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Wimbledon, dias 1 e 2: uma história fantástica, chuva e ameaças de morte

Alexandre Cossenza

28/06/2016 16h06

Não foi possível publicar um texto só do primeiro dia (problemas pessoais), então o resumaço de hoje traz logo tudo sobre o que rolou na segunda e na terça-feira no Torneio de Wimbledon. Foram poucas zebras e é cedo para grandes conclusões sobre o que esperar da segunda semana, mas já temos a história espetacular do britânico Marcus Willis e ameaças de morte ao sul-africano Kevin Anderson. Ah, sim: como é Londres, já choveu e atrasou a programação.

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Os favoritos

Entre as mulheres, Garbiñe Muguruza, número 2 do mundo, foi a primeira a estrear e vencer. Mostrou um tênis sólido, apesar de perder um set para a a perigosa Camila Giorgi (#67), e avançou por 6/2, 5/7 e 6/4. O mesmo valeu para Serena Williams, que não foi tão exigida, mas deu conta do recado, aplicando 6/2 e 6/4 sobre a qualifier suíça Amra Sadikovic por 6/2 e 6/4.

Na chave masculina, Novak Djokovic abriu a programação da Quadra Central derrotando o convidado britânico James Ward (#177) por 6/0, 7/6(3) e 6/4. O encontro parecia um passei de Djokovic até o 6/0 e 3/0, mas o sérvio perdeu um serviço na segunda parcial e deixou Ward equilibrar as ações por algum tempo. Ainda assim, foi uma apresentação digna do número 1 do mundo.

Roger Federer (#3), por sua vez, teve mais trabalho diante uma bela e surpreendente atuação do argentino Guido Pella (#52). Ainda sem mostrar seu melhor tênis, o suíço precisou de dois tie-breaks (e saiu de um desconfortável 0/30 no 5/6 no segundo set) para fazer 7/6(5), 7/6(3) e 6/3. Não deixa de ser preocupante para os fãs do suíço. Com uma devolução (fundamento quase deixado de lado por tenistas que passam boa parte da carreira jogando Challengers no saibro) um pouco melhor, Pella poderia ter complicado muito mais a vida do ex-número 1.

Se serve de consolo, vale o número de 4 mil winners registrados pelo torneio. Além disso, talvez se aplique aqui o velho e verdadeiro clichê: torneios não se ganham na primeira rodada. Logo, Federer tem tempo para trabalhar em seu jogo e chegar mais afiado na segunda semana.

Por fim, já nesta terça-feira, Andy Murray (#2) fez o que tinha que fazer, derrotando o também britânico Liam Broady (#235), wild card, por 6/2, 6/3 e 6/4. Nada muito a comentar aqui, a não ser pelos 31 winners em 27 games, o que pode ser considerado um número bom para o vice-líder do ranking.

Cabeças que rolaram

Ana Ivanovic (#25), com uma lesão no punho, descobriu tarde demais que não deveria nem ter entrado no torneio. Acabou eliminada pela qualifier russa Ekaterina Alexandrova, número 223 do ranking, por 6/2 e 7/5. Ainda na segunda-feira, Irina Begu (#27) tombou diante da alemã Karina Witthoeft (#109) por 6/1 e 6/4.

Na chave masculina, lembram de Gael Monfils (#16), o cidadão que pegou as chaves mais fáceis do mundo em Indian Wells, Miami e Monte Carlo? Pois é, o francês foi eliminado pelo compatriota Jérémy Chardy (#34) em cinco sets: 6/7(4), 6/0, 4/6, 6/1 e 6/2. O placar, que não pode ser considerado uma grande zebra (nem pequena, talvez?), marca a terceira derrota seguida de Monfils, que vai chegar a dois meses sem uma vitória.

Outro cabeça eliminado na segunda-feira foi Pablo Cuevas (#24), derrotado pelo russo Andrey Kuznetsov (#42) também em cinco sets: 6/3, 3/6, 5/7, 6/3 e 6/4. Também não seria surpresa, mas o uruguaio vinha embalado por uma final em Nottingham, onde foi vice-campeão.

A ameaça de morte

Outro cabeça de chave masculino que deu adeus precoce foi Kevin Anderson (#25), que esteve vencendo por 2 sets a 0 e levou uma virada inesperada de Denis Istomin (#116): 4/6, 6/7(13), 6/4, 7/6(2) e 6/3. O resultado trouxe duas consequências imediatas: dentro do campo esportivo, um caminho menos complicado para David Goffin (e, talvez, para Milos Raonic); fora dele, ameaças de morte para o sul-africano eliminado.

Normalmente, comentários desse tipo vêm de pessoas que apostaram e perderam alguma quantia de dinheiro na partida.

Correndo por fora

A segunda-feira feminina foi um resultado de poucas surpresas e contou com vitórias de Venus Williams, Angelique Kerber, Madison Keys, Karolina Pliskova, Simona Halep e Sabine Lisicki. A única desse grupo a precisar de três sets foi Pliskova, que levou um pneu bateu Yanina Wickmayer em um terceiro set longo e dramático, com parciais de 6/2, 0/6 e 8/6. Vale lembrar que a tcheca foi campeã em Nottingham, vice em Eastbourne e está bem cotada em Wimbledon.

