Topo

Saque e Voleio

NY, dia 2: Serena e Murray dominam, Karlovic faz 61 aces e Tomic xinga fã

Alexandre Cossenza

31/08/2016 00h18

Foi um belo segundo dia de torneio em Nova York. Favoritos como Serena Williams e Andy Murray mostraram ótimo tênis, mas a jornada também teve um recorde de aces quebrado, um australiano desbocado (e adoro como a expressão "australiano desbocado" não deixa claro quem foi) ofendendo um torcedor, uma vitória esperada há três anos por Tipsarevic, nomes de peso que ficaram pelo caminho e até a "derrota do milhão" de Teliana Pereira. O resumaço do dia 2 do US Open está aqui. É só rolar a página e ficar por dentro.

Serena_US16_r1_get_blog

Os favoritos

Campeões são assim, né? Até dão uma vacilada em uma ou outra estreia, mas quando sabem que existe perigo real na primeira rodada, levam a coisa muito a sério. Serena Williams (#1) fez justamente isso nesta terça, abrindo a sessão noturna do Estádio Arthur Ashe. Dominou a russa Ekaterina Makarova (#29), fez 6/3 e 6/3 e avançou à segunda rodada.

Quanto às dores no ombro e o pouco tempo de treino antes do torneio, 12 aces talvez tenham dado uma resposta favorável. Na entrevista pós-jogo, Serena fez o habitual mistério e disse que só saberia na manhã seguinte. De qualquer modo, a número 1 não deve ter muitos problemas contra Vania King na próxima rodada. E talvez nem na terceira fase, contra Allertova ou Larsson.

Abaixo, deixo um link para um gamezinho bobo no qual o usuário precisa ganhar os 22 match points de Serena Williams em seus títulos de torneios do Grand Slam. Quem não conseguir acessar pelo tweet pode acessar por aqui.

Stan Wawrinka (#3) fez uma estreia bastante digna diante de um oponente perigoso como Fernando Verdasco (#46). Teve problemas com o primeiro serviço, mas de modo geral a ideia de sempre arriscar no fundamento não lhe prejudicou. Fez 7/6(4), 6/4 e 6/4, sem perder o saque – salvou quatro break points, inclusive um no último game da partida.

Nunca é demais dizer (e eu digo sempre) que é cedo para tirar conclusões sobre o quão longe um tenista pode ir no torneio, mas é justo afirmar que Wawrinka já fez piores estreias em Slams. Enfrentará Alessandro Giannessi (#243) na segunda rodada antes de um possível confronto com Alexander Zverev (#28) na terceira, onde Stanimal deve ser mais exigido.

Por último, encerrando a noite no Ashe, Andy Murray (#2) jogou firme do começo ao fim para derrotar Lukas Todo-Mundo-Te-Odeia Rosol (#81): 6/3, 6/2 e 6/2. O britânico não cedeu um break point sequer, executou 11 aces e somou 27 winners e apenas 17 erros não forçados. Uma atuação de respeito, sem oscilações, para deixar seus fãs otimistas neste começo de US Open.

O desbocado

Bernard Tomic (#19), aquele que acha ruim quando dizem que ele não será top 10 mas que continua a agir como se não levasse a carreira a sério, aprontou mais uma. Durante a partida contra Damir Dzumhur (#72), após ouvir algo que não gostou de um torcedor, respondeu com a sequência de frases "chupe minhas bolas", "vou colocar minhas bolas na sua boca" e "vou lhe dar algum dinheiro para você se sentir bem".

A sequência aconteceu no primeiro set, quando Dzumhur sacava para fechar a parcial. O bósnio saiu vencedor por 6/4, 6/3, 4/6 e 7/6(0), dando o troco pelo resultado do ano passado. Em 2015, os dois também se encontraram na primeira rodada, mas Tomic foi o vencedor, também em quatro sets.

