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Saque e Voleio

Wimbledon, dia 9: Gasquet acorda, Vika mais que Maria e dupla falta bisonha

Alexandre Cossenza

08/07/2015 17h25

Três favoritaços avançaram em partidas dominadas e, quando parecia que o nono dia de Wimbledon terminaria sem um grande jogo, eis que Richard Gasquet (logo ele!) consegue uma virada e uma improvável vitória em cinco sets em cima de Stan Wawrinka, o campeão de Roland Garros. Mas não foi só isso que animou o dia. William e Kate apareceram, uma sequência de saques de Roger Federer chegou ao fim, Andy Murray cometeu a dupla falta mais feia da história e Vasek Pospisil fez ressurgir a polêmica das violações por excesso de tempo entre os pontos. Ah, sim: falando em polêmica, o técnico de Serena Williams deu uma declaração interessante antes das semifinais femininas. O resumaço abaixo mostra o que aconteceu de melhor nesta quarta-feira.

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O jogo do dia

A parte mais emocionante do dia veio no fim, com o duelo de backhands de uma mão entre Stan Wawrinka, atual campeão de Roland Garros, e Richard Gasquet. O suíço, que já não vinha jogando seu melhor tênis em todo torneio, mas aproveitou os benefícios de uma chave, digamos, acessível, finalmente encontrou problemas diante de um bravo Gasquet, que se defendeu bravamente e aproveitou as chances que a irregularidade do adversário lhe dava.

Wawrinka teve 2 sets a 1 de vantagem, mas perdeu o serviço no último game do quarto set – com uma dupla falta – e viu-se forçado a jogar uma desconfortável parcial decisiva. Pressionado por sacar sempre atrás no placar, o suíço perdeu serviço no oitavo game e deixou Gasquer sacar em 5/3. Foi aí que o francês bobeou. Errou um voleio, jogou um backhand na rede e…

E se você acha "choke" (em bom português, a boa e velha "amarelada") uma avaliação injusta do jornalista Giuliander Carpes, Martina Navratilova usou eufemismos para dizer essencialmente a mesma coisa. Não, a fama do francês não é das melhores.

E não é por acaso. Até a partida de hoje, Gasquet havia perdido 15 de seus últimos 16 jogos contra adversários do top 10.

Fama à parte, o fato é que apesar do momento nervoso, o jogo subiu de nível. Wawrinka e Gasquet trocaram belíssimos golpes, subidas à rede e até break points. O francês contrariou as expectativas, primeiro escapando de um 0/30 e, depois, salvando-se de um break point no 19º game. O o suíço não conseguiu o mesmo. Stan até escapou de dois match points, mas jogou uma esquerda longa e deu a Gasquet a vaga na semifinal: 6/4, 4/6, 3/6, 6/4 e 11/9.

Será a segunda semi de Gasquet, atual número 20 do mundo, em Wimbledon. Na primeira, oito anos atrás, o francês tombou diante de Roger Federer, então líder do ranking: 7/5, 6/3 e 6/4. Desta vez, enfrentará o atual #1, Novak Djokovic. Não conheço muita gente que aposte no francês.

A décima semifinal

O primeiro jogo do dia na Quadra 1, entre Roger Federer e Gilles Simon, esteve longe de ser uma partida interessante – a não ser para os fãs do suíço, claro. O francês, que vinha de vitórias sobre Monfils e Berdych, mal conseguiu equilibrar as ações. Não fosse por uma mísera quebra quando sacava para o segundo set, Federer teria passeado sem sustos. Não que o saque perdido tenha sido um grande sobressalto, já que o suíço quebrou Simon logo na sequência. No fim, após 1h34min, o suíço triunfou por 6/3, 7/5 e 6/2, garantindo sua décima (!) semifinal de Wimbledon na carreira. O heptacampeão (2003-07, 2009 e 2012), hoje com 33 anos,vem jogando um tênis espetacular até agora.

A sequência que acabou

Quando Gilles Simon quebrou Federer no fim do segundo set, também encerrou uma impressionante sequência. O suíço não perdia um saque desde a primeira rodada do ATP de Halle, disputado algumas semanas atrás. Ao todo, foram 116 games de serviço vencidos de forma consecutiva!

