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Roland Garros 2016: o guia (versão masculina)

Alexandre Cossenza

20/05/2016 18h25

Murray_Djokovic_Nadal_col_blog

Equilíbrio, pero no mucho. Com Rafael Nadal campeão em Monte Carlo, Novak Djokovic levantando o troféu em Madri, e Andy Murray conquistando o território romano, é de se imaginar que está "tudo aberto", como gostam de dizer por aí, em Roland Garros 2016. Na prática, não é bem assim. O número 1 do mundo, mais consistente entre os três, ainda é o nome mais cotado.

Qualquer coisa que seja um título de fora deste trio será uma grande surpresa. Até mesmo se o imprevisível e imprevisivelmente genial Stan Wawrinka tirar da cartola mais duas semanas espetaculares e repetir a façanha de 2015. E quem corre por fora, além de Wawrinka? Kei Nishikori e Dominic Thiem são os primeiros nomes na cabeça de quase todos. Milos Raonic não pode ser totalmente descartado, ainda que o piso não lhe seja o mais favorável.

O porquê do favoritismo de Djokovic e a lista de nomes que podem surpreender nas próximas semanas é o que tenta avaliar este guiazão da chave masculina. Role a página, leia e faça sua previsões se quiser.

Os favoritos / Quem se deu bem

Soa paradoxal afirmar que Novak Djokovic teve um sorteio favorável ao mesmo tempo em que o sérvio caiu do mesmo lado de Rafael Nadal na chave. Só que o número 1 do mundo parece ter um caminho bastante tranquilo até a semi, o que lhe permite tempo para calibrar os golpes, testar táticas e poupar o corpo. Depois da estreia contra Lu, Djokovic pega Ilhan/Darcis na segunda rodada, e Delbonis/Carreño Busta/Melzer/Bedene na terceira. Nas oitavas, encara quem avançar no grupo que tem Bautista Agut, Tomic, e Coric. Enfim, nas quartas, seus adversários mais perigosos em potencial seriam Ferrer, Berdych, Feliciano e Cuevas. Há que se considerar e ressaltar aqui o mau momento de Ferrer e Berdych, que contribui bastante para abrir o caminho ao sérvio.

Nadal tem uma rota mais turbulenta, que pode incluir Fognini já na terceira rodada, Thiem nas oitavas e Tsonga/Goffin nas quartas. Nada disso, porém tira – até as semifinais – o favoritismo do eneacampeão (tente escrever isso sem parar pra pensar em incluir um ponto de exclamação em algum lugar) !!! (Pensei e decidi incluir assim mesmo). O grande ponto de interrogação aqui é sobre o quanto Nadal conseguirá evoluir até as semifinais. Desde Indian Wells, o atual #5 do mundo vem crescendo e se mostrando mais sólido a cada dia. O duelo de Roma, contudo, mostrou que ainda falta algo para construir uma ameaça real a Djokovic. Os próximos dez dias serão fundamentais, e é até possível que a chave mais dura ajude Nadal nessa tarefa.

Entre os três principais cabeças, eu escolheria a chave de Andy Murray como a minha preferida. Um pouco porque Wawrinka, o cabeça mais forte dessa metade, não deu indícios até agora de que chegará à semifinal, mas também porque o único adversário real para o britânico até lá parece ser Kei Nishikori. É bem verdade que Murray pode ter um daqueles dias pavorosos e ficar pelo caminho enquanto esbraveja consigo mesmo dentro de quadra, mas não é isso que os últimos torneios sugerem. Também ajuda o fato de que Gasquet e Kyrgios caíram no mesmo quadrante do japonês. Assim, o britânico só enfrentará um deles.

Por fim, Wawrinka não deu azar. Se aprumar seu jogo a tempo, tem boas chances de ir longe em um caminho que tem Rosol na estreia, Klizan/Daniel na segunda rodada e possivelmente Chardy ou Mayer na terceira. Seu adversário de oitavas sai do grupo que tem Simon, Troicki, Dimitrov e Pella. Se chegar às quartas, Stanimal enfrentaria o "campeão" do setor de Raonic, Cilic, Pouille e Sock. Não parece nada ruim, certo? É como se o sorteio mandasse um "me ajuda a te ajudar" para o suíço. Resta saber se Wawrinka vai conseguir fazer o dever de casa.

Os brasileiros

Como ninguém venceu nem um jogo no quali, o Brasil começa a chave principal com Thomaz Bellucci e Rogerinho. O sorteio não foi nada generoso. O número 1 do Brasil enfrenta Richard Gasquet, cabeça 9, logo de cara. Se vencer, tem um bom jogo contra o vencedor de Querrey x Fratangelo antes de, quem sabe, duelar com Nick Kyrgios na terceira rodada. Há muito em jogo na partida de estreia.

O primeiro de Rogerinho será contra Gilles Simon, o cabeça de chave 16. Um dos maiores azarões do evento (vide cotações no fim do post), o número 2 do Brasil enfrentará Schwartzman ou Pella se passar por Simon. Em uma eventual campanha até a terceira rodada, o rival deve ser Dimitrov ou Troicki.

