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Saque e Voleio

Aprendendo o caminho

Alexandre Cossenza

23/10/2014 13h48

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Por três anos, Thomaz Bellucci iniciou o trecho asiático do circuito mundial entrando de cara em um ATP 500. Em todos (Pequim em 2010 e 2011 e Tóquio em 2012), perdeu na estreia. E não teve muito sucesso no evento seguinte, o Masters 1.000 de Xangai. Nas três participações, venceu um jogo só. O ano mais duro foi 2011, quando deixou o evento chinês e rumou para a Basileia e, de lá, para o Masters de Paris. Não venceu nenhum jogo e, se somou alguma coisa naquele pós-US Open, foi graças ao convite para o Challenger Finals, onde ganhou 30 pontinhos. Não, o pós-US Open, jogado quase todo indoor e em quadras rápidas, não costuma ser o melhor momento do número 1 do Brasil.

Chegamos, então, a 2014. Com um ranking que não lhe permitia entrar nem nos ATPs 250, Bellucci mudou a programação. Nem tentou os qualis. Foi direto aos Challengers. De cara, fez uma final em Orleans, onde ganhou ritmo, derrotou dois top 100 (Sijsling e Mathieu) e foi vice-campeão. Depois, caiu na segunda rodada em Mons e na estreia em Rennes – derrotado pelo mesmo Marsel Ilhan nos dois eventos. Mas a sorte sorriu, e o paulista contou com desistências e entrou na chave do ATP 250 de Viena. Derrotou Mathieu mais uma vez, passou pelo espanhol Feliciano López (14 do mundo) e foi derrotado por Viktor Troicki nas quartas.

Só então, depois de quatro torneios em quadras cobertas e rápidas, é que Bellucci se aventurou em um ATP 500. Em Valência, jogou o quali e passou. Fez um jogo impecável e bateu Mikhail Youzhny (atual campeão) na primeira rodada. Depois, mais uma pitada de sorte: ganhou por WO de Roberto Bautista Agut, aquele mesmo que saiu derrotado na Copa Davis, no Ibirapuera. E assim, nas quartas de final de um ATP 500, Bellucci já consegue um número significativo: com os 220 pontos somados até agora (e nem coloquei na conta os pontos do quali de Valência), faz o melhor pós-US Open de sua carreira. Mesmo que perca nas quartas de final. Mesmo que encerre a temporada em Valência e não dispute o qualifying do Masters 1.000 de Paris, como ainda pretende.

Não, Bellucci não é um tenista espetacular em quadras duras e cobertas. E montar um calendário para este período do ano não é tarefa simples, já que o número 1 do Brasil sempre joga a Copa Davis, realizada logo depois do US Open e uma semana antes dos primeiros ATPs 250 na Ásia. A opção sempre foi a de descansar depois da Davis, mas era um caminho que exigia voltar a um piso nada favorável logo em torneios fortes. Nunca deu certo. Nem em 2011, quando a Davis foi na Rússia, em condições parecidas. A adaptação não é fácil, e as derrotas precoces acabam com qualquer esperança de adquirir ritmo. Em relação à maioria dos tenistas, Bellucci sempre chega "atrasado" ao circuito indoor. E paga o preço.

O caminho mais simples, ainda que parcialmente forçado, mostrou-se interessante. Após encerrar o US Open como número 83 do mundo, já tem praticamente garantida sua volta ao top 50 na próxima semana.

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Coisas que eu acho que acho:

– Bellucci terá 155 pontos descontados até o fim do ano. São 80 por um título no Challenger de Montevidéu e 75 por um vice em Bogotá. Ainda assim, mesmo que encerre a temporada após Valência, o número 1 do Brasil deve terminar 2014 entre os 70 melhores do mundo. No fim de 2013, Bellucci era o número 125.

– Roberto Bautista Agut vinha se queixando de dores. Durante a semana, disse à imprensa espanhola que o corpo estava pagando o preço por um calendário cheio – e muito jogos (ninguém chega ao top 15 com pouco tempo de quadra). Ainda assim, é de se imaginar o quanto a derrota na Copa Davis (e o quanto a Davis tornou-se tema sensível na Espanha!) pesou na decisão de Bautista Agut por não entrar em quadra nesta quinta-feira.

– Bellucci teve sorte de conseguir a vaga na chave em Viena e, depois, com a desistência de Bautista Agut. Sim, mas nem tanto. Primeiro porque não era nada improvável que o brasileiro conseguisse um lugar na chave em Moscou ou Viena. Nas semanas com três torneios (ainda havia Estocolmo), muita gente se inscreve em mais de um, e acaba sobrando vaga aqui e ali. E depois porque Bautista Agut não é nada, nada imbatível, certo?

– Mesmo com um calendário mais modesto, Bellucci teve dois resultados abaixo da expectativa: as duas derrotas para Ilhan, em Mons e Rennes. Ainda assim, supera a marca pessoal de número de pontos nesta época do ano. Imaginem quando (e se!) o paulista conseguir uma sequência de resultados consistentes…

– Para quem gosta de números e ficou curioso: desde 2009, quando passou a jogar os grandes torneios, Bellucci somou no pós-US Open 170 pontos em 2009, 150 em 2010, 50 em 2011, 205 em 2012 e 155 em 2013.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.