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NY, dia 7: Nadal dá adeus, Wozniacki dá aula e Djokovic dá susto

Alexandre Cossenza

05/09/2016 01h43

Rafael Nadal está fora do US Open, Novak Djokovic deu mais um susto em seus fãs, Angelique Kerber continua sólida como sempre e Caroline Wozniacki deu uma aula tática em Madison Keys. Foi um domingo de jogos "grandes" e emocionantes – especialmente na dramática eliminação de Nadal, em jogo decidido no tie-break do quinto set. Nas duplas, destaque para o triunfo de André Sá, que volta às quartas de final de um Slam. O resumaço analisa tudo sobre a jornada!

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O jogo do dia

Rafael Nadal entrou em quadra levando consigo a melhor campanha da carreira nas três primeiras rodadas do US Open. Perdeu apenas 20 games. Ah, mas são só três rodadas, conta muito pouco. Sim, muito pouco. E Lucas Pouille (22 anos e #25) sabia disso. Entrou no Estádio Arthur Ashe soltando o braço, acelerando o jogo e apostando que conseguiria se plantar na linha de base antes do espanhol.

Ganhou a primeira mão com um 6/1 no set inicial. Nadal estava claramente desconfortável, jogando em um ritmo que não lhe agradava. Era forçado a atacar mais e mais cedo do que gostaria. Como não encontrou saída, topou o jogo do rival. Quando fez 6/2 no segundo set, parecia mais à vontade, mas perdeu o saque no primeiro serviço do terceiro set e voltou a correr atrás. E correu um bocado.

Nadal correu como só ele sabe fazer. Venceu o quarto set, abriu o quinto com uma quebra. Parecia estar com o jogo sob controle, mas perdeu o oitavo game depois de abrir 30/0. Pouille, mesmo cansado e tendo nas costas o peso de voleios errados que lhe custaram quebras, insistia em agredir rápido e de forma contundente. Forçou inclusive nos saques. Arriscou tudo, acertou apenas 46% dos primeiros serviços. E, ainda assim, sobreviveu.

Pouille salvou um último break point no 4/4 do quinto set e levou a decisão para o tie-break. Ah, o tie-break. Com a maior zebra do torneio masculino em jogo – e que jogo! – e o estádio pegando fogo, o US Open adota o tie-break no quinto set. É o coito interrompido do tênis, aquilo que decide em minutos a vitória que dois atletas buscaram por quatro horas (e hoje foram 4h06min).

O francês seguiu arriscando. Errou uma bola fácil no primeiro ponto, mas ganhou o quatro seguintes. Abriu 6/3, mas viu Nadal escapar de três match points. Com o placar em 6/6, Nadal teve um forehand fácil para matar e ter seu match point. Mandou na rede. Pouille não perdoou. No ponto seguinte, na primeira direita que teve à disposição, buscou a linha e foi preciso. Game, set, match.

Com o triunfo por 6/1, 2/6, 6/4, 3/6 e 7/6(6), Pouille avança para as quartas de final para encarar o compatriota Gael Monfils (#12), que vai entrando no top 10 após o triunfo de hoje contra Marcos Baghdatis. E se existia alguma dúvida sobre o tamanho da sorte de Monfils em 2016, está aí mais uma prova. Em vez de encarar Nadal, contra quem tem duas vitórias em 14 confrontos, vai enfrentar Pouille. O único jogo oficial entre eles até hoje terminou com Monfils comemorando.

Na coletiva pós-derrota, o tema quente foi a possibilidade de Nadal não estar lidando bem com a pressão em alguns jogos. O espanhol foi superado tanto nos Jogos Olímpicos Rio 2016 quanto em Nova York em tie-breaks. Em ambos, errando forehands não-tão-complicados em pontos importantíssimos. Nadal não gostou da pergunta e disse que não sentiria tal pressão depois de 14 títulos de Slam e tantos jogos importantes.

Não sei até onde a resposta foi sincera. O próprio Nadal já disse em outras ocasiões que não teve a calma necessária para lidar com certos momentos de partidas – especialmente em 2015, um ano péssimo para seus padrões. Essa falta de calma não seria uma consequência da pressão para vencer como antes? Talvez Nadal e o resto do mundo apenas tenham nomes diferentes para rotular a mesma sensação.

De qualquer modo, a análise do espanhol sobre a partida foi precisa. Deu mérito a Pouille e disse que jogou bem, mas não o suficiente para bater o francês. Nadal declarou também que precisa sacar melhor e causar mais "dor" aos adversários com seu melhor golpe. De fato, faltou um pouco de cada neste domingo. E também faltou o instinto matador dos velhos tempos, da época em que Nadal não deixava escapar uma liderança contra um tenista menos experiente.

O jogo feminino do dia

A expectativa era grande para o duelo entre Angelique Kerber (#2) e Petra Kvitova (#16) e é até justo dizer que a partida correspondeu. Não só na qualidade de jogo, mas também em termos de plano de jogo e resultado. A consistente Kerber apostou na regularidade, enquanto Kvitova partiu para o ataque disposta a ter o jogo em sua raquete. E se as duas fizeram o que se esperava, o resultado também foi o mais provável: vitória da alemã por 6/3 e 7/5.

