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Australian Open 2016: o guia masculino

Alexandre Cossenza

15/01/2016 17h41

Nem parece que faz tanto tempo assim que a temporada acabou, mas 2016 já está aí, com um Grand Slam na nossa frente, depois de duas semanas de torneios e mais um título de Novak Djokovic, que parece novamente favorito a tudo. As chaves do Australian Open foram sorteadas nesta sexta-feira (noite de quinta no Brasil) e já dá para imaginar muita coisa interessante nas próximas duas semanas.

Quem são os favoritos? Quem se deu bem no torneio? Alguém pode surpreender? Quais são os melhores jogos nas primeiras rodadas? Este guiazão da chave masculina do Australian Open tenta oferecer respostas para tudo isso. Role a página, fique por dentro e sinta-se à vontade para dar seus palpites na caixinha de comentários. Ah, sim: não deixe de voltar no sábado para ler sobre a chave feminina e no domingo para ouvir o podcast Quadra 18 especial pré-torneio!

Os favoritos / Quem se deu bem

O favorito é o de sempre, até pelo início fulminante de Novak Djokovic, campeão em Doha. Não quer dizer, porém, que ele tenha sido o "campeão do sorteio". O título honorário concedido pelo Saque e Voleio é de Rafael Nadal (#5), que não está entre os quatro principais cabeças de chave e pode considerar um troféu não ter que encarar Nole já nas quartas de final.

Mas não é só isso. O espanhol tem uma chave que, se não é mais tranquila, lhe coloca diante de adversários que darão ritmo de jogo nas fases iniciais, algo essencial para Rafa atualmente. É o caso de Fernando Verdasco, seu rival na estreia, e de Sela/Becker na segunda rodada (um pouco menos no caso do alemão). O primeiro oponente de nome para Nadal seria Monfils/Anderson nas oitavas e, nas quartas, seu rival sai do grupo que tem Wawrinka, Raonic, Sock e Troicki. A semi seria contra Andy Murray, mas hoje em dia parece um abuso dar como certa a presença do espanhol entre os quatro últimos vivos na chave.

A grande questão é que, embora Nadal e seu tio Toni digam que Rafa é, hoje, um tenista melhor e mais confiante do que o de 2015, a campanha em Doha pouco fez para comprovar essa tese. Vitórias sobre Carreño Busta, Haase, Kuznetsov e Marchenko não são exatamente uma prova de fogo às vésperas de um Slam. A estreia, contra Verdasco, talvez deixe esse cenário um pouco mais claro.

Murray, na outra ponta dessa metade da chave, tem uma casca de banana logo na estreia, mas de modo geral o sorteio foi bom ao escocês. Alexander Zverev é uma promessa e tem um jogo cheio de recursos, mas ainda não mostrou o suficiente para derrotar o vice-líder do ranking em melhor de cinco sets – a não ser, é claro, que Murray saia da cama com o pé errado, o que nunca foi tão raro, convenhamos.

Fora isso, sua estrada parece bem pavimentada com Groth/Mannarino na segunda rodada; Sousa, Kukushkin, Giraldo ou Young na terceira rodada; Tomic/Fognini nas oitavas; e Ferrer, Johnson, Feliciano ou Isner nas quartas. Junte isso ao ótimo histórico de Murray em Melbourne, e o escocês é mais uma vez favorito para alcançar outra decisão. Levantar o troféu? Aí é outro papo.

Antes de pular para a outra página, cabe dizer que Stan, o cabeça 4, talvez tenha sido o mais azarado do top 5. Não que Tursunov vá lhe incomodar na estreia ou que um qualifier seja ameaça na segunda rodada, mas a possibilidade de encarar Jack Sock (finalista em Auckland) na terceira fase e Raonic (campeão em Brisbane) nas oitavas lhe coloca em uma parte ingrata da chave. E pensar que cinco dias atrás o suíço estava tão feliz, comemorando o título em Chennai…

A metade de cima da chave tem Djokovic e Federer, mas também tem Nishikori e Berdych. O número 1 do mundo não está numa parte complicada da chave, mas com seu nível atual de jogo, a impressão que fica é que qualquer caminho seria transcorrido sem demora.

Assim, não me parece que seus fãs tenham muito a temer. Nem na estreia contra o sul-coreano Hyeon Chung, que tem 19 anos e já é o #51, nem na segunda rodada contra Halys ou Dodig. Muito menos na terceira, quando enfrentará Krajinovic, Kudla, Gabashvili ou Seppi. Ou nas oitavas, diante de Karlovic ou Simon.