O recordista

O número mais espetacular do dia chega via Ivo Karlovic (#23), que disparou 61 aces na vitória de cinco sets sobre Yen-Hsun Lu (#73): 4/6, 7/6(4), 6/7(4), 7/6(5) e 7/5. O número é o recorde do torneio, superando a marca anterior, que pertencia a Richard Krajicek. O holandês executou 49 aces em uma vitória sobre Yevgeny Kafelnikov em 1999. Ao ler um tweet de Nick Kyrgios sobre os 61 aces, Karlovic rebateu com sua ironia habitual. "É, tenho uns problemas no ombro." Gênio.

Cabeças que rolaram

Ana Ivanovic (#31) chegou ao US Open vindo de quatro derrotas seguidas – uma delas para Ekaterina Alexandrova, #223, em Wimbledon – mas ostentando uma vaga de cabeça de chave e com uma estreia acessível. Nem assim as coisas foram para o lado da sérvia. A tcheca Denisa Allertova (#89) fez 7/6(4) e 6/1 e despachou a ex-número 1 do mundo.

Ivanovic agora vive a maior sequência de derrotas da carreira (cinco reveses), mas não vai perder pontos porque também foi eliminada na estreia no US Open do ano passado. Aliás, seu histórico recente em Nova York não é nada bom. São quatro derrotas nos últimos cinco jogos. A vitória mais recente veio em 2014, sobre a americana Alison Riske, na primeira rodada.

Entre os homens, a queda mais significativa foi a de David Goffin (#14), que venceu o primeiro set, mas perdeu os três seguintes para o qualifier americano Jared Donaldson (#122): 4/6, 7/5, 6/4 e 6/0. O resultado deixa uma seção com Karlovic, Young, Troicki e Donaldson. Um deles estará nas oitavas para enfrentar – caso não haja zebras – Kei Nishikori.

Além disso, assim como no primeiro dia do torneio, houve várias cabeças rolando, mas sem grandes consequências para a chave. No torneio feminino, Kiki Bertens (#22) foi superada por Ana Konjuh (#92) e Daria Kasatkina (#24) tombou diante de Qiang Wang (#62).

O retorno

Entre os homens, outro cabeça a dar adeus foi Sam Querrey (#30), o algoz de Novak Djokovic em Wimbledon. Curiosamente, quem lhe derrotou nesta terça foi outro sérvio: Janko Tipsarevic (#250), que fez 7/6(4) 6/7(0), 6/3 e 6/3.

Its been a long…long time….Idemo bre💪👍💪

A photo posted by Janko Tipsarevic (@tipsarevicjanko) on

Tipsarevic, ex-top 10, não vencia em um Grand Slam há três anos. Com 32 anos, o sérvio tenta um retorno após sofrer uma lesão no pé que exigiu três cirurgias. O próximo obstáculo para o veterano será um jogo de segunda rodada contra Pablo Carreño Busta. Qualquer que seja o resultado, Tipsarevic não parece ter muitas expectativas. Seu objetivo é "ser o velho Janko ano que vem, no Australian Open."

Para isso, o sérvio sabe que precisa da movimentação que teve até sofrer a lesão no pé. E já começou a trabalhar um professor de biomecânica. O objetivo é melhor sua defesa, e Tipsarevic diz que está readquirindo a confiança em seu corpo para se defender nos momentos mais importantes dos jogos.

Derrota e processo

Vale apontar também a derrota de Eugenie Bouchard, que não é cabeça de chave mas é ex-top 5, finalista de Slam e, mesmo sem jogar o mesmo de dois anos atrás, ainda tem um tênis melhor que seu ranking. A canadense (#39) perdeu em três sets para Katerina Siniakova (#72): 6/3, 3/6 e 6/2. Ah, sim: continua em andamento o processo que Bouchard abriu contra o US Open após a concussão sofrida no ano passado. A canadense levou um tombo ao entrar no vestiário escuro e, por isso, precisou abandonar o torneio. A reportagem do New York Times, linkada no tweet abaixo, dá detalhes sobre o andamento do processo.