Kerber não só conquistou uma vaga nas quartas de final para enfrentar Roberta Vinci (#8) como colocou mais pressão em Serena Williams (#1) na briga pela liderança do ranking mundial. A americana, que disputará sua partida de oitavas de final nesta segunda-feira, agora precisa pelo menos alcançar a final do US Open para continuar no topo.

A disputa ainda conta com Agnieszka Radwanska, como mostra o tweet acima, com a tabela divulgada pela WTA. A polonesa assumirá a liderança se for campeã em Flushing Meadows e se Kerber não chegar à decisão.

O sustinho

No último jogo do dia no Ashe, Novak Djokovic (#1) deu um pequeno susto em seus fãs. Depois de abrir 2 sets a 0 com folga sobre Kyle Edmund (#84), o sérvio pediu atendimento no cotovelo direito – o mesmo que foi tratado na estreia – e perdeu o saque logo em seguida. O número 1 do mundo, contudo, devolveu a quebra logo em seguida e manteve o terceiro set parelho até que seguidos erros de Edmund lhe deram a quebra decisiva: 6/2, 6/1 e 6/4.

O lado positivo é que Djokovic mostrou um tênis bem sólido para quem ficou quase uma semana sem jogar, o que faz muita diferença em um Slam. Entrou em ralis, se defendeu bem da pancadaria de Edmund e foi consistente como quase sempre. Avança para encarar Jo-Wilfried Tsonga (#11), que vem fazendo um belo torneio e será um desafio diferente. O francês certamente vai tentar resolver os pontos com menos trocas de bola. O #1 precisará estar com o tênis calibradíssimo.

Os brasileiros

André Sá está de volta às quartas de final de um Slam. Ele e Chris Guccione derrotaram Victor Estrella Burgos e Nicolás Almagro por 7/6(2) e 6/2 e avançaram ao grupo das oito melhores duplas. Sá não ia tão longe em um Slam desde o US Open de 2007, quando ainda jogava com Marcelo Melo.

Acho até que a vitória foi mais complicada do que o placar sugere. No primeiro set, Almagro e Estrella Burgos estiveram com uma quebra de vantagem duas vezes. O espanhol até chegou a sacar para o set em 6/5, mas perdeu o serviço.

Mais tarde, Bruno Soares entrou em quadra ao lado de Yaroslava Shvedova e avançou às quartas nas duplas mistas. O mineiro e a cazaque derrotaram Timea Babos e Eric Butorac (que se aposentou – mais um para a conta de Bruno) por 6/3 e 7/5. Os próximos adversários serão a taiwanesa Yung-Jan Chan e o sérvio Nenad Zimonjic, que vêm de vitória sobre Lipsky e Kudryavtseva.

Inteligência e estatísticas de Wozniacki

Caroline Wozniacki chegou a este US Open como #74 do mundo e com um punhado de estatísticas jogando contra. Não ganhava quatro jogos seguidos desde fevereiro de 2015, não alcançava as quartas de final de um Slam desde 2014 e nunca tinha derrotado duas top 10 no mesmo Slam. Tudo isso acabou neste domingo, na vitória sobre Madison Keys (#9) por 6/3 e 6/4.

Foi, no fim das contas, uma vitória do tênis de porcentagem praticado por Wozniacki contra a pancadaria-quase-burra de Keys. Enquanto a americana tentava de todos modos decidir os pontos batendo mais forte na bola, a dinamarquesa usava top spin e tentava deslocar a oponente, mas sem correr riscos desnecessários – até porque Keys tentava agredir até quando estava desequilibrada.

Foi o mesmo tênis que levou Wozniacki ao topo do ranking e o mesmo tênis que ela sempre executou com perfeição – mesmo quando um jogo pedia mudanças táticas. A ex-número 1 pode não ser a tenista mais inteligente ou com a melhor leitura de jogo, mas é taticamente obediente como poucas. Na WTA de hoje, isso vale muito.

O único momento desconcertante para Wozniacki neste domingo veio na entrevista pós-jogo, quando lhe fizeram uma pergunta sobre a carta publicada recentemente no Players' Tribune. A dinamarquesa não soube responder, dando a entender que não se lembrava da carta. Curioso, já que não foi um texto rotineiro. A circulou bastante e foi muito elogiada, aliás. De qualquer modo, parabéns ao ghost writer.

O tombo

Não causou lesão nenhuma, mas Nicholas Monroe foi ao limite da quadra (e um pouco mais) tentando devolver uma cruzada na chave de duplas.

Monroe e Donald Young acabaram perdendo a partida em questão. Pablo Carreño-Busta e Guillermo García-López avançaram por 4/6, 7/6(4) e 6/3.

A punição

No jogo contra Gael Monfils, Marcos Baghdatis levou uma advertência porque deu uma conferida no celular durante uma das viradas de lado. O argumento do cipriota foi engraçado. "E se eu quiser saber que horas são? Não posso ver as horas?" indagou, ignorando completamente o relógio no fundo de quadra.

E não, para quem não sabe, as regras não permitem que atletas tenham acesso a nenhum meio de comunicação eletrônico durante os jogos. Baghdatis poderia muito bem estar lendo mensagens de seu treinador sobre que táticas mudar durante a partida.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.