Federer desafia a matemática
Mais dois centímetros, e a discussão estaria encerrada desde o começo da última semana. Só que o backhand de Leo Mayer, com Roger Federer batido no lance, tocou na fita, subiu uns 15 centímetros e, quando caiu, voltou para o lado do argentino. O suíço, que salvou cinco match points naquele jogo, não voltou a ter uma atuação abaixo da média. Pelo contrário. Foi fantástico na vitória sobre Novak Djokovic, na semifinal, e completou o serviço no domingo, ao derrotar Gilles Simon, conquistar o Masters 1.000 da Xangai e, vejam só, aos 33 anos, reacender a luz da briga pelo posto de número 1 do mundo.
"O que é preciso para eu ser número 1? Não tenho certeza. Preciso olhar e ver o quão realista é. Está na raquete de Novak. Ele dita. Mesmo assim, vou jogar e torcer para jogar bem de novo."
Como sempre faz, o suíço sabe que suas chances não são grandes e minimiza a disputa. Não quer criar uma grande expectativa. Bobagem. Seus fãs, empolgados com razão após a última semana, já simulam por aí uma dúzia de cenários nos quais Federer pode terminar mais uma temporada. E nem é tão improvável assim, já que há algumas circunstâncias incomuns nessa briga. Vejamos!
A diferença entre sérvio e suíço, hoje, é de 2.430 pontos. Só que Federer tem quatro eventos a disputar. Djokovic, apenas dois. E talvez nem isso. Com a proximidade do nascimento de seu primeiro filho, especula-se que o número 1 fique fora do Masters de Paris, onde foi campeão ano passado. Assim sendo, a diferença cairia automaticamente para 1.430. E Nole também defende o título invicto do ATP Finals, o que equivale a 1.500 pontos. Como não joga mais, Djokovic não somará nada até o fim do ano. Na melhor das hipóteses, manterá a pontuação – o que já é um feito e tanto, convenhamos, e será suficiente para conservar a posição no topo do ranking.
Federer não tem tanto assim a defender. São 300 pontos pelo vice na Basileia, 360 pela semi de Paris e 400 pela semi do ATP Finals. Caso vença tudo, o suíço somará 2.165 pontos – e entram nessa conta os possíveis 225 pontos em jogo na final da Copa Davis. A Suíça, fora de casa, encara a França. Tudo bem, não é lá muito provável que alguém vença quatro eventos assim, mas convém não duvidar de Roger Federer. Nunca. Muito menos em quadras indoor.
A conta mais simples de se fazer é a seguinte: de agora até o fim da temporada, o suíço precisa fazer mil pontos a mais do que Djokovic para fechar 2014 como número 1. Nessa matemática, nem é mais preciso levar em consideração quem defende o quê nestes últimos torneios da temporada.
No entanto, vale ficar de olho na defesa de pontos porque o calendário mudou, e tudo que foi somado do ATP Finals de 2013 será descontado antes do mesmo evento em 2014. Assim, o suíço pode assumir a ponta – ainda que provisoriamente – já depois de Paris. E esse cenário nem é dos mais improváveis. Basta que Federer seja campeão na Basileia e em Paris, e que Djokovic não passe das semifinais na França. Assim, o suíço chegaria a Londres e iniciaria o ATP Finals com 9.520 pontos contra 9.370 do atual líder do ranking.
E se Djokovic nem for a Paris, Federer só precisa ser campeão na Basileia e vencer dois jogos em Paris, alcançando as quartas de final. Assim, somaria 9.060, contra 9.010 do sérvio. E, pelo que o suíço mostrou em Xangai, parece fácil – para ele.
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