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Saque e Voleio

O everéstico Djokovic que tira a emoção das finais

Alexandre Cossenza

09/11/2015 08h00

Novak Djokovic vem me tirando a vontade de ver finais. Sim, sei que ao escrever isso, alguns de vocês, leitores, vão desenhar e colar rótulos com dizeres do tipo "AntiNole" e "DjokoHater". Alguns outros nem devem ter passado do título deste post. Paciência. Também sei que muitos vão ler e tentar entender o sentimento descrito nas próximas linhas. Dito isto, vamos ao texto.

O último jogo realmente empolgante com Djokovic em quadra este ano foi a final do US Open. E, convenhamos, nem foi tão equilibrado assim. Roger Federer teve seus momentos e suas chances, mas o sérvio venceu em quatro sets. Desde lá, zero emoção. Dez sets jogados, dez sets vencidos em Pequim. Mais 10/10 em Xangai. Agora, 10/11 em Paris – e o único set perdido, que aconteceu na semifinal diante de Wawrinka, foi seguido por um pneu. Sim, 6/0 no terceiro set.

Ah, a partida contra Berdych teve emoção, alguém vai lembrar. É verdade. Mas também é verdade que Djokovic fez uma atuação bem abaixo da sua média e derrotou um top 5 em dois sets. Em Pequim, Nadal, venceu apenas quatro games. Murray fez como o alpinista que fracassa ao subir o Everest pela face sul e decide tentar pelo norte, onde houve muito mais mortes. O escocês vinha de uma dura derrota em Xangai e, neste domingo, em Paris, tentou atacar mais do que o habitual, mas fracassou igualmente.

Dá pra ver aonde quero chegar? Em nenhum desses jogos, tive a sensação – nem antes nem durante – de que Djokovic poderia perder. Aliás, a última vez que o #1 esteve perto de sofrer um revés num jogo realmente grande (leia-se "Slam") foi contra Kevin Anderson, em Wimbledon. Mais de quatro meses atrás. Minha expectativa de ver grandes jogos envolvendo o #1, portanto, desapareceu.

Esse, pelo menos para mim, sempre foi o grande barato do esporte. Assistir a grandes jogos, partidas equilibradas entre dois caras de alto nível. Duelos decididos por um game, uma bola que pega no fim da linha ou aquele corajoso/insano ace de segundo saque no 5/6 do último set. Nada disso acontece com esse Djokovic everéstico de hoje.

Coisas que eu acho que acho:

– Ressalva número 1: citar "grandes jogos envolvendo o #1" é bem diferente de "grandes jogos do #1". Estes últimos, obviamente, vêm acontecendo com frequência. Além disso, o nível de Djokovic faz com que as vitórias tranquilas se empilhem até mesmo quando suas atuações não são tão brilhantes.

– Ressalva número 2: se Federer faz o difícil parecer fácil com golpes incríveis e um estilo suave de jogar, Djokovic transforma o fácil em quase impossível para seus adversários. O sérvio, assim como Nadal, não tem os movimentos baryshnikovescos do suíço, mas tem o tênis mais completo de que já se teve notícia. Nenhum saque consegue dominá-lo, nenhuma devolução consegue intimidá-lo, nenhuma curtinha é curtinha o suficiente para derrotá-lo… A lista é longa, mas resume-se em: hoje, o #1 tem resposta para tudo contra todos.

– Ressalva número 3: Djokovic ainda é uma figura carismática que dança com fãs, leva na esportiva quando alguém o imita e mostra bom humor durante a maior parte do tempo. Trata-se de um ótimo número 1 para a imagem do tênis.

O próximo número 1?

Djokovic disparou na ponta do ranking (são 15.285 pontos, contra 8.470 de Andy Murray e 7.340 de Roger Federer) e vai continuar lá até que alguém se mostre capaz de desafiá-lo consistentemente, o que nem parece tão provável assim de acontecer nos próximos anos. Federer, que fez uma excelente temporada em 2015, não somou nem a metade de pontos do sérvio. Murray e Wawrinka são brilhantes nos dias bons, mas seus dias ruins são mais frequentes do que o desejado. Nadal, que acaba de voltar ao top 5, ainda tenta encontrar uma maneira de voltar a ser competitivo diante deste grupo.

A não ser que Nole sofra uma lesão, perca a motivação e/ou sofra uma queda brusca de rendimento, seu reinado promete ser (muito mais) longo. Acho, inclusive, que deveria valer um prêmio milionário adivinhar, hoje, quando acontecerá e quem será o responsável por tirar Djokovic da montanha mais alta do planeta. Até lá, as finais – todas elas – correm o risco de serem tão entediantes quanto a deste domingo. Alguém aí arrisca um palpite?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.