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Saque e Voleio

Wimbledon, dia 8: entre gritos e palavrões, Djokovic e Serena sobrevivem

Alexandre Cossenza

07/07/2015 17h28

A coisa ficou séria. A terça-feira de Wimbledon foi marcada por dois jogos nervosos. Na Quadra 1, Novak Djokovic sobreviveu ao ataque de Kevin Anderson e venceu o set que lhe faltava para garantir um lugar nas quartas de final. Na chave feminina, Serena Williams e Victoria Azarenka fizeram mais um duelo quase hostil, com muitos gritos, e até um palavrão que as câmeras flagraram.

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O número 1 sobrevive

O dia começou com o jogo que não terminou. Novak Djokovic e Kevin Anderson entraram na Quadra 1 em uma situação em que, na prática, um set bastava para garantir uma vaga nas quartas de final. O sul-africano, que jamais passou das oitavas de um Grand Slam, começou melhor, sacando firme e conquistando até dois break points no terceiro game.

O número 1 se salvou, mas estava tão nervoso em quadra que acabou descontando em uma boleira e gritando para pedir uma toalha. Segundo o Daily Mail (eu sei, eu sei), fotógrafos relataram que a menina teve de segurar as lágrimas.

Djokovic foi se segurando até que o azarão lhe desse chances. Elas vieram no 11º game, na forma de duas duplas faltas. Com uma ótima devolução, Nole quebrou e, em seguida, sacou bem para fechar o jogo em: 6/7(6), 6/7(6), 6/1, 6/4 e 7/5. O atual campeão sobrevive e alcança as quartas de um Slam pela 25ª vez seguida.

Após o jogo, Djokovic disse que não gritou para a moça (embora pareça bastante que ele grita "towel" – toalha em inglês) e que talvez ela tivesse apenas se assustado com os berros. Em todo caso, o número 1 afirmou que "vou tentar pedir desculpas se fiz algo errado."

Anderson, por sua vez, amarga sua sétima derrota em oitavas de final. Nenhum tenista chegou tantas vezes às oitavas sem avançar em um torneio deste porte. E se é justo ou não fazer tal afirmação depois de o cidadão tirar dois sets do número 1 do mundo, não é segredo que o sul-africano tem fama de entregador de paçoca. Parece cruel lembrar disso agora, mas as duas duplas faltas no 11º game e as duas devoluções de saque para fora no 12º game reforçam o rótulo.

O jogo do dia

Serena Williams x Victoria Azarenka, quase sempre um jogão, mesmo que o resultado seja quase sempre o mesmo. E pouco importou que tenha acontecido nas quartas em vez de na final porque, por mais clichê que soe, o clima era de decisão. Dava para sentir nas reações do público e, principalmente no volume dos gritos das duas tenistas. Tem muita coisa em jogo e inclusive diferenças pessoais, que incluem a presença de Sasha Bajin (ex-rebatedor de Serena) como técnico de Vika.

O jogo foi de alto nível do começo ao fim e equilibrado até quando o placar não indicava isso. Azarenka faturou a primeira parcial e chegou a ter um break point para abrir vantagem no segundo set, mas foi justamente aí que Serena cresceu. A americana não só salvou seu serviço como quebrou Azarenka no game seguinte e seguiu vencendo games apertados. Foram quatro games seguidos com "iguais" no placar. Todos vencidos pela número 1, que fez 6/2 no segundo e começou a parcial decisiva de modo igualmente fulminante.

Ao todo, foram sete games seguidos (de 3/2 no segundo set até 3/0 no terceiro). Quando Azarenka voltou a confirmar seu serviço, já era tarde. A única chance da bielorrussa veio no último game, em que Serena sacou em 0/30. A número 1, contudo, disparou três aces (foram 17 em toda a partida), salvou break point e fechou a partida: 3/6, 6/2 e 6/3.

