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Saque e Voleio

Wimbledon, dia 6: uma polêmica, um azarão dá adeus e oitavas definidas

Alexandre Cossenza

04/07/2015 18h30

Mais um dia de Wimbledon, mais uma jornada emocionante no Grand Slam da grama. Pelo terceiro dia seguido, um nome de peso viveu momentos dramáticos na Quadra Central. Petra Kvitova, espetacular por cinco sets, viu sua confiança evaporar e ficou pelo caminho. Mas não foi só isso. O All England Club viu, neste sábado, o segundo saque mais rápido de sua história, uma polêmica enorme num lance de "dois toques", a despedida de um azarão fabuloso, mais uma atuação magistral de Roger Federer e até uma partida sendo interrompida para continuar em outra quadra! Ah, sim: as oitavas de final estão definidas! O resumaço a seguir lembra de todos os momentos de destaque da rodada.

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O tombo

Petra Kvitova mostrou o melhor tênis da chave feminina durante cinco sets e meio. A número 2 do mundo, que só perdeu três games nas duas primeiras rodadas, começou o sábado aplicando 6/1 na ex-número 1 Jelena Jankovic e parecia rumar tranquila para mais uma vitória folgada, mas perdeu o serviço quando tinha 4/3 (uma quebra de vantagem) no segundo set.

O vacilo levou embora magicamente a confiança da tcheca, que perdeu a parcial por 7/5 e desandou a errar mais do que devia. Jankovic, malandra que é, percebeu o momento e aproveitou. Fez Kvitova jogar até que ganhou seguidos erros no décimo game do terceiro set. Assim, a sérvia, #30 do mundo, triunfou por 1/6, 7/5 e 6/4, avançando às oitavas e deixando a vida de todo mundo mais fácil. Principalmente a da polonesa Agnieszka Radwanska, #13, que vem de vitória sobre a australiana Casey Dellacqua: 6/1 e 6/4.

Sem Kvitova na parte de baixo da chave, a principal cabeça de chave agora é Caroline Wozniacki, que nunca chegou às quartas no Slam da grama. Impossível prever quem vai sair desse grupo e chegar à final. Enquanto isso, a metade de cima ainda tem Serena e Venus Williams, Victoria Azarenka e Maria Sharapova vivíssimas no torneio.

O cabeça

Roger Federer perdeu um set! No nível que o suíço vem jogando em Wimbledon, é até espantoso que alguém tenha conseguido tirar um setzinho, mas Sam Groth conseguiu. Ainda assim, a vitória do heptacampeão de Wimbledon jamais esteve ameaçada. Como faz contra todos os "sacadores", Federer dominou e fez o bastante para triunfar sem drama: 6/4, 6/4, 6/7(5) e 6/2.

Assim, o suíço chega à segunda semana de Wimbledon descansado e em excelente forma. Em uma chave que lhe coloca diante de Bautista Agut nas oitavas e de um irregular Tomas Berdych nas quartas, faz sentido dizer que Federer é favoritíssimo para estar nas semifinais contra Andy Murray.

O canhão australiano

Apesar da derrota, Sam Groth pode pelo menos se orgulhar de deixar seu nome em alguma lista de melhores de Wimbledon. Logo no comecinho do jogo, o australiano disparou o segundo saque mais rápido da história no torneio (em outras palavras, era um primeiro saque, mas ficou em segundo lugar na lista). O saque atingiu 147 milhas por hora, o equivalente a 236,5 km/h! Quer ver? Clica aí!

O recorde do torneio é do americano Taylor Dent, que sacou a 148 mph (ou 238,1 km/h) – é apenas uma milha por hora a mais do que Groth.

Foi rápido

No total, o jogo durou 4h31min, mas Marin Cilic e John Isner ficaram em quadra por cerca de apenas dez minutos neste sábado. Croata e americano, que tiveram a partida interrompida por falta de luz natural ontem, voltaram para a Quadra 1 com o placar em 10/10 (sem tie-break) no quinto set.

Cilic, primeiro a sacar, confirmou. Isner, na sequência, teve problemas. Salvou um, dois, três match points, mas cometeu uma dupla falta no quatro match point. Cilic, número 9 do mundo, avança, assim, às oitavas: 7/6(4), 6/7(6), 6/4, 6/7(4) e 12/10.

