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Saque e Voleio

O pneu e a luta interna de Thomaz Bellucci

Alexandre Cossenza

14/05/2016 15h23

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No fim das contas, não teve valor prático. Thomaz Bellucci fez 6/0 sobre Novak Djokovic no primeiro set do duelo nas oitavas de final do Masters 1.000 de Roma, mas foi o número 1 do mundo que se classificou à fase seguinte, triunfando por 0/6, 6/3 e 6/2. É justo dizer que a atuação deu certa confiança ao número 1 do Brasil. Não é todo dia que o sérvio perde seis games seguidos. Por outro lado, também é justo dizer que Bellucci deixaria a quadra com a mesma dose de ânimo se tivesse perdido por 6/7, 6/3 e 6/2, desde que mostrasse um bom nível de tênis – como fez na quinta-feira, na capital italiana.

Há, no entanto, o que tirar daquele primeiro set, que durou pouco, mas apontou alguns caminhos que Bellucci já se recusou a tomar em momentos anteriores de sua carreira. Nos 25 minutos que duraram aqueles seis games, o brasileiro executou apenas duas bolas vencedoras, mas mostrou consistência e bolas profundas enquanto Djokovic cometia erro após erro. A questão é que o número 1 do mundo não perdeu o set sozinho. Foram muitas falhas, é verdade, mas elas vieram em boa parte porque Djokovic não teve muitas opções para atacar sem correr riscos e, principalmente, porque Bellucci não forçou o jogo além do necessário contra um rival de peso.

E aí está um ponto que deveria ser mais levantado por quem acompanha o paulista. Toda vez que enfrenta um rival de nível reconhecidamente superior, Bellucci arrisca menos, aceita trocas de bola mais longas e ataca com mais inteligência, dando pouquíssimos pontos de graça. É diferente de quando Bellucci se vê diante de oponentes de menor calibre. Em muitos desses jogos, o brasileiro não mostra a paciência necessária para alongar trocas e esperar um momento melhor para atacar. Quando joga contra um rival com menos peso de bola, Bellucci força o jogo, muda a direção com mais frequência e corre mais riscos, buscando definir os pontos em momentos que não são necessariamente os mais adequados. Logo, erra mais, dá pontos de graça e estimula a tática que muitos no circuito adotam contra ele: longas trocas à espera de erros não forçados. É muito por isso – também – que Bellucci soma no currículo tantas derrotas diante de adversários de nível inferior.

Foram poucos os momentos na carreira em que Bellucci resolveu colocar todas fichas em sua consistência. Era assim que Larri Passos desejava que seu então pupilo atuasse e foi assim que o paulista derrotu Andy Murray e Tomas Berdych para alcançar as semifinais do Masters 1.000 de Madri em 2011. Foi naquele ano e jogando assim, lembremos, que o brasileiro esteve perto de eliminar Novak Djokovic, que vinha invicto na temporada. Bellucci acredita que a parceria com Larri e o estilo de jogo mais paciente – ou "pagando para ver", como o próprio atleta descreve – não trouxe resultados consistentes. Em nossa conversa no início deste ano, afirmou que "não foi um ano" bom aquele vivido com o ex-técnico de Gustavo Kuerten. Por isso, decidiu mudar.

Trocando em miúdos, Thomaz Bellucci não acredita que essa tática lhe dê resultados. Querer que ele jogue sempre assim, com mais paciência, é pedir para que o número 1 do Brasil viva um conflito interno a cada ponto. É como se a cada giro da bolinha vindo da quadra adversária a matemática trocasse sopapos com a vontade louca de disparar um winner. Uma luta louca como WWE, com um vencedor diferente a cada minuto e que resulta em atuações e resultados inconsistentes. Um combate equilibrado como Rocky vs Apollo e, aparentemente, igualmente eterno.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.