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Saque e Voleio

Porque Federer precisava vencer a Davis

Alexandre Cossenza

23/11/2014 14h05

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Nos últimos 11 anos, desde que se estabeleceu como número 1 do mundo e senhor do circuito, Roger Federer tentou ganhar a Copa Davis apenas duas vezes. A primeira foi em 2004, quando a Suíça sucumbiu diante da França. Seus parceiros, Ivo Heuberger, Michel Kratochvil e Yves Allegro, não seguraram a onda. A segunda tentativa, em 2012, aconteceu quando vislumbrava-se uma campanha só com jogos em casa e terminou em um decepcionante 5 a 0 para os EUA.

Na maior parte do tempo, Federer priorizou calendário e ranking, optando por vestir o vermelho e branco da Suíça quase sempre só nos playoffs. Só que um tenista com tantas conquistas, troféus e, claro, dinheiro, não poderia não tentar mais uma vez. Ele até falou que não precisava. "Ganhei tanto na minha carreira que não precisava marcar um X numa caixinha", disse neste domingo. Bobagem. A grande história do fim de semana é simples: Roger Federer conquistou a Copa Davis. Empurrado por Stan Wawrinka, grande nome do fim de semana, o ex-número 1 do mundo finalmente alcança um dos poucos feitos relevantes que faltavam em seu currículo.

O triunfo veio num fim de semana especial, com recorde de público (mais de 27 mil pessoas por dia) em Lille, no saibro e na casa dos adversários. E veio depois de uma lesão nas costas que o forçou a não disputar a decisão do ATP Finals, uma semana atrás. E veio depois de uma derrota doída na sexta-feira, um 3 a 0 diante de Gael Monfils em que Federer esteve longe de seu melhor e não esboçou reação diante do tenista número 2 do time da casa.

Mas veio com uma recuperação física impressionante. Nada abalado pelo resultado da sexta-feira, o número 1 suíço não só entrou nas duplas como voltou à arena no domingo. E veio, meio que como uma recompensa dos deuses do tênis, com ele em quadra, em uma atuação impecável diante de um confuso Richard Gasquet. Sim, senhores: Roger Federer, 33 anos, é campeão da Copa Davis. Porque não fazia sentido o tenista mais vitorioso de sua geração chegar ao fim da carreira sem vencer a mais legal das competições.

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Coisas que eu acho que acho sobre a Suíça:

– Wawrinka merece como ninguém a Copa Davis. Nas muitas ocasiões em que Federer priorizou seu calendário pessoal e sua posição no ranking, foi Stan the Man que segurou a barra sozinho, levando consigo Lammer, Chiudinelli, Allegro, fosse quem fosse. Contou com a ajuda de Federer em alguns playoffs, claro, mas esteve sempre ali, vestindo as cores do país.

– A campanha suíça em 2014 tem méritos de ambos. Federer, então número 2 do país, carregou o time contra o Cazaquistão, no que poderia ter sido uma zebra gigante em Genebra. Wawrinka no entanto, foi o nome do fim de semana em Lille. Esteve fantástico contra Tsonga (e talvez tenha sido o responsável pela lesão do francês) e foi o melhor em quadra também nas duplas.

– O banco suíço durante a final tinha 11 pessoas. Difícil imaginar o mesmo com o Brasil, que enche o espaço com juvenis, ex-tenistas, preparadores físicos, médicos, fisioterapeutas e, às vezes, até dirigentes de clubes e assessores de imprensa (ou seja, todo mundo menos Fernando Meligeni).

– Não lembro quem escreveu isso no Twitter durante este domingo, mas impressionou a recuperação física de Federer. Fosse Djokovic ou Nadal na mesma situação, a internet estaria cheia de teorias de conspiração. Que tal adotarmos critérios iguais a todos? Que tal entender que hoje em dia a recuperação é muito mais rápida, até para tenistas com mais de 30?

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Coisas que eu acho que acho sobre a França:

– Richard Gasquet esteve entre os trending topics do Twitter nos últimos dois dias, e não de maneira positiva. Sua escalação foi questionada, e as atuações deixaram muito a desejar. Normal que se questione a convocação, mas é compreensível que o capitão, Arnaud Clément, tenha apostado em um tenista que foi importante, vencendo dois jogos nas semifinais.

– Ainda assim, era difícil imaginar Gasquet derrotando Wawrinka ou Federer. Dada a condição física desconhecida do número 1 suíço antes do confronto, faria sentido escalar Gilles Simon, que poderia ter, no mínimo, alongado uma partida contra Federer na sexta-feira. Ainda assim, Gasquet não era a primeira opção de Clément. A intenção era jogar com Tsonga, que foi mal contra Wawrinka e ficou fora do resto do confronto alegando uma lesão no cotovelo (em Copa Davis, sempre convém duvidar das explicações oficiais).

– Com a quantidade de tenistas disponíveis, é fácil questionar a escalação francesa (eu mesmo acho que, no saibro, Simon e Chardy teriam mais chances contra Federer do que Gasquet e Tsonga), mas o time que foi pensado inicialmente por Clément, com Tsonga e Monfils nas simples e Tsonga/Benneteau nas duplas, poderia ter vencido o confronto. No fim das contas, o time francês não jogou o bastante e tem muito a lamentar sobre o fim de semana.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.