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Saque e Voleio

Uma madrugada muito louca

Alexandre Cossenza

21/02/2015 05h19

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Começou com a partida entre Bia Haddad e Sara Errani. Um jogo que teve um set longo, uma parada por calor e uma interrupção por lesão. David Ferrer e Juan Mónaco, em seguida, jogaram três sets. O mesmo aconteceu com Feijão e Andreas Haider-Maurer. Quando o número 2 do Brasil saiu de quadra, por volta das 21h30min, havia uma séria possibilidade de a rodada terminar além da meia-noite. Afinal, Fabio Fognini e Federico Delbonis ainda jogariam antes da grande atração do dia, Rafael Nadal x Pablo Cuevas.

Em uma dia com um punhado de confrontos demorados, torneios costumam transferir algum jogo para uma quadra menor. O Rio Open optou por manter Fognini e Delbonis na Central. Pois italiano e argentino ficaram por mais de três horas em quadra. Rafael Nadal chegou na quadra precisamente à 1h da manhã. Oficialmente, seu jogo contra Cuevas começou à 1h13min e terminou às 3h18min. Mas valeu à pena para quem ficou até o fim. Mais de 4 mil pessoas (contando só quem ficou) viram Nadal lutando para adquirir confiança em um dia ruim e foram recompensados com uma vitória do Rei do Saibro – sim, a maioria torcia animadamente pelo espanhol.

Mas não foi só isso. A madrugada carioca teve seus momentos divertidos. No intervalo entre o segundo e o terceiro sets, Nadal trocou de shorts e voltou para quadra com a nova peça ao contrário. Sem conseguir colocar as bolas no bolso, foi forçado a mudar de rotina na hora do saque. Depois de confirmar o serviço, correu para o banco, enrolou uma toalha em volta da cintura e tirou o short ali mesmo, colocando de volta rapidinho – aí, sim, como deveria ser.

Nadal troca de short no meio da quadra (Rio Open)

Enquanto isso acontecia, já por volta das 3h da manhã, Pablo Cuevas perdia a cabeça. O uruguaio jogou um segundo game desleixado, arriscando como não havia feito ainda no jogo, e pagou o preço. Nadal quebrou, disparou na frente, e Cuevas abandonou a partida. Foi vaiado quando perdeu o quinto game e ouviu mais ainda quando sacou no sexto game e fez força para errar. Saiu de quadra xingado e xingando, enquanto Nadal agradecia ao público por ter ficado até tão tarde e dizia que nenhuma partida deveria terminar tão tarde. E, com uma vaga nas semifinais, mesmo às 3h20min, parou para dar dezenas de autógrafos.

Fora de quadra, como não podia (até podia, mas não convém) falar mal do torneio que lhe pagou um cachê milionário, Nadal fez o que faz sempre: criticou a ATP. Em uma curta entrevista, disse que a entidade nunca poderia permitir que uma partida começasse naquele horário e deu a entender que aquilo só aconteceu porque ninguém quis deslocar uma partida (tudo leva a crer que ele falava de Fognini x Delbonis). Mas está vivo para a alegria dos organizadores.

No Media Center

Gosto quando um dia vai longe assim. Os últimos jogos ganham um ar diferente e só fica em quadra mesmo quem gosta de tênis. Os curiosos costumam desistir cedo. Sei que sou minoria. Na sala de imprensa, a torcida era enorme para que Fognini fechasse o segundo set. Acho que ouvi um "vou matar esse cara torcendo para o Delbonis" logo depois que comemorei um ponto do argentino no tie-break do segundo set.

Acaba sendo divertido, apesar de terem parado de abastecer a mesa de lanches dos jornalistas às 22h. Para a sorte de alguns, João Victor Araripe distribuiu bolo. Para a sorte de todos, as lanchonetes ainda estavam todas abertas à meia-noite. O ambiente no Jockey, aliás, era ótimo (vide foto abaixo). Muita gente sentada às mesas, batendo papo, comendo e bebendo enquanto Fognini e Delbonis jogavam.

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Os brasileiros

Não foi um dia, digamos, memorável. Primeiro, Bia Haddad fazia uma partida brilhante contra Sara Errani – mesmo sob quarenta graus de temperatura, em uma partida iniciada às 13h – mas perdeu match points no segundo set. Após o intervalo de dez minutos, a paulista teve cãibras e não conseguiu jogar. Teve de abandonar a partida mais valiosa de sua jovem carreira e chorou. Por isso, também não jogou a semifinal de duplas ao lado de Teliana Pereira.

À noite, Bruno Soares e Feijão foram eliminados quase simultaneamente. Na Quadra 1, em mais uma das partidas parelhas que escaparam em 2015, Soares e Alexander Peya caíram no match tie-break diante de Oliver Marach e Pablo Andujar. Soares, aliás, criticou duramente a bola produzida pela Head e adotada pelo torneio. O mineiro disse, com todas as quatro letras, que a bola é um "lixo". João Souza, por sua vez, venceu o segundo set e até saiu na frente na parcial decisiva, mas cedeu a virada a Andreas Haider Maurer.

Coisas que eu acho que acho:

– Li críticas ao preparo físico de Bia Haddad. Não acho que sejam justas. Não a uma menina de 18 anos que precisou jogar sob um calor de 40 graus a partida – repito – mais valiosa de sua carreira. A exigência física e o nervosismo do jogo (com match points e um tie-break no segundo set) desgastam um atleta adolescente em medidas que não são fáceis de calcular.

– Há quem culpe o torneio, por "forçá-las a jogar sob um calor desumano". Também soa como um ataque covarde. O Rio Open, na verdade, são dois torneios – um masculino e um feminino. Não tem como começar a programação às 15h e achar que as partidas vão terminar antes das 2h da manhã seguinte. Não tem como. Bia acabou prejudicada (culpa de ninguém) porque estava nas semifinais de duplas, e o regulamento exige que todo jogo de simples seja realizado antes. Logo, a brasileira precisava entrar em mais quadra cedo para voltar à quadra mais tarde.

– Também ouvi críticas à postura de Sara Errani, que reclamou depois de Bia ser atendida no meio de um game do terceiro set. A italiana queria, simplesmente, que o regulamento fosse cumprido. E as regras não permitem tempo médico nem interrupção de jogo por causa de cãibras – que foram o problema de Bia.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.