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Australian Open: o guia

Alexandre Cossenza

16/01/2015 13h01

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Chegou a hora. Depois de duas semanas com resultados espantosos (vide Nadal e Djokovic em Doha), outros nem tanto (vide Federer em Brisbane), cafezinhos, Red Bulls e ajustes ao fuso horário da Oceania, o Australian Open está aqui, na nossa cara, com tanta coisa bacana para ver e comentar que não deu para fazer um post menor que este. Nem parece que passou tanto tempo desde o fim da última temporada (obrigado, IPTL), mas a chave já foi sorteada e Melbourne já está animada, abraçando todo mundo, com (quase) todos grandes nomes.

E bota nome nisso. Rafael Nadal está de volta, junto com Juan Martín del Potro e Nicolás Almagro. A lamentar mesmo, só a ausência de Marin Cilic, campeão do US Open, que ainda tem problemas físicos. O mesmo vale para Jo-Wilfried Tsonga, que já estava lesionado na final da Copa Davis e ainda não se recuperou ("obrigado", IPTL). Mas eu divago. Vamos a este mini guia do torneio, com análise de chave, o que ver (ou não) na TV, cotações de casas de apostas e até a briga pelo posto de número 1 do mundo, que estará em jogo na Austrália.

Os grandes

Novak Djokovic de um lado; Roger Federer, Rafael Nadal e Andy Murray do outro. Mas calma, é injusto analisar uma chave só por esses quatro tenistas. A metade do sérvio não pode ser tão fácil assim. E não é. Estão lá também o atual campeão do Australian Open, Stan(islas) Wawrinka e o japonês Kei Nishikori. Os dois derrotaram Nole em Grand Slams no ano passado. Ainda assim, caso confirme o favoritismo e avance na chave, Djokovic só precisaria enfrentar um dos dois – e lá nas semifinais. O resto do caminho não é dos mais complicados.

Não é lá um exercício muito fácil imaginar Djokovic perdendo cedo em Melbourne. Seu caminho começa contra um qualifier e tem, em sequência, Ramos-Viñolas/Kuznetsov, Soeda/Qualifier/Ward/Verdasco, Isner/Bautista Agut nas oitavas e Feliciano/Monfils/Benneteau/Raonic nas quartas. Contra esse grupo de possíveis quadrifinalistas, Djokovic tem um retrospecto de 25 vitórias e duas derrotas. São números que dizem um bocado. Seria diferente se algum deles atravessasse momento acima da média, mas não é o caso.

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A metade de baixo, com 3/4 do Big Four, tem um início favorável a Federer, que enfrenta Lu na estreia e, depois, encara Mónaco/Bolelli, Chardy/Coric/Seppi/Istomin, e Robredo/Karlovic nas oitavas. Se tudo acontecer como o previsto, o suíço terá Murray pela frente nas quartas e, finalmente, Nadal nas semifinais. Vale lembrar que o escocês já derrotou Federer na Austrália (2013) e que Nadal não perde um jogo melhor de cinco sets para o suíço desde 2007.

O resumo é que a chave põe Djokovic mais favorito ainda – claro, com todas ressalvas costumeiras que são feitas antes de qualquer evento. "É só no papel", "falta ver como todos vão estar quando começar o torneio", "o calor fará diferença" e todos aqueles clichês que usamos sempre – até porque são válidos. Contudo, o sorteio deixa Nole com mais tempo para ajustar e calibrar seu jogo antes de enfrentar adversários realmente perigosos.

O campeão

Um dos maiores atrativos neste Australian Open será acompanhar Stan, the Man. O homem que encantou ao derrubar Novak Djokovic e Rafael Nadal e foi festejado pelo planeta como um sopro de renovação e início do fim do Big Four, chega a Melbourne como o campeão, precisando defender o título. É uma posição nada familiar para o suíço, que não lidou tão bem assim com o status de campeão de Grand Slam em 2014. E agora, um ano depois, o que esperar de Wawrinka? Sua chave não é das piores, com Ilhan na primeira rodada, seguido por Qualifier/Andújar, Nieminen/Golubev/Qualifier/Cuevas, e, nas oitavas, Dolgopolov/Fognini. Só nas quartas é que Wawrinka enfrentaria Nishikori ou Ferrer, em uma seção que também inclui Simon, Giraldo, Almagro, Dodig, Feijão e Bellucci.

O panorama não é tão diferente assim para Kei Nishikori, vice-campeão do US Open e número 5 do mundo. Este Australian Open será o primeiro Slam em que o japonês será considerado um sério candidato ao título. Entre isso e "alguém que tem potencial e corre por fora com chances de surpreender" havia um Oceano Pacífico esperando para ser aberto. Além disso, Melbourne tem um sabor especial para os asiáticos, já que é o Slam mais perto de casa. Nishikori fala pouco (tanto porque não é chegado a dar entrevistas quanto porque não tem tanta coisa interessante a dizer), então pouco se sabe sobre suas expectativas e seus nervos antes desta edição particular do torneio. A primeira partida, logo contra Almagro, talvez dê algumas pistas do que esperar nas rodadas seguintes.

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Os brasileiros

Thomaz Bellucci encara David Ferrer, enquanto Feijão enfrenta Ivan Dodig. Tudo aponta para duas derrotas. Ferrer tem cinco vitórias em seis confrontos contra o paulista e, como se isso não bastasse, o espanhol foi campeão em Doha há uma semana. Bellucci, por sua vez, fez só um jogo em 2015: caiu na primeira rodada em Auckland. Enquanto isso, Feijão fez boas apresentações, ganhando um jogo na chave principal em Doha e vencendo duas partidas no quali de Sydney. Ao mesmo tempo, o tenista de Mogi das Cruzes perdeu chances valiosas nas duas derrotas que sofreu. Dodig, número 85 do mundo, é o favorito.

