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Saque e Voleio

Um campeão reconhecido

Alexandre Cossenza

30/06/2015 06h00

Lleyton Hewitt vai se aposentar ao fim do Australian Open de 2016. O australiano fez o anúncio no começo deste ano. Logo o mundo sabia que sua participação em Wimbledon/2015 seria especial. A última.

Quem começou a ver tênis há dez anos não faz ideia do que Hewitt significou para o tênis. O australiano teve seu momento adolescente rebelde, reclamando de tudo e de todos e até se recusando a dar entrevistas obrigatórias (o site da ATP tem até uma lista das transgressões de Rusty cerca de 15 anos atrás!). Mas não foi isso que fez de Hewitt um cidadão especial – e tampouco vou listar tudo que tenho vontade de escrever até o dia de sua aposentadoria de fato.

Só que a história do australiano em Wimbledon justifica este post, assim como certamente justifica o enorme respeito demonstrado pelo público ao fim da partida desta segunda-feira contra Jarkko Nieminen. Foi o título de Hewitt em 2002 que deixou claro para o mundo o momento de transformação do tênis. Não só por ele, mas porque aquela final foi contra David Naldandian. Depois de anos de domínio de Sampras e uma conquista memorável de Goran Ivanisevic em cima de Patrick Rafter, Wimbledon viu em 2002 uma decisão entre dois atletas que tinham seu ganha-pão no fundo de quadra.

Era o assunto do circuito. Era o início do fim do saque-e-voleio. Ou talvez já fosse o fim, apenas disfarçado pela gigante capacidade de Roger Federer de impor seu estilo na grama nos anos seguintes (2003 a 2007). Não faz diferença. Hewitt perdeu apenas seis games naquela final. Fez 6/1, 6/3, e 6/2 em cima do argentino e entrou para a história do All England Club.

A última derrota, para Nieminen, outro veterano, de certa forma simbolizou um pouco de tudo que Hewitt fez na grama ao longo dos anos. Mergulhou para volear, acertou belas devoluções, acertou lobs com top spin… E lutou. Mesmo depois de cinco cirurgias em seis anos e uma placa de metal presa por dois parafusos no dedão do pé esquerdo, sua característica mais marcante esteve lá até o derradeiro 20º (!!!) game do quinto set. Brigou, correu, gritou… Tentou de tudo. Se seu tênis não é o mesmo de anos atrás, a postura de campeão continuou. E o público de Wimbledon, mais do que qualquer outro público do circuito, sabe reconhecer.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.