O único nome que pode ser uma ameaça real é Kei Nishikori, que enfrentaria Djokovic nas quartas. O japonês, entretanto, não parece uma certeza absoluta indo tão longe no torneio. Nishikori estreia contra o perigoso Philipp Kohlschreiber e sua seção ainda tem Jo-Wilfried Tsonga, possível oponente nas oitavas.

Para Federer, seu maior revés no sorteio foi cair do mesmo lado de Djokovic. Não que sua chave seja necessariamente fácil. A estreia é contra Basilashvili e, depois, podem aparecer eu seu caminho Dolgopolov na segunda rodada, Dimitrov na terceira, Thiem/Goffin nas oitavas e Cilci/Kyrgios/Bautista/Berdych nas quartas.

Ao mesmo tempo, nas condições normais de temperatura e pressão, quem apostaria em uma derrota do suíço para os fregueses Dimitrov e Goffin ou para o jovem Thiem? O jogo das quartas pode, finalmente, lhe apresentar alguns desafios, mas ainda assim Federer deve chegar lá como favorito.

Os brasileiros

Thomaz Bellucci, que não é cabeça de chave, não poderia ter rezado por um sorteio mais favorável. Vindo de duas derrotas seguidas em Brisbane e Sydney, o número 1 do Brasil estreará no Australian Open contra o convidado Jordan Thompson, número 149 do mundo, que vem de uma semifinal no Challenger de Nova Caledônia (!). Caso avance, Bellucci terá pela frente Steve Johnson (#32) ou Aljaz Bedene (#49). Parece justo afirmar que Johnson é o mais, digamos, "acessível" dos cabeças de chave em Melbourne.

Resumindo, as chances são boas para que o paulista, em sua oitava participação no Slam australiano, alcance pela primeira vez a terceira rodada. Caso isso aconteça, Bellucci pode enfrentar David Ferrer. Aí, sim, seria um duelo complicado.

Vale lembrar que o Brasil teve dois simplistas no qualifying: André Ghem e José Pereira. Ambos, no entanto, foram eliminados na primeira rodada. Rogerinho, Feijão e Clezar, que também teriam ranking para o torneio pré-classificatório na Austrália, optaram por disputar Challengers no saibro na América do Sul.

A chave de duplas será sorteada no domingo (noite deste sábado no Brasil), mas já se sabe que o Brasil terá cinco representantes na modalidade. Marcelo Melo, que joga ao lado de Ivan Dodig; Bruno Soares, novo parceiro de Jamie Murray; André Sá, que dá continuidade ao time com o australiano Chris Guccione; e a dupla formada por Thomaz Bellucci e Marcelo Demoliner.

Os melhores jogos nos primeiros dias

Lleyton Hewitt, 34 anos, já não joga o circuito mundial inteiro há um tempo, mas esteve nos Slams ano passado e quase conseguiu levar a Austrália à final da Copa Davis. Agora capitão do time, encerrará a carreira em Melbourne. Já em clima de despedida, postou nesta sexta, no Twitter, uma foto do "último treino com o grande Roger Federer."

Sua estreia – e talvez despedida – será com o também australiano (e também wild card) Kevin Duckworth. É um jogo para o mundo inteiro prestar atenção, não só pela possibilidade de ser o último de Rusty, mas porque parece igualmente certo que o ex-número 1 vai lutar como sempre. É sempre algo memorável.

Ainda em modo saudosista, outro duelo interessante de primeira rodada é Rafael Nadal x Fernando Verdasco, uma reedição da espetacular semifinal de 2009. Não esperem, contudo, nada tão fantástico desta vez.

Primeiro porque Rafael Nadal não é mais o tenista dominante de seis anos atrás, e depois porque seu compatriota está muito, muito longe daquele nível. Maaaaas como Verdasco venceu o último duelo entre eles em quadra dura (Miami/2015), vale prestar atenção.

Também acho que pode sair coisa boa de Isner x Janowicz, jogo com dois ótimos sacadores e que não deve ter muitas quebras de saque, e Tsonga x Baghdatis, que se não valer a pena pelo tênis, pode compensar com jogadas de efeito e a animação da sempre grande torcida grega em Melbourne.

E que tal Murray x Zverev logo de cara? Um azar danado do alemão de 18 anos, #83 e uma das principais promessas atuais do circuito. De qualquer modo, é uma chance de mostrar seu talento com um bocado de gente prestando atenção.

O que pode acontecer de mais legal

Bernard Tomic perdendo na estreia. Não, não estou torcendo contra o australiano, mas muita gente vai estar. Quando mostrou pouco interesse no ATP de Sydney e decidiu desistir do torneio na sexta-feira, Tomic atraiu a ira de muita gente (vide o vídeo abaixo). Apesar de estar em seu país, é de se imaginar que o ambiente não será tão favorável assim na estreia contra Denis Istomin. E o uzbeque, lembremos, levou a melhor no último confronto entre eles. Era outro momento (Washington/2014), é verdade, mas pode dar uma confiança a mais para Istomin. E se a torcida pegar no pé de Tomic, difícil prever o que vai acontecer.