O que ver (ou não) na TV

A chave deste Australian Open está recheada de partidas interessantes, até porque ótimos tenistas não serão cabeças de chave. É o caso de Nishikori x Almagro, com o espanhol voltando de um longo período de recuperação. Um caso parecido é Del Potro x Jerzy Janowicz. O argentino retornou às quadras em Sydney e ganhou duas partidas. Agora enfrenta o talentoso e inconstante polonês em um duelo violento – no bom sentido. E que tal Gulbis x Kokkinakis? O letão imprevisível contra uma das revelações do tênis australiano. The Kokk (um dos melhores apelidos do tênis mundial), vice-campeão juvenil do torneio em 2013, treinou com Roger Federer nesta pré-temporada. Outra promessa de jogo interessante? Nadal x Youzhny. O russo tem no currículo quatro vitórias sobre o espanhol, que volta de lesão e perdeu a única apresentação oficial que fez nas simples em 2015. E a chave ainda tem Dustin Brown x Grigor Dimitrov, Delbonis x Kyrgios e Chardy x Coric.

Se a ESPN acertar a mão na escolha dos jogos, vai dar para ver muita coisa boa na TV. Caso o canal deixe a desejar, resta sempre a (ótima) opção de ver tudo ao vivo pelo site oficial do Australian Open. Nos últimos três anos, o torneio transmitiu todas as partidas de simples (e muitas duplas e duplas mistas) realizadas em quadras com equipamentos de TV. Logo, as opções serão muitas para quem puder (e aguentar) ficar acordado noite adentro.

O que pode (ou não) acontecer de mais legal

Parece estranho e pode ser só uma impressão minha, bem pessoal, mas vejo mais jogos interessantes na primeira rodada do que nas fases imediatamente seguintes. Ainda assim, um Del Potro x Monfils é possível na segunda rodada. Também vale ficar de olho em Tomic, que pode encarar Gulbis ou Kokkinakis na terceira rodada. E também seria curioso ver um duelo entre Federer e o jovem Coric – o mesmo que eliminou Nadal na Basileia em 2014. Não que o croata deixe de ser azarão contra o suíço, mas é sempre intrigante ver como um garotão (Coric tem 18 anos e é o número 90 do mundo) lida com a tarefa de entrar em quadra diante de um dos maiores nomes da história do esporte.

O tenista mais perigoso que ninguém está olhando

O melhor nome fora do radar é o de Vikor Troicki, que está solto na seção de Berdych. O sérvio, que já foi número 12 do mundo e em julho do ano passado havia despencado para 842 por causa de uma suspensão por (não se submeter a um exame anti) doping, hoje é o 92º na lista da ATP e finalista em Sydney. Ele estreia em Melbourne contra Vesely, finalista em Auckland. O duelo promete testar a recuperação de ambos, mas o vencedor enfrentará Leonardo Mayer ou John Millman na segunda rodada e terá boas chances de chegar a um confronto contra Berdych logo depois. Será?

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Quem pode (ou não) surpreender

Segundo o tom do que escrevi pouco acima, uma vitória de Almagro sobre Nishikori espantaria muita gente. O espanhol não joga desde Roland Garros, e derrotar um rival tão consistente quanto Nishikori, em condições normais, exige ritmo de jogo e confiança nos pontos importantes.

O cenário para Del Potro não é tão diferente, mas o argentino parece estar alguns passos à frente de Almagro. Logo, não seria tão surpreendente vê-lo derrotar Janowicz na primeira rodada. O que surpreenderia (positivamente – com negrito e itálico, por favor) de verdade seria uma campanha mais longa. Seu caminho tem, possivelmente, Monfils, Feliciano López e Milos Raonic. De qualquer modo, parece a seção mais interessante da chave nas primeiras rodadas.

Outra seção que paquero desde que vi é a que tem Gulbis, Kokkinakis, Tomic e Kohlschreiber. Qualquer um desse quarteto pode alcançar às oitavas e fazer um jogão contra Berdych.

Número 1 em jogo

Djokovic tem uma boa vantagem sobre Federer no ranking, mas, com 2 mil pontos em jogo no Australian Open, o suíço terá a chance de voltar ao topo da lista da ATP. A matemática é bem simples. Federer será líder no dia 2 de fevereiro se for campeão em Melbourne e contar com uma derrota de Djokovic antes das oitavas de final. Não parece muito provável, mas coisas mais estranhas já aconteceram.

Nas casas de apostas

As cotações não são tão surpreendentes assim. Na bet365, os favoritos são, nesta ordem, Djokovic (pagando 10/11, ou seja, dez dólares para cada 11 apostados), Federer (11/2), Nadal (7/1), Murray (8/1), Wawrinka (12/1), Nishikori (14/1), Dimitrov (28/1), Berdych (33/1), Raonic (33/1) e Del Potro (66/1).

Bellucci é azarão contra Ferrer e paga 9/1, contrastando com o 1/16 de cotação para o espanhol. Feijão, por sua vez, não é tão zebra contra Dodig. Uma vitória do número 2 do Brasil paga 11/4, enquanto um triunfo do croata paga 1/4.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.