Entre os homens, Kei Nishikori e Milos Raonic também confirmaram seu favoritismo sem drama além do necessário. O japonês fez 6/4, 6/3 e 7/5 em cima do perigoso (na grama) Sam Groth (#124), enquanto o canadense eliminou o espanhol Pablo Carreño Busta (#46) por 7/6(4), 6/2 e 6/4.

Na terça-feira, duas boas notícias logo cedo. Primeiro, Nick Kyrgios (#18) bateu Radek Stepanek (#121) em uma partida divertida e com variações e marcou um duelo interessantíssimo com Dustin Brown (wild card, #85), que superou Dusan Lajovic (#82) em cinco sets: 4/6, 6/3, 3/6, 6/3 e 6/4. Pouco depois, Stan Wawrinka (#5) bateu Taylor Fritz (#65) em quatro sets, enquanto Juan Martín del Potro (#165) superou Stéphane Robert (#79) em três. Suíço e argentino farão certamente o duelo mais esperado da segunda rodada.

Outros nomes importantes a vencerem na terça-feira foram Jo-Wilfried Tsonga (#12) e Richard Gasquet (#10), que não perderam sets contra Iñigo Cervantes e Aljaz Bedene, respectivamente.

Na chave feminina, Dominika Cibulkova (#18) bateu Mirjana Lucic-Baroni (#53) por 7/5 e 6/3 e conquistou sua sexta vitória consecutiva. A eslovaca, afinal, foi campeã do WTA de Eastbourne, único torneio de que participou na grama este ano. Quem também avançou foi Svetlana Kuznetsova (#14), que triunfou no esperadíssimo duelo com Caroline Wozniacki (#45) por 7/5 e 6/4.

A chuva

Ela apareceu no segundo dia do torneio, já provocando um punhado de adiamentos. Radwanska x Kozlova, Kvitova x Cirstea e Bencic x Pironkova foram alguns dos jogos cancelados antes mesmo do início na chave feminina.

Entre os homens, destaque para quatro jogos que foram interrompidos. Fernando Verdasco (#53) e Bernard Tomic (#19) começariam o quinto set na Quadra 2; Tomas Berdych liderava por 2 sets a e 4/1 contra Ivan Dodig na Quadra 18; Alexander Zverev tinha 6/4, 6/3 e 3/0 sobre Paul-Henri Mathieu na Quadra 16; e Dominic Thiem e Florian Mayer ainda estavam no quarto game do primeiro set na Quadra 3.

A organização pelo menos incluiu uma partida extra na Quadra Central: Coco Vandeweghe x Kateryna Bondarenko. A americana (#30), quadrifinalista de Wimbledon no ano passado e campeã em 's-Hertogenbosch este ano, levou a melhor por 6/2 e 7/6(3).

Os brasileiros

Thomaz Bellucci (#62) finalmente voltou a venceu um jogo na grama. Depois de cinco anos de seca, o número 1 do Brasil aproveitou o sorteio favorável e derrotou em cinco sets o qualifier belga Ruben Bemelmans (#193) por 3/6, 6/4, 6/3, 1/6 e 8/6, em 2h43min. Na próxima rodada, o paulista vai enfrentar o americano Sam Querrey (#41), que vem de vitória dramática sobre Lukas Rosol (#73): 6/7(6), 6/7(5), 6/4, 6/2 e 12/10.

Rogerinho (#89) também jogou cinco sets, mas sucumbiu diante de Nicolás Almagro (#47) por 6/3, 7/6(6), 5/7, 3/6 e 6/3. Teliana Pereira (#88), por sua vez, venceu pela primeira vez na carreira um set em uma chave principal na grama, mas acabou derrotada pela americana Varvara Lepchenko (#64): 5/7, 7/6(3) e 6/2. A pernambucana deve perder algumas posições no ranking, mas vale citar por curiosidade que ela ficará à frente de Maria Sharapova. Atual número 37 do mundo, a russa que tem 780 pontos descontados por não jogar em Wimbledon e ficará, na melhor das hipóteses, no 94º posto.

A melhor história

Marcus Willis, juvenil de talento, perdeu a motivação para o tênis, engordou muito, não teve sucesso como profissional e vinha dando aulas no Warwick Boat Club. Pensou em aceitar uma proposta para ser treinados nos EUA, mas a namorada disse a ele que não fosse. Número 772 do mundo, Willis passou pelo pré-qualifying, depois pelo qualifying, e estreou com vitória na chave principal de Wimbledon ao bater Ricardas Berankis (#54) por 6/3, 6/3 e 6/4.

Vale registrar que até o começo de Wimbledon Marcus Willis somava apenas US$ 292 em prêmios acumulados nesta temporada. Agora, embolsou 50 mil libras e já garantiu um salto de pelo menos 300 posições no ranking. E, para completar o conto de fadas, vai enfrentar na segunda rodada… Roger Federer! A entrevista coletiva do inglês de 25 anos foi imperdível.

Os melhores lances

Que tal esse lob vencedor por baixo das pernas de Nick Kyrgios?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.