Os gritos

Os gritos durante o jogo, tanto de Azarenka quanto de Serena, chamaram atenção (sim, eu já estou acostumado e não mencionaria se a partida de hoje não tivesse sido diferente). Nos ralis mais longos, com ambas gemendo cada vez mais alto, até o público da Quadra Central começava a rir no meio dos pontos. E vale destacar o grito de Serena quando conseguiu sua primeira quebra. A americana começou a gemer quando bateu na bola e ainda estava gemendo enquanto Azarenka tentava fazer o voleio.

Há até quem diga que Serena gritou algo não tão educado em um determinado momento. O vídeo abaixo dá a deixa:

A ironia é que foi Azarenka, em um (outro) momento do jogo, que acabou punida com uma advertência por obscenidade audível. Nas que tal ver por outro ângulo e tirar a dúvida?

Após a partida, questionada sobre os gemidos, Azarenka reclamou de tratamento desigual. A bielorrussa usou Rafael Nadal como exemplo e diz que o espanhol grita mais alto do que ela. No entanto, ninguém se queixa dos gemidos do ex-número 1.

As outras quartas

Serena vai enfrentar nas semifinais a russa Maria Sharapova, que confirmou o favoritismo e derrotou a americana Coco Vandeweghe, #47 do ranking, por 6/3, 6/7(3) e 6/2. Poderia ter sido mais fácil, mas a russa foi quebrada quando sacou para fechar o jogo no segundo set.

De qualquer maneira, a russa chega confortavelmente às semifinais, mesmo sem jogar um tênis espetacular. A chave, é claro, ajudou. Pelas cinco adversárias que enfrentou (Konta, Hogenkamp, Begu, Diyas e Vandeweghe), Sharapova poderia estar comemorando um título de WTA International – torneio de menor escalão no circuito da WTA – a essa altura.

A russa, obviamente, não tem culpa se as favoritas foram caindo pelo caminho na sua paret da chave. O que importa mesmo é que ela tem mais uma chance de encarar Serena, de quem não vence há mais de dez anos. De lá para cá, são 16 vitórias seguidas da americana.

A outra semifinal será entre Garbiñe Muguruza, que bateu a suíça Timea Bacsinszky por 7/5 e 6/3, e a polonesa Radwanska, que derrubou a americana Madison Keys em três sets: 7/6(3), 3/6 e 6/3. A espanhola, número 20 do mundo, fará sua primeira semifinal de Grand Slam, enquanto Radwanska, atual #13, ainda busca seu primeiro título de Slam.

A polonesa foi vice-campeã de Wimbledon em 2012 e semifinalista em 2013. Por isso, é favorita no papel. Muguruza, por sua vez, vem embaladíssima por uma sequência impressionante de vitórias. No caminho até a semi, passou por Lepchenko, Lucic-Baroni, Kerber (#10), Wozniacki (#5) e Bacsinszky (#15).

Os confrontos

[1] Serena Williams x Maria Sharapova [4]
[20] Garbiñe Muguruza x Agnieszka Radwanska [13]

As duplas dão adeus

Um dia que começou com a possibilidade de um brasileiro na final de duplas masculinas acabou sem nenhum tenista do país na semi. Bruno Soares e Alexander Peya, cabeças 8, foram derrotados pelo britânico Jamie Murray e o australiano John Peers, cabeças 13: 6/4, 7/6(3) e 6/3. Como bem lembrou a Aliny Calejon, do site Match Tiebreak, foi a primeira derrota de Soares e Peya em seis jogos contra eles.

Pouco depois, foi a vez de Marcelo Melo e Ivan Dodig, cabeças de chave 2, se despedirem. Seus algozes foram o israelense Jonathan Erlich e o alemão Philipp Petzschner, que venceram de virada: 4/6, 6/2, 6/2 e 6/4. Assim, Murray e Peers farão uma das semifinais contra Erlich e Petzschner.

O Brasil só sobreviveu mesmo nas mistas. Bruno Soares e Sania Mirza, cabeças de chave 2, eliminaram os croatas Marin Draganja e Ana Konjuh por 6/3, 6/7(5) e 6/3. Campeões do US Open no ano passado, brasileiro e indiana enfrentarão nas quartas de final o austríaco Alexander Peya (parceiro de Soares!) e a húngara Timea Babos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.