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Wimbledon, dia 11: o imbatível Roger Federer volta à final

Alexandre Cossenza

10/07/2015 16h04

Roger Federer pode até vir a perder jogos bobos durante a maior parte o tempo. Pode vir a sentir dores aqui e ali. Pode decidir tirar férias de seis meses. Sei lá. O que quer que aconteça na vida do suíço nos próximos meses e anos, se esse cidadão fizer uma vez por ano, uma vezinha só, o que fez nesta sexta-feira, ele não pode aposentar. Não pode.

Torcida contra, talvez o oponente mais perigoso da atualidade em uma quadra de grama, uma das melhores devoluções do circuito… Muita coisa jogava contra na Quadra Central e, não por acaso, algumas casas de apostas davam vantagem a Andy Murray. Eis, então, que Roger Federer aparece com uma das maiores atuações de sua carreira. Uma vitória por 7/5, 7/5 e 6/4 com números espantosos e inúmeros lances espetaculares.

Em 2h07min de jogo, o heptacampeão de Wimbledon fez 20 aces, encaixou 76% de primeiros serviços, ganhou 84% desses pontos, disparou 56 (!) winners e cometeu apenas 11 erros não forçados. Números tão iluminados que ofuscam a grandíssima partida feita por Andy Murray.

O jogo do dia

Desde o início, o jogo foi espetacular – e dos dois lados. Fora um break point no primeiro game, Federer e Murray confirmaram com relativa tranquilidade. Aliás, era impossível imaginar na hora, mas seria a única chance de quebra do tenista da casa em toda a partida. E, embora o suíço tenha vencido em três sets, o confronto foi tão equilibrado que não havia muita diferença nem entre as esposas na Quadra Central.


Brincadeiras à parte, Murray havia perdido apenas cinco pontos no seu serviço até o décimo game. No 12º, porém, Federer conseguiu a quebra e fechou a parcial. Os números – de ambos – eram fantásticos.

O game do dia

Se a partida já estava excepcional, veio o décimo game do segundo set. Murray sacava pressionado, em 4/5, e o buraco do britânico era fundo quando o placar chegou a 0/40. O britânico salvou os três set points brilhantemente, mas seguiu com problemas para confirmar. Federer teve mais dois set points – ambos salvos pelo insistente escocês. Ao todo, foram sete nervosas igualdades até que Murray conseguisse alongar o set.

Foi o momento de mais tensão de todo o jogo porque havia a impressão de que Federer não permitiria a virada uma vez que abrisse 2 sets a 0. Motivou até o tweet acima do sueco Robin Soderling – aquele Soderling. E Murray não resistiu à pressão por muito tempo. Novamente no 12º game, não conseguiu frear o adversário. Federer quebrou e abriu uma vantagem que, num dia assim, seria impossível de apagar.

O lance do dia

Murray não desistiu, mas tampouco teve chances reais de equilibrar o jogo. Com o primeiro saque entrando, Federer tinha sempre a vantagem. Tanto no comando dos pontos quanto no placar, já que sacava sempre antes de Murray. E aí, com o escocês mais uma vez apertado contra a parede, Roger Federer aprontou isso:

Roger Federer espetacular contra Andy Murray

No fim, foi uma das maiores apresentações da carreira de Federer. Veio contra um adversário de altíssimo nível, em um Grand Slam e com muita coisa em jogo. Certamente, sua melhor atuação nos últimos três anos. Possivelmente, a melhor desde aquele jogo de 2011 contra Nadal no ATP Finals. Talvez melhor que aquela. Talvez a melhor da carreira. Quem sabe ao certo?

Certeza mesmo é que no domingo, quando voltar ao palco onde levantou o troféu sete vezes, Federer, 33 anos, será o tenista mais velho desde Ken Rosewall a disputar uma final de Wimbledon. E quem aí ousa dizer que a idade do suíço pesará contra Djokovic?

A preliminar

Não havia como tratar Djokovic x Gasquet de outra maneira. O número 1 do mundo e atual campeão do torneio entrou em quadra favoritíssimo, apesar da bela atuação do francês contra (um inconsistente) Wawrinka dois dias atrás. E, depois de 2h21min de jogo, os dois saíram da Quadra Central provando que a expectativa era justificada. Djokovic venceu por 7/6(2), 6/4 e 6/4.

Justiça seja feita a Gasquet: foi uma ótima atuação do francês, que abusou de seu backhand e terminou a partida com 36 winners. E a questão é justamente essa: mesmo com o francês atingindo esse nível, Djokovic venceu sem ser ameaçado e passando a impressão de estar jogando para o gasto.

O momento de maior apreensão para os fãs do sérvio veio quando Nole pediu atendimento médico e recebeu tratamento no ombro esquerdo. Fora isso, Gasquet jamais esteve à frente no placar. Até o tie-break do primeiro set foi amplamente controlado pelo número 1.

Será a 17ª (!) final de Grand Slam para Djokovic, que tem oito vitórias e oito derrotas em ocasiões assim. Em Wimbledon, ele e Federer duelaram duas vezes. A primeira, em 2012, terminou com vitória do suíço por 3 sets a 1 nas semifinais. A segunda, no jogão que foi a decisão de 2014, o sérvio venceu por 3 sets a 2.

A oportunidade

Mesmo depois de uma partida como a de Roger Federer hoje, há casas de apostas que colocam Novak Djokovic como o mais cotado para o título. Será? Para quem gosta de arriscar a sorte, pode estar aí uma boa oportunidade.

Apostar no sérvio é acreditar que o ex-número 1 não conseguirá duas atuações espetaculares em sequência. Até porque não parece tão fácil assim acreditar que Federer (que vem sacando monstruosamente desde o início do torneio), especificamente este Federer de hoje, pode ser derrotado.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.