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O "Guiazão" de Wimbledon: chave femininina

Alexandre Cossenza

27/06/2015 12h22

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Ok, Serena Williams é favoritíssima desde sempre e para sempre. Até aí, novidade nenhuma. Há, no entanto, um monte de questões intrigantes que foram colocadas na mesa dede que a chave feminina de Wimbledon foi sorteada, nesta sexta-feira. Como está Petra Kvitova? Em que fase Eugenie Bouchard, atual vice-campeã, vai dar adeus? E a minha preferida e reutilizável em 2015: onde diabos está Victoria Azarenka? Vejamos, então, o que nos aguarda nas próximas duas semanas.

Campeã dos últimos três Grand Slams, Serena está a sete jogos de um "Serena Slam", mas me parece  mais relevante ver que ela pode fechar o chamado Grand Slam (de fato), que às vezes é chamado de calendar year Grand Slam. Ou seja, ganhar todos na mesma temporada, um dos feitos mais espetaculares possíveis no tênis. Algo que não acontece desde 1988, com Steffi Graf. Aliás, em toda história apenas Graf, Margaret Court (1970) e Maureen Connolly Brinker (1953) conseguiram isso.

A tenista com mais jogo – especialmente na grama – para ameaçar Serena é Petra Kvitova. A tcheca, entretanto, é um ponto de interrogação em forma humana. Não só pela irregularidade de seu tênis, mas por questões físicas. Petra, aliás, acabou desistindo de jogar o WTA de Eastbourne, que seria seu único evento na grama antes de Wimbledon, por causa de uma "doença".

Uma garganta inflamada foi parte da justificativa. Ela mesma disse que não parecia nada preocupante. Se assim for, é fácil imaginar Kvitova navegando tranquilo na chave até as quartas de final. Ainda assim, sua adversária de melhor ranking até a semi é Makarova. Esse quadrante ainda tem como cabeças Jankovic, Svitolina, Aga Radwanska, Bouchard, Keys e Cornet. Fora uma semana inspirada de Madison Keys, alguém mais poderia ameaçar Kvitova? Parece que não. A maior adversária de tcheca deve ser ela mesma.

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O outro quadrante na parte de baixo da chave é encabeçado por Halep e Wozniacki. Em outras palavras, tudo pode acontecer. Sabine Lisicki, recordista de aces (já falo mais sobre ela), está ali como cabeça 18 numa seção bastante acessível. Bacsinszky, Giorgi, Muguruza, Kerber e Kuznetsova são as outras cabeças de chave nessa parte de ninguém-é-de-ninguém.

A coisa esquenta mesmo na parte de cima, com Serena, Venus, Sharapova, Ivanovic, Pliskova, Bencic e Stosur. Perdidas ali no meio, sem status de cabeça de chave, ainda estão Cibulkova, Schiavone, Mladenovic e Pironkova. E, claro, ela: Victoria Azarenka. Azar de Vika que seu recém-readquirido status como cabeça de chave não facilitou tanto sua vida. Logo na segunda rodada, a bielorrussa encara Flipkens ou Beck e, se avançar, terá pela frente Suárez Navarro ou Mladenovic. nas oitavas, enfrentaria Ivanovic ou Bencic (ou Pironkova). Nas quartas, de novo, Serena. Pode rir. É engraçado.

Sharapova não tem muito do que reclamar. Seu caminho até as quartas tem, como principais cabeças de chave, Begu, Pennetta e Petkovic. Só então a russa teria pela frente quem avançar na seção onde estão Karolina Pliskova, Stosur, Safarova, Strycova e Stephens. Dá até para a campeã de 2004 gastar umas duplas faltas antes de entrar na segunda semana, quando a coisa aperta.

A brasileira

Com Bia Haddad eliminada na primeira rodada do qualifying, é de Teliana Pereira, mais uma vez, a tarefa solitária de carregar as cores do Brasil (desde que não no uniforme branco que Wimbledon exige). A alagoana/pernambucana que também é paranaense ilustre, estreia contra Camila Giorgi, que vem de cinco vitórias seguidas – foi campeã do WTA de 's-Hertogenbosch. A italiana pode tanto fazer 27 duplas faltas (como fez em uma das partidas no torneio alemão) quanto fazer apresentações bem sólidas, jogando um tênis agressivo. Derrotá-la não é a mais fácil das tarefas para Teliana, mas está longe de ser impossível.

O que ver (ou não) na TV

Além de Teliana x Giorgi, tem coisa boa já na primeira rodada, a começar pelo duelo italiano entre Sara Errani e Francesca Schiavone, que também coloca em quadra um contraste gigante de estilos. Ainda no tema "compatriotas", Hantuchova e Cibulkova também se enfrentam logo de cara. recomendo também ficar de olho em Lisicki x Gajdosova, nem que seja apenas porque a australiana merece ser vista enquanto estiver viva no torneio – o que não pode durar muito.

