudo, ainda não tem uma vitória grande num Slam. Esse jogo pode muito bem determinar um semifinalista, já que o vencedor sairá com status de favorito pelo menos até as quartas de final, quando Milos Raonic, o cabeça 3, pode aparecer.

Os brasileiros

Thomaz Bellucci e Thiago Monteiro vão estrear contra cabeças de chave, o que nunca é bom. O paulista vai encarar Bernard Tomic, o que não é desastroso. Afinal, entre todos cabeças que Bellucci poderia enfrentar, pegará um contra quem tem retrospecto favorável (2 a 1). É bem verdade que Tomic joga em casa, onde supostamente (favor colocar negrito mental e ler beeeeem devagar a palavra su-pos-ta-men-te!) não gostaria de dar (mais um) vexame. Mas também é inegável que tudo pode acontecer quando o australiano entra em quadra. Por outro lado, é bem possível que Tomic esteja pensando o mesmo de Bellucci: "tudo pode acontecer".

Monteiro vai encarar Jo-Wilfried Tsonga. Sim, o mesmo Tsonga que ele derrotou no Rio Open do ano passado. Desta vez, na quadra dura, sem o insuportável calor carioca (onde todos tenistas dizem que é muito mais difícil jogar do que em Melbourne) e valendo por Grand Slam. É outro nível de importância. E Tsonga, às vezes vulnerável em torneios menores, não perde uma estreia em Slam desde 2007, quando ganhou um convite para o Australian Open e pegou Andy Roddick, então número 7 do mundo, na primeira rodada.

Rogerinho teve melhor sorte. Estreia contra Jared Donaldson, #101 do mundo. O americano vem de boa campanha em Brisbane, onde furou o quali, eliminou Gilles Muller na estreia e até venceu o primeiro set contra Nishikori na segunda rodada. O japonês acabou levando a melhor. De qualquer maneira, é melhor do que estrear logo contra um cabeça de chave. Se avançar, o paulista vai enfrentar o vencedor do jogo entre Gilles Simon e Michael Mmoh.

A grande ausência

Juan Martín Del Potro afirmou que não estaria pronto fisicamente já em janeiro e decidiu abortar o primeiro Slam da temporada. Ele também não quis (como nunca quis mesmo) jogar na temporada sul-americana de saibro e vai começar 2017 jogando em quadras duras. Resumindo? O argentino curtiu bem as férias (vide tweet abaixo) e não quis forçar seu corpo.

No quesito "fim provável, meio improvável", recomendo acompanhar Raonic x Brown porque embora o canadense seja favoritíssimo, não dá pra perder os momentos de brilho do alemão. E, por fim, o confronto mais quente, com sangue latino, entre Fognini e Feliciano López. Até porque a coisa não acabou bem quando os dois se enfrentaram em Wimbledon no ano passado (vejam o vídeo acima).

O que mais pode acontecer de legal

De modo geral, as atenções vão mesmo continuar voltadas para o desenrolar das campanhas de Federer e Nadal e como elas vão afetar o andamento das chaves, mas algumas outras formações bem interessantes podem vir na segunda rodada ou nas seguintes, como um encontro entre Dominic Thiem e João Sousa. Outro jogo esperado mais para a frente é Gasquet x Dimitrov, que pode acontecer na terceira rodada. E também, meio escondido no meio disso tudo, imagino um interessante jogo entre Raonic e Taylor Fritz na segunda rodada.

Os tenistas mais perigosos que ninguém está olhando

A essa altura, todo mundo já está prestando atenção em quem jogou bem nas primeiras semanas. São os casos de Zverev, que bateu Federer na Copa Hopman, e de Dimitrov, campeão em Brisbane, por exemplo. Ainda assim, alguns nomes mereciam mais atenção. Acho que João Sousa é um deles. O português, #44, segue obtendo resultados acima do que normalmente se espera. Não me parece nada impossível imaginá-lo batendo Jordan Thompson e Dominic Thiem nas duas primeiras rodadas. Resta saber, porém, em que condições físicas Sousa chegará a Melbourne, já que ainda está em Auckland, onde disputa a final.

Outro tenista que eu gosto e que cedo ou tarde vai ser uma realidade em torneios maiores é Taylor Fritz, 19 anos e #91 do mundo. Tem um saque gigante, golpes potentes de fundo e uma movimentação até boa para seu 1,93m de altura. Ano passado, já conseguiu um punhado de resultados relevantes. Falta, claro, maturidade. E sua chave em Melbourne não é das piores. Ele enfrenta Gilles Muller, outro "sacador" na estreia e, se vencer, pega Milos Raonic, alguém com um jogo muito parecido com o seu. Existe uma janelinha para ele dar esse salto já neste Australian Open.

Onde ver

A ESPN transmite o Australian Open com exclusividade e em dois canais: ESPN e ESPN+. Fernando Meligeni e Fernando Nardini também tocam o Pelas Quadras, programa diário com convidados que aborda o que acontece no torneio e vai ao ar sempre às 21h (de Brasília).

Nas casas de apostas

Na casa virtual bet365, a lista de mais cotados tem, nesta ordem, Djokovic, Murray, Wawrinka, Nadal, Raonic, Federer, Nishikori, Kyrgios, Dimitrov e Cilic no top 10. Vale notar a distância entre as cotações de Murray (paga US$ 2,62 para cada dólar apostado), segundo favorito, e Wawrinka (13), o terceiro.

O guia feminino

Não vai dar tempo de publicar o guia para a chave feminina ainda hoje. Ele deve pintar aqui no blog amanhã (sábado). Até lá!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.