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Saque e Voleio

O nebuloso e divertido cenário pré-US Open (o guia versão masculina)

Alexandre Cossenza

27/08/2016 20h03

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O tênis vive dias estranhos. Roger Federer está fora por causa de problemas no joelho. Rafael Nadal e Novak Djokovic convivem com lesões no punho em graus diferentes e conhecidos apenas por eles. O torneio olímpico lotou o calendário e deixou o cenário pré-US Open ainda mais nebuloso. É assim que o circuito chega a Nova York, com o último Slam da temporada marcado para começar nesta segunda-feira, dia 29 de agosto.

Se ficou difícil prever aquela final básica entre Djokovic e mais alguém do Big Four, está certamente mais divertido olhar a chave e imaginar as dezenas de possibilidades – ainda que o sérvio e o britânico Andy Murray levem nas costas a maior carga de favoritismo por enquanto. E é justamente essa tarefa complicada-porém-fascinante que trago aqui mais uma edição do "guiazão" pré-Slam.

Os parágrafos seguintes oferecem uma análise da chave, a lembrança dos resultados recentes, cotações de casas de apostas, informações sobre transmissões de TV e um exercício de imaginação sobre o que pode acontecer de mais interessante nas próximas duas semanas. É só rolar a página e acompanhar.

Os favoritos / Quem se deu bem

Não dá pra dizer que foi um bom sorteio para Novak Djokovic, já que o #1 do mundo têm, no papel, jogos chatos desde a primeira rodada (contra Jerzy Janowicz) até a semi (Nadal ou Milos Raonic), incluindo um provável duelo de segunda fase contra Jiri Vesely, seu algoz em Monte Carlo, Gasquet ou Isner nas oitavas e Cilic, Tsonga, Sock ou Anderson nas quartas.

A grande incógnita aqui é a lesão no punho esquerdo. Djokovic contou que as dores começaram no Rio, o que explica ele ter atacado muito pouco os slices cruzados de Juan Martín del Potro e a ausência em Cincinnati. O sérvio admite que ainda não está 100% recuperado, mas enfatizou que não há tempo. Em um caminho cheio de obstáculos traiçoeiros, o sérvio vai ter muito trabalho se não entrar em quadra com seu jogo "A".

A chave de Andy Murray não está nem lá nem cá. Há jogos perigosos no caminho, mas a maioria contra conhecidos fregueses. Desde Lukas "todo mundo te odeia" Rosol (revejam o episódio no tweet abaixo) na estreia, incluindo um possível encontro com Gilles Simon (14 a 2 em confrontos diretos) na terceira rodada até um duelo com Kei Nishikori (7 a 1) nas quartas. Talvez a maior casca de banana aí se revele na figura de Grigor Dimitrov nas oitavas. O búlgaro venceu três dos últimos seis jogos contra Murray – inclusive o único deste ano, em Miami.

Pesa a favor do britânico seu ótimo momento. Antes de perder a final de Cincinnati para Marin Cilic, Murray havia vencido 22 jogos seguidos. A versão "copo meio cheio" da história, sempre a preferida entre fãs do atual #2, lembra que o escocês esteve em apuros em muitos desses 22 jogos. A versão "copo meio vazio", porém, ressalta que a fase é tão boa que ele quase sempre conseguiu escapar. Além disso, quando conquistou o ouro olímpico em 2012, Murray emendou seu verão com o título do US Open.

Stan Wawrinka, o cabeça 3 e #1 da Suíça, não tem a pior das chaves, já que tem na outra extremidade Dominic Thiem, possivelmente o mais fraco entre os oito cabeças. O austríaco, aliás, deu bastante sorte, mas isso é assunto para mais adiante. Wawrinka tem uma estreia escorregadia contra Verdasco, mas será favoritíssimo contra Giannessi ou Kudla na segunda rodada e depois contra, talvez, Zverev na terceira. A coisa começa a complicar na segunda semana, com um confronto de oitavas diante de Kyrgios ou Tomic, mas tudo depende de que Stan vai aparecer pra jogar em Nova York. É aquele mistério que vai se revelando aos poucos em cada torneio do Grand Slam.