Correndo por fora

Simona Halep (#3) é a "primeira da fila", ou seja, é talvez a melhor tenista de hoje que ainda não ganhou um Slam. A romena sabe disso e até largou os Jogos Olímpicos para apostar pesado no US Open. Seu começo em Flushing Meadows foi impressionante: um triunfo por 6/0 e 6/2 sobre Kirsten Flipkens, simplificando uma estreia nada simples. O próximo passo será outro duelo enjoado, agora contra Lucie Safarova (#44), que anotou uma vitória importante sobre Daria Gavrilova (#45) também nesta terça: 6/4 e 6/4.

A chave feminina também teve: a vitória apertada de Venus Williams (#6) sobre Kateryna Kozlova (#93) por 6/2, 5/7 e 6/4; o triunfo tranquilo de Agnieszka Radwanska (#4) sobre Jessica Pegula (#138) por 6/1 e 6/1; e o avanço de Karolina Pliskova (#11), que passou pela convidada Sofia Kenin (#243) por 6/4 e 6/3.

Entre os homens, a lista de vencedores teve: Juan Martín del Potro (#142), que bateu o compatriota Diego Schwartzman (#69) por 6/4, 6/4 e 7/6(3); Kei Nishikori (#7), que passou por Benjamin Becker (#96) por 6/1, 6/1, 3/6 e 6/3; Nick Kyrgios (#16), que avançou ao aplicar um triplo 6/4 sobre Aljaz Bedene (#77); e Dominic Thiem (#10), que esteve perdendo por 2 a 1 e precisou de cinco sets para eliminar John Millman (#66) por 6/3, 2/6, 5/7, 6/4 e 6/3.

A brasileira e a "derrota do milhão"

A participação brasileira nas chaves de simples acabou com uma nota melancólica. Teliana Pereira (#136) levou uma bicicleta (6/0 e 6/0) da espanhola Carla Suárez Navarro (#12). Mais do que a diferença no nível técnico, foi duro de ver a brasileira atuando de forma tão incomum e praticamente desistindo do jogo já no início da segunda parcial. Teliana era a última brasileira viva nas simples. Na chave masculina, Thomaz Bellucci, Rogerinho e Guilherme Clezar foram eliminados na primeira rodada.

Se serve de consolo (e não deveria servir), Teliana embolsou US$ 43.313 por entrar na quadra nesta terça-feira. Esse valor é o que recebe cada tenista derrotado na primeira rodada do US Open. E juntando esse prêmio, Teliana agora soma mais de US$ 1 milhão na carreira. Profissional desde 2013, a pernambucana chegou a Nova York acumulando US$ 989.031. Só na atual temporada, com cinco vitórias e 21 derrotas, mas jogando quase sempre torneios de nível WTA, Teliana já soma pouco mais de US$ 280 mil (valores listados no site da WTA).

Os abandonos

O dia foi cheio de problemas físicos. Philipp Kohlschreiber (#26) perdia por 6/3, 7/5 e 1/0 para Nicolas Mahut (#42) quando abandonou o confronto. O alemão disse ter uma fratura por estresse no pé direito quando desistiu antes de entrar em quadra para a segunda rodada dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Esperava-se, na ocasião, que ele nem disputasse o US Open.

Quem também abandonou foi Alexandr Dolgopolov (#57), que chegou a sacar para fechar o primeiro set contra David Ferrer (#13). O ucraniano abandonou logo depois de ser quebrado pela segunda vez consecutiva, quando o espanhol fez 6/5, ainda na primeira parcial. O motivo informado foram "problemas estomacais".

O descanso coloca Ferrer em ótima posição para a segunda rodada, quando enfrentará Fabio Fognini (#38), que ficou 4h47min em quadra para virar o jogo e derrotar Teymuraz Gabashvili (#105) por 6/7(9), 3/6, 7/6(5), 7/5 e 6/4.

A terceira desistência do dia veio com Borna Coric (#41), que vencia Feliciano López (#18) por 4/3 ainda no primeiro set. O croata sentiu dores fortes no joelho e deixou a quadra mesmo estando com uma quebra de serviço de vantagem.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.