O encantador azarão que se despede

Sensação do torneio desde anteontem, quando eliminou Rafael Nadal, o alemão Dustin Brown voltou a dar espetáculo. Ganhou ponto mergulhando para volear, rebateu bola sentado e até fez uma espetacular devolução, fazendo a bola quicar na quadra do adversário e voltar para o seu lado da rede. Veja os lances.

Wimbledon 2015: Dustin Brown x Viktor Troicki highlights

Mas todos os pontos fantásticos de Brown não foram suficientes para derrotar Viktor Troicki, #24. Mais sólido e subindo à rede nas horas certas, o sérvio levou a melhor por 3 sets a 1: 6/4, 7/6(3), 4/6 e 6/3. Troicki aproveita o buraco na chave deixado por Nadal (eliminado) e Ferrer (desistiu) e enfrentará nas oitavas o canadense Vasek Pospisil, #56. Chance de ouro – e de ambos! – para avançar e ficar entre os oito melhores em Wimbledon.

O homem dos 136 aces (e dois toques)

Ivo Karlovic, 2,11m de altura e número 25 do mundo, continua distribuindo aces em Wimbledon. Depois de disparar 42 saques sem defesa contra Elias Ymer e 53 contra Alexandr Dolgopolov, o croata soltou mais 42 bombas e eliminou Jo-Wilfried Tsonga neste sábado sem sequer quebrar o serviço do francês. O placar final registrou 7/6(3), 4/6, 7/6(2) e 7/6(9).

O jogo, no entanto, teve um lance intrigante: no tie-break do quarto set, com set point para o francês, Karlovic foi à rede e matou o ponto assim, com dois toques na bola. Ninguém notou. Nem o árbitro nem Tsonga (na hora que o lance ocorreu, tive a impressão, vendo pela TV, que a bola tinha batido no aro da raquete e por isso, tinha saído da mão do croata com um ângulo esquisito).

Os árbitros costumam adotar um critério simples para a marcação do que popularmente é chamado de "dois toques". O ponto vale se o tenista faz um movimento só e a bola, acidentalmente, toca em dois pontos diferentes da raquete. Não sei dizer se foi o caso de Karlovic. Em velocidade normal, parece um movimento só. Na câmera lenta, não, mas o super slow tem a capacidade de transformar puxões de camisa em homicídios dolosos, então cabe cautela.

Após o jogo, Karlovic disse que sentiu os dois toques na raquete, mas disse que o lance deveria ser validado porque ele fez um movimento só. Além disso, ninguém reclamou no momento. Logo, valeu, o croata venceu e fim de papo.

Sobre os aces, é difícil imaginar o veterano croata (36 anos) tendo o mesmo sucesso contra Andy Murray, seu próximo adversário, mas será interessante vê-lo na segunda semana de Wimbledon pela primeira vez desde 2009. E vale a curiosidade: nas duas vezes que alcançou pelo menos as oitavas, o croata foi eliminado pelo eventual campeão do torneio.

A partida que mudou de quadra

A organização deveria ter pensado nisso ontem… Escalar Gael Monfils e Gilles Simon como último jogo de sábado era correr o risco de ver a partida não terminar.

E o que aconteceu? Os dois franceses terminaram o terceiro set quase já bem depois das 20h em Londres, quando a luz natural não era das melhores. No meio do quarto set, estava óbvio que não haveria claridade para terminar o jogo. A Organização de Wimbledon, então, optou por quebrar uma regra (a de que uma partida deve começar e terminar no mesmo local) e interromper o jogo, transferindo Monfils e Simon para a Quadra Central (com entrada liberada). No fim, Simon fechou o jogo às 22h28min locais por 3/6, 6/3, 7/6(6), 2/6 e 6/2.

Os favoritos

Andy Murray fechou a programação da Quadra Central com mais uma atuação maiúscula. Abriu o jogo quebrando o saque do italiano Andreas Seppi, venceu dois sets jogando um tênis impecável e… sofreu aquele apagão escocês quase diário. Seppi faturou a terceira parcial. Murray até deixou o pessoal da BBC preocupado quando levou a mão ao ombro direito, o que sugeria alguma dor no local.