Terminando a lista dos quatro primeiros, Rafael Nadal e o punho-lesionado-mas-medalhista-de-ouro se colocam numa boa posição no US Open. Daria até para dizer que o espanhol foi o "campeão" do sorteio. Estreia contra Istomin e, se for avançando, vai enfrentar Robert ou Seppi na segunda rodada e possivelmente Ramos-Viñolas na terceira. O cabeça mais forte nas oitavas é Roberto Bautista Agut e, nas quartas, Nadal pode encarar Raonic, Monfils, Cuevas ou Paire.

Em condições normais, Nadal atropelaria esse povo todo e chegaria na semifinal contra Djokovic sem grande drama. Resta saber, entretanto, se seu punho lhe permitirá ir tão longe. Mas há que se considerar também que Nole tem problema semelhante. Logo, o vencedor deste quarto de Rafa Nadal pode nem ter que encarar o número 1 do mundo nas semifinais. Já pensou?

Os brasileiros

O sorteio foi generoso com Thomaz Bellucci, que enfrenta o russo Andrey Kuznetsov (#42) na estreia. Considerando que o #1 do Brasil não é cabeça de chave e poderia ter estreado contra qualquer tenista, é sempre uma boa notícia escapar de qualquer cabeça na estreia. Se avançar, Bellucci enfrentará Ramos-Viñolas ou Benneteau na segunda rodada. Outro jogo ganhável. Só na terceira fase é que o paulista enfrentaria Rafael Nadal.

Rogerinho não deu tanta sorte assim. Ele vai enfrentar Marin Cilic, cabeça 7 e campeão do Masters 1.000 de Cincinnati, logo na primeira rodada. Aos otimistas, uma lembrança: o US Open é o Slam de mais sucesso do paulista, que já venceu três jogos em Nova York (Sorensen em 2011, Gabashvili em 2012 e Pospisil em 2013). O desafio deste ano, contudo, não é dos mais fáceis.

Por fim, o Brasil ganhou uma adição de última hora com Guilherme Clezar, que finalmente furou o qualifying de um Slam pela primeira vez em sua 14ª tentativa. Ele estreará contra outro qualifier, o suíço Marco Chiudinelli, número 144 do mundo. O gaúcho, atual #203, busca sua primeira vitória na carreira em uma chave principal de torneio nível ATP. Até agora, são oito participações (seis como wild card) e oito derrotas. Será que chegou a hora para o jovem de 23 anos?

A grande ausência

Não é novidade, mas o circuito sempre sente falta de Roger Federer, presença constante nos Slams há mais de 15 anos. O suíço anunciou antes dos Jogos Olímpicos que ficará afastado até o ano que vem para dar tempo de curar totalmente o joelho operado no começo de 2016.

Se serve de consolo, o suíço foi a Nova York para divulgar a Laver Cup, competição por time que colocará Europa x Resto do Mundo em Praga, em setembro do ano que vem. O evento é uma espécie de Ryder Cup do tênis e já tem presenças confirmadas de Federer e Nadal. Bjorn Borg e John McEnroe serão capitães. Ainda há muita coisa no ar e não dá para saber se será uma competição realmente levada a sério (como acontece com a Ryder Cup no golfe) ou se será uma série de exibições de luxo como a IPTL.

Ainda sobre ausências, vale lembrar que Tomas Berdych estará fora do US Open por causa de uma apendicite. Sim, o mesmo Tomas Berdych que não veio ao Rio de Janeiro com medo do vírus zika.