A esperança britânica

Andy Murray também fez competentemente sua lição de casa – em casa. O britânico, que enfrentava o tenista de ranking mais baixo das quartas de final (Vasek Pospisil, #56), venceu em três sets: 6/4, 7/5 e 6/4. O resultado e o curto tempo de jogo (2h11min) são importantes para Murray por dois motivos. Um pouco porque significam que o escocês não deu uma daquelas viajadas, mesmo com as interrupções por causa da chuva, mas mais ainda porque as dores no ombro direito vêm incomodando e ficaram nítidas na partida contra Seppi. Menos tempo em quadra significa menos saques disparados e mais tempo para fisioterapia. E nem é necessário dizer que para derrotar Federer na sexta-feira o britânico precisará muito do serviço.

A pequena polêmica dessa partida ficou por conta do árbitro Pascal Maria e o "timing" das advertências que aplicou sobre Pospisil (que foi quebrado pouco depois de ambos avisos) por excesso de tempo antes do saque. Em uma delas, o canadense sacava em 5/5 e 30/30 no segundo set. Ninguém vai me convencer que aquela foi a primeira vez que Pospisil ultrapassou o limite de 20 segundos para sacar. Aliás, nem tentem me convencer. As estatísticas do torneio mostraram isso:

A regra e sua aplicação se transformaram em uma das maiores piadas do tênis. Os árbitros de cadeira não aplicam as punições na maior parte do tempo (Murray ultrapassou o limite em 60% dos saques e não foi advertido), mas distribuem advertências em momentos cruciais das partidas. Por quê? Para quê?

Só vejo duas saídas viáveis (mas não consigo imaginar nem ATP nem WTA nem ITF tomando decisão alguma no futuro próximo): ou aplicar a punição todas as vezes que os tenistas ultrapassarem os 20 (WTA e ITF, incluindo Grand Slams) ou 25 (ATP) segundos ou rasgas a regra de vez e deixar que os atletas iniciem os pontos como no beisebol – sem relógio.

Pospisil saiu de quadra furioso. E dá para entender.

"Acho que muitas vezes esses árbitros só querem aparecer. Não sei por que fazem isso (aplicam advertência) em momentos como aquele." "Quantas vezes você vê os caras do topo passarem mais tempo e não receberem nenhuma punição, especialmente em momentos importantes?" "Aquela no 5/5, 30/30. Aquela foi ridícula, na minha opinião. Talvez seja ego."

A dupla falta bisonha

Houve quem chamasse de pior dupla falta da história. Se é mesmo a mais feia, não sei. Mas foi engraçada. Acontece com os melhores também.

O campeão tranquilo

Depois do susto diante de Kevin Anderson, em uma partida que durou cinco sets e dois dias, Novak Djokovic merecia um descanso. Não foi exatamente o que aconteceu nesta quarta-feira, diante de Marin Cilic, mas a partida tampouco foi das mais complicadas. Aproveitando-se da inconstância do croata (que se manifestou durante o torneio inteiro), o número 1 do mundo e atual campeão de Wimbledon aplicou 6/4, 6/4 e 6/4 sem passar um susto sequer.

A realeza

Outra das tradições de Wimbledon é a presença do príncipe William, Duque de Cambridge, e de sua esposa, Catherine (ou Kate se preferirem), Duquesa de Cambridge. O casal real esteve na Quadra Central já no começo do dia, de olho em Andy Murray. David Beckham também estava lá.

A polêmica do dia: Azarenka é melhor que Sharapova?

As semifinais femininas serão amanhã, mas uma frase de Patrick Mouratoglou, técnico de Serena Williams, roubou as atenções nesta quarta. Em texto publicado no New York Times, Ele diz que Victoria Azarenka é uma tenista "muito superior" a Maria Sharapova. Independentemente de opiniões (deixe a sua nos comentários), vale também debater o "timing" do comentário, que vem na véspera de um confronto contra a russa. Será que era mesmo a melhor hora para o técnico francês soltar uma frase dessas?

E gol da Alemanha.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.