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NY, dia 12: por meios incomuns, Djokovic e Wawrinka vão a mais uma final

Alexandre Cossenza

09/09/2016 23h04

Do indescritível – ou quase isso – duelo entre Novak Djokovic e Gael Monfils ao impressionante desempenho de Stan Wawrinka diante da fragilidade física de Kei Nishikori, a sexta-feira foi inusitada em Nova York. O dia chega ao fim com sérvio, sempre ele, e suíço classificados para a decisão de domingo. O resumaço de hoje relata as partidas, fala sobre o que esperar da final e ainda cita as duplas mistas e o brasileiro que alcançou a decisão nas duplas masculinas juvenis. É só rolar a página para ficar por dentro.

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Se as semifinais femininas de ontem foram partidas normais, o jogo entre Novak Djokovic e Gael Monfils foi o equivalente a Dorothy caindo na toca do Coelho Branco, tomando a pílula azul, acordando do lado de uma morena perdida, com uma chave azul, um monte de dinheiro na bolsa e um tigre no banheiro. Aí elas entram num Honda, atropelam um negão, brigam com um estuprador com uma espada de samurai, pegam a Chopper do Zed, cruzam um portal e vão parar numa realidade paralela onde a moto virou um cavalo que levava uma carruagem que virou abóbora.

Mas eu divago. Na prática, o que aconteceu foi que Gael Monfils tentou jogar seu normal, viu que não daria certo e começou a se fazer de morto em quadra. O plano era desconcentrar Djokovic, o que até deu certo. O francês saiu de 0/5 para 3/5 e ainda teve mais dois break points no game em que o número 1 fechou a parcial.

O problema é que esse tipo de comportamento/tática/malandragem/catimba (escolha o substantivo que preferir) costuma ter prazo de validade, especialmente contra alguém do nível do sérvio. Djokovic passeou no segundo set e fez 6/2. Foi aí que o público de Nova York mostrou seu descontentamento com a postura "finjo que não tô nem aí" de Monfils e saltou uma sonora vaia.

O francês, então, voltou a jogar seu normal. Saiu de 0/2 para 5/2 no terceiro set, pediu uma Coca-Cola e até foi ao banheiro. Enquanto isso, Djokovic rasgou uma camisa, pediu atendimento no ombro direito e, depois, no ombro esquerdo. Os dois também faziam longas pausas entre os ralis. Segundo Djokovic, culpa da umidade, que causou um desgaste acima do normal, embora esperado.

No quarto set, Monfils não conseguiu bater a consistência de Djokovic. Não que o número 1 estivesse em um dia espetacular, o que seria mesmo difícil diante das circunstâncias. Mas a questão é que, ainda assim, a margem de erro para derrotar Djokovic é mínima. O francês não estava em nível tão alto assim. No fim, o placar mostrou 6/3, 6/2, 3/6 e 6/2.

O clima também afetou a segunda semifinal, assim como as chances aproveitadas por Kei Nishikori quando este ainda estava bem fisicamente. O japonês venceu o primeiro set, abriu a segunda parcial com uma quebra e, mesmo depois de perder o saque, teve seis break points. Não converteu nenhum e pagou o preço quando Stan Wawrinka soltou o braços nos games finais e empatou o jogo.

No terceiro set, com menos de 2h de jogo, Nishikori já dava sinais de cansaço. Sacava mal e acelerava a definição dos pontos, subindo à rede rapidinho. Wawrinka, que tinha uma quebra de vantagem, se desconcentrou com a mudança de postura do rival e perdeu a vantagem que tinha. Até o fechamento do teto ajudou o japonês, mas Wawrinka elevou seu nível a tempo de evitar um desastre. Salvou break point no nono game, quebrou Nishikori no décimo e fechou o set.

Se houve drama no quinto set, foi pela irregularidade de Wawrinka, que abriu 3/0, mas permitiu uma quebra quando tinha o controle do confronto. Ainda assim, o suíço, mais inteiro, foi melhor sempre que necessário. Quebrou o serviço outra vez antes que o japonês empatasse o jogo e levou a vaga na final: 4/6, 7/5, 6/4 e 6/2.

O que esperar?

Palpite para a final? Se é inegável que Djokovic é favorito contra qualquer um, é também fato concreto que Wawrinka é um dos poucos nomes capazes de derrotá-lo em uma final de Slam – vide Roland Garros/2015. O número 1 da Suíça será um teste físico para o número 1 do mundo. Djokovic ainda não precisou defender tanto neste US Open quanto costuma fazer quando enfrenta Wawrinka.

Será interessante ver a resistência do sérvio se o domingo for tão úmido quanto esta sexta-feira. Sem correr tanto, Djokovic saiu bem desgastado do jogo contra Monfils. Como seria diante dos forehands e backhands tão agressivos do suíço?

Minha maior curiosidade é saber se Djokovic apostará mais uma vez em uma postura cautelosa contra Wawrinka. A estratégia deu certo na maioria dos jogos, mas falhou na Austrália em 2014 e em Roland Garros, no ano passado. Em ambas ocasiões, o suíço foi campeão. É uma decisão enorme para Djokovic. Agredir correndo riscos ou esperar pelo nível de Wawrinka? Aguardemos…

Desconhecidos campeões

O roteiro não é tão raro assim, mas continua sendo curioso. Mate Pavic e Laura Siegemund se juntaram por força de ranking perto do fim do prazo para o fim das inscrições e foram juntos até o título de duplas mistas. Na entrevista pós-jogo, Siegemund admitiu que nunca tinha nem ouvido falar no nome de Pavic. Ele, por sua vez, disse que ficou amarrado a ela, já que não havia muitas opções. O título veio com um triunfo na final sobre Rajeev Ram e Coco Vandeweghe: 6/4 e 6/4.

O brasileiro juvenil

Felipe Meligeni Rodrigues Alves, sobrinho de Fernando, o campeão pan-americano de Santo Domingo 2003, está na final de duplas juvenis. Ele e o boliviano Juan Carlos Manuel Aguilar garantiram a vaga ao superarem o time formado pelo belga Zizou Bergs e o israelense Yshai Oliel: 4/6, 7/6(1) e 10/2.

Na final, Felipe e Juan Carlos vão enfrentar os canadenses Felix Auger Aliassime e Benjamin Sigouin, que são os cabeças de chave número 3 do torneio.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.