Os melhores jogos nos primeiros dias

David Ferrer x Alexandr Dolgopolov é aquele jogo que todos vão dizer "eu já sabia" se for ao quinto set, né? E tem mais coisa boa na primeira rodada deste US Open. Minha lista de preferidos tem Wawrinka x Verdasco, Feliciano López x Coric, Simon x Stepanek (pelo contraste de estilos), Murray x Rosol (vide vídeo lá no alto) e, meu favorito disparado, Milos Raonic x Dustin Brown!

A rodada também terá confrontos atraentes entre americanos: John Isner pega o convidado Francis Tiafoe, enquanto Jack Sock encara Taylor Fritz. Ótimos para fazer a imprensa americana tirar do baús os clichês "confronto de gerações", "passagem do bastão" e aí por diante.

O tenista mais perigoso "solto" na chave

O nome óbvio aqui é Juan Martín del Potro, que entra como wild card porque é apenas o número 142 do ranking. Sem ser cabeça de chave, o medalhista de prata e algoz de Djokovic e Nadal nos Jogos Olímpicos estreia contra o compatriota Diego Schwartzman e pega o vencedor de Johnson x Donskoy na segunda rodada.

Para muita gente, Delpo é favorito para bater Johnson, cabeça 19, e ir mais longe. Se isso acontecer, aguardemos um jogo interessantíssimo contra David Ferrer (ou Fognini ou Dolgopolov) na terceira rodada e, quem sabe, um duelo com Thiem nas oitavas. Tenho aqui minhas dúvidas se Del Potro deveria ser mesmo tão favorito assim contra Steve Johnson, viu?

Quem pode surpreender

Quando os favoritões estão lesionados, existe uma chance maior de nomes não tão manjados no fim da segunda semana – pelo menos no papel. Foi o caso de Dominic Thiem, que pegou uma chave esburacada em Roland Garros e chegou até a semifinal. Em Nova York, o austríaco estreia contra Millman, pega Berankis/Jaziri na segunda rodada e, possivelmente, Querrey na terceira. É uma chave bem acessível. O oponente de maior nome no caminho até a semi seria Wawrinka, que está longe de ser o tenista mais confiável do planeta. Assim sendo, não parece nada impossível imaginar Thiem superando Ferrer/Delpo/Dolgo/Fognini nas oitavas e alcançando as semifinais depois de vitória sobre Kyrgios/Tomic/Zverev/Stan.

Na parte de cima da chave, minha aposta de azarão seria Cilic. Afinal, eu quase sempre aposto nele correndo por fora. Mas aí tudo depende também da forma física de Djokovic, que enfrentaria o croata nas quartas de final. Será?

Onde ver

SporTV e ESPN transmitirão o US Open. O site do canal da Globosat indica que o torneio será exibido no SporTV3, mesmo canal que já vinha sendo usado para exibir a programação de tênis da emissora. O site da ESPN, por sua vez, prevê transmissões na ESPN e na ESPN+, além do não tão confiável WatchESPN, que trava sempre que algum programa é muito assistido.

Nas casas de apostas

A conhecida casa bet365 coloca Djokovic – sempre ele – como mais cotado ao título do US Open. Na manhã deste sábado, a conquista do sérvio paga 6/5, ou seja, o apostador ganha seis reais para cada cinco investidos no número 1 do mundo. A maior curiosidade dessa lista talvez seja a presença de Juan Martín del Potro à frente de gente como Nadal e Wawrinka.

O top 10 da bet365, além de Djokovic, tem Murray (15/8), Raonic (14/1), Del Potro (18/1), Nadal (20/1), Wawrinka (20/1), Cilic (25/1), Nishikori (25/1), Kyrgios (40/1) e Tsonga (66/1). A título de curiosidade, um título de Bellucci paga 1.000/1 enquanto Rogerinho e Clezar estão cotados em 2.000/1.

O guia feminino

Não vai dar tempo de publicar o guia para a chave feminina ainda hoje. Ele deve pintar aqui no blog amanhã (domingo). Até lá!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.