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Os melhores do Brasil em 2014

Alexandre Cossenza

26/11/2014 10h59

Acaba a temporada e começa a hora das retrospectivas. Quem venceu ali, qual foi o lance mais espetacular do ano, onde aconteceu a melhor partida, qual a maior polêmica da temporada… Tem assunto para muita coisa. Escolho começar pela temporada do tênis brasileiro, aproveitando a recente cerimônia de entrega do Prêmio Tênis 2014, do qual orgulhosamente faço parte do grupo de votantes. Com os vencedores revelados, posso "abrir" meus votos. Os mais importantes foram:

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Melhor tenista: Marcelo Melo

O mineiro de 31 anos, número 6 do mundo, não é só o brasileiro de melhor ranking. Ele precisou jogar o circuito com quatro parceiros diferentes (Ivan Dodig, Julian Knowle, Jonathan Erlich e David Marrero) e conquistou "só" um título (Auckland, ao lado de Knowle), mas foi vice nos Masters de Monte Carlo e Toronto, classificou-se para o ATP Finals mesmo sem disputar dois (!) Grand Slams junto de Ivan Dodig e ainda chegou à decisão do último torneio da temporada – derrotado pelos irmãos Bob e Mike Bryan apenas no match tie-break.

A grande dúvida, pelo menos para mim, foi decidir em que mineiro voltar. A temporada de Bruno Soares também foi brilhante. Número 10 do mundo, o tenista de 32 anos ganhou o US Open nas duplas mistas e, junto de Alexander Peya, foi campeão em Toronto e Queen's, além de vice em Doha, Auckland, Indian Wells, Eastbourne e Hamburgo. Bruno, claro, foi tão importante para o sucesso brasileiro na Copa Davis quanto Marcelo. Talvez o mais justo fosse dividir o prêmio aqui, mas era preciso escolher um nome.

O "Girafa" foi minha opção não só pela eterna dificuldade extra de jogar com mais parceiros (e nem foram tantos em 2014 comparando com 2013 e 2012), mas porque adotei como critério não considerar as duplas mistas – já que Marcelo jogou apenas o Australian Open, onde se lesionou e, por isso, preferiu não arriscar nos outros Slams. De qualquer modo, é preciso explicar que o ranking não pesou tanto, já que os votos precisavam ser enviados até 1º de novembro. O ATP Finals, contudo, ratificou a melhor temporada de Marcelo.

Ele talvez nunca tenha a exposição de mídia que o conterrâneo naturalmente simpático recebe – com justiça -, mas seus méritos dentro de quadra são inegáveis. E não são de hoje. Não por acaso, Marcelo chegou a ocupar o terceiro lugar na lista da ATP em outubro. Sim, o mesmo posto foi de Bruno pela maior parte da temporada, mas ele e Alexander Peya perderam embalo nos últimos meses.

Melhor técnico de tênis masculino: Daniel Melo

Nada mais do que uma sequência da escolha acima. Daniel Melo trabalha quieto, fala pouco e não aparece nas conquistas, mas está sempre lá no dia a dia do irmão. E, pouca gente sabe, tem muita importância no que a dupla brasileira faz na Copa Davis – João Zwetsch, o capitão, foi o primeiro a reconhecer que foi 100% traçada por "Dani" a estratégia usada para bater a dupla espanhola no Ibirapuera.

Votar em Daniel Melo, técnico do brasileiro de melhor ranking, também significou, para mim, corrigir uma falha do ano passado, quando o mineiro já merecia a premiação. Obviamente, minha escolha não foi motivada só por isso. Seu trabalho vem de anos. Daniel modelou o tênis do irmão e o levou ao top 10. E Marcelo, ainda hoje, aos 31, segue evoluindo. Foi um dos votos mais fáceis de decidir.

Melhor tenista mulher: Teliana Pereira

Nenhuma dúvida aqui. Olhando apenas o ranking, a número 1 do país e 107 do mundo termina em uma posição inferior à de 2013, quando fechou em 90º lugar. Só que Teliana tornou-se a primeira brasileira desde 1993 a disputar um Grand Slam (e jogou os quatro!), esteve na Quadra Central de Wimbledon e disputou 14 WTAs (sete na chave principal). E, claro, teve um belo resultado quando chegou às semifinais do Rio Open, em fevereiro.

Melhor técnico de tênis feminino: Renato Pereira

Renato é o técnico da número 1 do Brasil e, não muito diferentemente de Daniel Melo, trabalha quieto, sem chamar atenção. Não tem "mídia" e não tem fama internacional, mas está ao lado da irmã desde quase sempre. Se Teliana tem méritos por superar seguidos problemas de joelho, Renato tem que ser creditado com a contínua evolução da irmã.

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Melhor simplista homem: Thomaz Bellucci

Há pouco a explicar aqui. Bellucci é, com sobras, o tenista com mais potencial do país. Não fez uma temporada espetacular, mas fez o bastante para manter-se como número 1 do país e, mais importante do que isso, voltou ao top 100, fechando 2014 na 65ª posição. Alcançou as quartas de final nos ATPs 500 do Rio de Janeiro e de Valência, fez uma semifinal em São Paulo e, principalmente, conquistou duas belíssimas vitórias diante da Espanha na Copa Davis.

Feijão fez um ótimo segundo semestre e podia até ter encostado em Bellucci no ranking com um par de bons resultados, mas caiu cedo no importante Challenger de Guayaquil e bobeou no Challenger Finals, onde perdeu ótimas chances de somar pontos. No entanto, ainda que Feijão tivesse fechado 2014 à frente de Bellucci no ranking, meu voto iria para o canhoto de Tietê pela atuação na Copa Davis, que salvou a pele do questionado capitão João Zwetsch.

O Prêmio

O Prêmio Tênis 2014 também teve votos de Arnaldo Grizzo (Revista Tênis), Francisco Leite Moreira (Bandsports), Dácio Campos (SporTV), Erick Castelhero (Gazeta Esportiva.net), Fábio Aleixo (UOL), Fernando Sampaio (Jovem Pan), José Nilton Dalcim (Tenisbrasil), Luiz Fernandes (Tênis Virtual), Paulo Cleto (IG) e Nathalia Garcia (O Estado de S. Paulo), somados a votos de internautas.

Os principais premiados foram Thomaz Bellucci (melhor tenista de simples e melhor tenista geral), Bruno Soares (melhor duplista entre os homens), Teliana Pereira (melhor tenista entre as mulheres), Laura Pigossi (melhor duplista entre as mulheres), João Zwetsch (melhor técnico de tênis masculino), Carlos Kirmayr (melhor técnico de tênis feminino), Orlando Luz (melhor juvenil entre os homens) e Luisa Stefani (melhor juvenil entre as mulheres).

Também foram premiados Natalia Mayara e Carlos Santos entre os cadeirantes, Simone Vasconcelos e Roger Guedes entre os sêniores, Carlos Omaki como treinador de tênis de base, e Joana Cortez e Vini Font no beach tennis. O Wimbelemdom, de Marcelo Ruschel, foi eleito o melhor projeto social, enquanto Carlos Bernardes ficou com o óbvio prêmio de melhor árbitro do país.

Coisas que eu acho que acho

Para não deixar dúvida (alguém sempre tenta encontrar uma polêmica que não existe): o post não é uma crítica ao Prêmio Tênis. Muito pelo contrário. A beleza reside na prática da democracia. Ganha quem a maioria escolhe. E quem votou nos perdedores, ainda que discorde, deve aceitar o resultado. E a caixinha de comentários está aí (há sete anos!) para quem quiser discordar ou questionar publicamente – e educadamente, claro.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.