Fiquemos de olho no lado fashion da coisa. O burburinho é que Andy Murray e Nick Kyrgios vestirão camisas sem manga. Vai dar assunto, não?

O tenista mais perigoso que ninguém está olhando

Ninguém está olhando com razão, mas nem por isso Brian Baker deixa de ser um nome perigoso. Com uma carreira infestada de lesões e cirurgias, o americano de 30 anos, tenta mais uma volta ao circuito. Em sua última tentativa, realizada em 2011-12, Baker saltou do nada para o #52 do ranking mostrando um jogo com muitos recursos e parecia ter tênis para subir um tanto mais. No entanto, mais uma lesão (joelho direito) lhe afastou do circuito depois do US Open de 2013.

O Australian Open será seu primeiro torneio desde então e, se o corpo permitir, Baker tem uma primeira rodada ganhável contra Simone Bolelli. Como não joga uma partida oficial desde 2013, é difícil imaginar Baker com ritmo para aguentar melhor de cinco sets no calor australiano. Mas quem sabe o que pode acontecer? Pode ser a história mais feliz dos primeiros dias de torneio.

Outro nome fora do radar, também por causa de lesão, é o de Nicolás Almagro. O ex-top 10, também com 30 anos, vem tentando recuperar o nível pré-cirurgia no pé realizada em junho de 2014. No ano passado, ficou abaixo das expectativas. Agora casado e com nova equipe (Mariano Monachesi é seu treinador agora), espera voltar a ter resultados como os de antes.

Sua estreia é contra Julien Benneteau, e a segunda rodada provavelmente será diante de Dominic Thiem (#20), 22 anos. Não é o caminho mais fácil do mundo, mas não é nada impossível que o espanhol consiga se impor diante do garotão na segunda rodada. Aliás, seria intrigante um jogo entre Almagro e Goffin valendo vaga nas oitavas. Aguardemos para ver o que acontece.

Quem pode (ou não) surpreender

Aqui eu gosto de Borna Coric, 19 anos e #40, aquele que derrotou Feijão e Bellucci em Florianópolis na Copa Davis mostrando postura invejável para um adolescente. Não é uma parte fácil da chave, mas o garotão é favorito contra Albert Ramos-Viñolas na estreia e enfrentaria o veterano compatriota Marin Cilic na sequência.

Coric ainda não venceu um jogo no Australian Open (ele é o primeiro a se lembrar disso) e talvez não tenha as mesmas armas poderosas de Cilic, mas consegue ser mais consistente. Em um dia ruim do campeão do US Open/2014, quem sabe? Acho até que se passar por Cilic, Coric é favorito para alcançar as oitavas e enfrentar Nick Kyrgios ou Tomas Berdych, que são favoritos para fazer um jogaço na terceira rodada (Cuevas corre por fora na seção destes dois).

Onde ver

Os canais ESPN mostram o torneio com o auxílio do recurso online do WatchESPN. Segundo texto publicado no site dos canais, o WatchESPN mostrará todos os jogos. "Serão mais de 1.400 horas de tênis na Internet e cerca de 130 horas de cobertura ao vivo na ESPN e na ESPN+!"

A ESPN, inclusive, anunciou recentemente a renovação dos direitos de transmissão do Australian Open até 2021. A partir de 2017, o canal terá também os direitos da Copa Hopman do ATP de Brisbane e do ATP de Sydney.

Nas casas de apostas

Na casa virtual Bet365, o favorito não é surpresa alguma: Novak Djokovic paga 4/6, ou seja, quatro dólares para cada seis dólares apostados no título do sérvio. Andy Murray é o segundo mais cotado (5/1), mas bem longe de Nole. A surpresa, pelo menos para mim, é Nadal (9/1) mais cotado do que Federer (10/1), que, lembremos, foi vice-campeão dos últimos dois Slams. Talvez a chave do suíço, um pouco mais complicada, tenha a ver com isso.

O top 10 dos mais cotados ainda inclui Wawrinka (12/1), Nishikori (40/1), Raonic (40/1), Kyrgios (40/1), Berdych (50/1) e Cilic (66/1, empatado com Tsonga e Dimitrov). Um título de Thomaz Bellucci paga 1.000/1 a quem se arriscar. Os maiores azarões são Diego Schwartzman, Maco Cecchinato e Victor Estrella Burgos, pagando 5.000/1.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.