A grande ausência

Depois de 65 Slams disputados de forma consecutiva, Roger Federer ficará fora de Roland Garros. Recuperando-se de uma lesão nas costas (é, pelo menos, a versão oficial, embora há quem suspeite do joelho operado), o suíço optou por não jogar no saibro francês e voltar na temporada de grama.

A decisão faz todo sentido do mundo. Mesmo em 100% de condições, Federer não seria favorito ao título. Sem estar em um momento ideal fisicamente e sem fazer uma preparação adequada na terra batida, não há por que o suíço se desgastar em jogos melhor de cinco sets. Com o currículo que tem, Federer não tem motivo para se preocupar com o ranking ou com pontinhos aqui e ali.

Sua meta é conquistar torneios grandes, e sua melhor chance de vencer um Slam continua sendo Wimbledon. Jogar em Roland Garros agora poderia agravar a lesão e, aí sim, prejudicar sua participação no Slam da grama.

Os melhores jogos nos primeiros dias

São vários os duelos interessantes logo na primeira rodada em Roland Garros. Que tal Bellucci x Gasquet de saída? Ou Almagro x Kohlschreiber, outro jogo com enorme potencial? A lista de jogos imperdíveis ainda inclui Dimitrov x Troicki, Raonic x Tipsarevic, Fritz x Coric, Tomic x Baker e, se você gosta de jogo típico de saibro, vale ficar ligado em Schwartzman x Pella.

Entre os jogos envolvendo favoritos, não dá para descartar a possibilidade de zebra, ainda que pequena, em Wawrinka x Rosol, e o duelo entre Murray e Stepanek deve render meia dúzia de lances bacanas de conferir.

O que pode acontecer de mais legal

Por não ser cabeça de chave, Alexander Zverev ficou quase escondido no quadrante que tem Rafael Nadal. Se confirmar seu favoritismo contra Herbert na estreia, o alemão de 19 anos, #48 do mundo, deve encarar Kevin Anderson na segunda rodada. O sul-africano, vale lembrar, só venceu um jogo no saibro este ano, e Zverev é um grande candidato a zebra aqui. Se vencer, pode até reencontrar Dominic Thiem, contra quem decide o título de Nice neste sábado. Será?

Os tenistas mais perigosos que ninguém está olhando

Adoro escalar Marin Cilic para esta seção dos guias de Slams, em parte porque o croata costuma ser subestimado por muitos. Neste caso, porém, Cilic está fora do radar porque não fez nenhum torneio no saibro até esta semana, em Genebra. Só que a campanha em Genebra, que inclui uma vitória na semifinal sobre Ferrer (que está em péssima fase, é verdade) e uma decisão contra Wawrinka, pode ser um indício de algo interessante em Paris. O campeão do US Open de 2014 caiu em uma seção não tão dura (o mesmo quadrante de Wawrinka) e pode muito bem ir mais longe do que muita gente está prevendo.

Um raciocínio parecido pode se aplicar a Jack Sock, que pode encarar Cilic na terceira rodada. O americano, dono de um top spin considerável no forehand, tem resultados interessantes no saibro em 2016 (final em Houston, oitavas em Madri) e, na semana certa, tem potencial para aprontar. Por enquanto, é difícil imaginá-lo perdendo antes da terceira rodada. Se vencer esse jogo, deve encarar Raonic nas oitavas. Não seria a maior zebra do mundo se conseguisse dar mais esse passo.

Onde ver

A transmissão é do Bandsports, que diz, em suas notícias, que mostrará o evento em "canal e site". O hotsite do canal para o torneio, no entanto, ainda contém apenas as notícias do ano passado.

Nas casas de apostas

O favoritismo de Novak Djokovic é amplo. Na bet365, um título do número 1 do mundo paga 1,80/1, ou seja, o apostador que investir um dólar receberá 1,80 de volta se Nole for campeão. Andy Murray (5/1) e Rafael Nadal (5,50/1) vêm logo atrás. O top 10 de favoritos ainda tem, na ordem, Wawrinka (13/1), Nishikori (21/1), Thiem (41/1), Kyrgios (67/1), Tsonga (67/1), Raonic (67/1) e Berdych (81/1). Apenas a título de curiosidade, Bellucci paga 501/1, enquanto Rogerinho paga 2001/1. Os maiores azarões são Rajeev Ram e Brian Baker, ambos cotados em 3001/1.

Na Betfair, as cotações na tarde desta sexta-feira eram assim: Djokovic (1,91), Murray (5,1), Nadal (7,4), Wawrinka (16,5), Nishikori (30), Thiem (70), Kyrgios (85), Tsonga (140), Ferrer (160) e Goffin (250).

O guia feminino

Com tanta coisa para analisar, pesquisar, escrever e editar, não vai dar tempo de publicar o guia para a chave feminina ainda hoje. Ele deve pintar aqui no blog amanhã (sábado), um pouco antes do podcast Quadra 18, que terá uma edição especial pré-RG cheia de palpites. Temos até um quiz desta vez. Então, segurem suas calças porque muita coisa ainda vai rolar por aqui. Até o próximo post!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.