Logo depois de perder o saque no primeiro game do quarto set, o escocês pediu atendimento médico no ombro direito e, quando o jogo recomeçou, a história já era outra. Murray quebrou Seppi logo na sequência e deslanchou, vencendo mais cinco games seguidos até fechar em 6/2, 6/2, 1/6 e 6/1. Campeão de Wimbledon em 2013, o escocês continua muito cotado para estar pelo menos nas semifinais.

Na chave feminina, Caroline Wozniacki, número 5 do mundo, passou fácil por um jogo que prometia ser complicado. A dinamarquesa perdeu apenas quatro games (6/2 e 6/2) ao eliminar a italiana Camila Giorgi, #32, e garantir seu lugar na segunda semana. Até agora, a ex-número 1 do mundo até agora tirou proveito de uma chave tranquila e já igualou seu melhor resultado no torneio britânico. Agora, sem Kvitova no torneio, quem arrisca afirmar até onde Wozniacki pode ir?

Mais cabeças que rolaram

Angelique Kerber, número 10 do mundo, nunca esteve entre as mais cotadas em Wimbledon. Nem mesmo depois de conquistar o WTA de Birmingham, seu último torneio antes do Slam londrino. Seu jogo conservador acaba eventualmente sendo superado por alguém num dia inspirado. Foi o que aconteceu neste sábado, diante de Garbiñe Muguruza, #20.

A Espanhola foi corajosa e salvou nove set points antes de vencer a primeira parcial. No fim, saiu vencedora por 7/6(12), 1/6 e 6/2. Depois de uma vitória em três jogos na grama nos toneios pré-Wimbledon, Muguruza avança em uma chave traiçoeira, já tem sua melhor campanha da carreira em Londres e agora fará uma partida interessante contra Wozniacki. Será?

As oitavas definidas

[1] Novak Djokovic x Kevin Anderson [14]
[9] Marin Cilic x Denis Kudla
[4] Stan Wawrinka x David Goffin [16]
[21] Richard Gasquet x Nick Kyrgios [26]
Vasek Pospisil x Viktor Troicki [22]
[23] Ivo Karlovic x Andy Murray [3]
[6] Tomas Berdych x Gilles Simon [12]
[20] Roberto Bautista Agut x Roger Federer [2]

[1] Serena Williams x Venus Williams [16]
[23] Victoria Azarenka x Belinda Bencic [30]
[4] Maria Sharapova x Zarina Diyas
Coco Vandewegue x Lucie Safarova [6]
[5] Caroline Wozniacki x Garbiñe Muguruza [20]
[15] Timea Bacsinszky x Monica Niculescu
Olga Govortsova x Madison Keys [21]
[13] Agnieszka Radwanska x Jelena Jankovic [28]

Os brasileiros

Bruno Soares atuou em Wimbledon apenas pelas duplas mistas neste sábado, mas a ATP publicou hoje um vídeo em que o brasileiro e seu parceiro, o austríaco Alexander Peya, falam sobre a confiança que têm para jogar na grama. Veja!

Dentro de quadra, Soares e a indiana Sania Mirza, campeões do US Open no ano passado, começaram sua campanha contra o alemão Andre Begemann e a eslovaca Janette Husarova. Cabeças de chave número 2, brasileiro e indiana fizeram 6/2 e 6/4 e passaram às oitavas de final. O cumprimento final teve direito, inclusive, a simpáticos beijinhos entre Soares e Begemann.

Na chave de duplas masculinas, Marcelo Demoliner e o neozelandês entraram em quadra pelas oitavas de final contra o israelense Jonathan Erlich e o alemão Philipp Petzschner, mas saíram derrotados por 6/3, 4/6, 6/3 e 6/3. COm o resultado, Erlich e Petzschner são a primeira duplas nas quartas de final e podem enfrentar Marcelo Melo e Ivan Dodig, que enfrentarão nas oitavas o britânico Jonathan Marray e o dinamarquês Frederik Nielsen, campeões de Wimbledon em 2012.

Na chave juvenil, Luisa Stefani, cabeça de chave número 13, enfrentou a americana Claire Liu e venceu apenas um game: 6/0 e 6/1. E vale lembrar: não há brasileiros na chave juvenil masculina. Agora que Orlandinho entra de vez no circuito profissional, fica evidente a lacuna no tênis de base brasileiro. Mas há quem queira acreditar que o circuito juvenil reformado pela CBT vem ajudando o desenvolvimento de atletas. Pois é…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.