O que pode (ou não) acontecer de mais legal

Pelo menos na imprensa americana, já rola alguma expectativa para o duelo entre Venus e Serena Williams, que podem se encontrar nas oitavas. Teríamos dez títulos de Wimbledon em quadra, o que, convenhamos, não acontece todo dia. E pode não acontecer este ano – até porque Venus não tem lá ido tão longe em Slams ultimamente e não chega nas oitavas em Londres desde 2011. Mas seria bastante especial se as duas voltassem a se enfrentar na Quadra Central.

Outro confronto possível de oitavas de final é Ivanovic x Azarenka. Seria mais um desses jogos super badalados. São, afinal, duas ex-líderes do ranking mundial e que costumam fazer partidas interessantes. O problema é que a sérvia só chegou às oitavas em Wimbledon uma vez nos últimos cinco anos. Ah, sim: quem vencer essa parte da chave ganha como "recompensa" o direito de enfrentar Serena. A não ser que a americana fique pelo caminho, aí sim, esse Ivanovic x Azarenka ganha uma dimensão ainda maior.

As tenistas mais perigosas que ninguém está olhando

Não é exatamente o melhor momento da carreira de Tsvetana Pironkova, mas convém não ignorar totalmente uma pessoa que já fez semi e quartas de final em Wimbledon. Sua estreia já será interessante. A adversária será a suíça Belinda Bencic, que foi vice em 's-Hertogenbosch e campeã em Eastbourne. Cabeça de chave 30, a jovem de 18 anos é favorita, mas terá pouco tempo de treino no All England Club. Existe um potencial nada minúsculo de zebra aqui.

Quem pode (ou não) surpreender

Um nome a ser considerado aqui é o de Dominika Cibulkova, que ficou quatro meses sem jogar, despencou no ranking e não aparece como cabeça de chave no Slam da grama. Em Eastbourne, derrubou Lucie Safarova antes de tombar diante de Pironkova. Seu caminho em Wimbledon não é dos mais fáceis. Estreia contra Hantuchova e pode enfrentar Serena já na terceira rodada. Impossível prever o que vai acontecer ali, mas se a número 1 fizer um daqueles (nem tão raros) inícios de torneio preguiçosos… Sei não.

Vale citar também a francesa Kristina Mladenovic, que tem ótimos saques e devoluções, embora não se defenda tão bem. Se conseguir impor seu jogo agressivo na grama, pode muito bem ir longe, até porque o sorteio não lhe foi nada cruel. Estreia contra Dulgheru e, se vencer, encara Suárez Navarro ou Ostapenko. Só então enfrentaria Vika na terceira rodada. Será?

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As sacadoras

Sabine Lisicki chegou pelo menos às quartas de final de Wimbledon em sua últimas cinco participações e não por acaso alcançou a final em 2013 (com mais uma semi em 2011). Seu saque, o mais veloz do circuito, faz estrago no piso. Lisicki, aliás, tem dois recordes muito relevantes. Mais aces em um jogo (27, contra Bencic em Birmingham este ano) e o saque mais veloz da história (210 km/h em Stanford no ano passado). Para deixar tudo mais interessante, a alemã caiu numa seção da chave com Halep e Wozniacki como principais cabeças. A romena vem em momento nada empolgante, e a dinamarquesa nunca passou das oitavas na grama de Londres. Também por isso, Lisicki anda muito bem cotada para ir longe outra vez (vide o tópico seguinte).

Outro nome perigoso é do Karolina Pliskova, que, ouso dizer, depende um pouco menos do seu (ótimo) saque. Número 11 do mundo, a tcheca foi vice-campeã em Birmingham, onde perdeu a final no tie-break do terceiro set para Kerber porque fez 11 aces, mas ganhou muito pouco com seu segundo serviço. Se estiver com o golpe calibrado em Wimbledon, pode encontrar Stosur na terceira rodada e Safarova nas oitavas. E Pliskova tem retrospecto positivo contra ambas. Quem sabe a tcheca não encontra Sharapova nas quartas?

Nas casas de apostas

Na australiana sportsbet, Serena Williams lidera as cotações. Um título da número 1 do mundo paga 2,75 para cada "dinheiro" de quem apostou nela. O top 10 feminino em Wimbledon na casa ainda tem, por ordem, Kvitova (5,00), Sharapova (9,00), Azarenka (19,00), Kerber (21,00), Halep (21,00), Lisicki (21,00), Safarova (26,00), Radwanska (26,00) e Wozniacki (34,00).

Para os britânicos da William Hill, Radwanska está mais bem cotada, e Wozniacki fica fora da lista das dez mais. A ordem lá fica assim: Serena (7/4, ou seja, sete "dinheiros" para cada quatro apostados), Kvitova (7/2), Sharapova (10/1), Azarenka (16/1), Lisicki (20/1), Halep (20/1), Radwanska (25/1), Kerber (25/1), Safarova (25/1) e Stephens (33/1).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.