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Saque e Voleio

A cautela que dá certo para Bellucci

Alexandre Cossenza

29/09/2014 00h32

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O pós-US Open é a parte mais difícil do calendário para Thomaz Bellucci. Ainda que dono de um bom saque e golpes potentes do fundo, o número 1 do Brasil é adepto do jogo no saibro, onde pode explorar o bom top spin gerado por seu forehand e tem mais tempo para preparar os golpes e trabalhar pontos. Quadras cobertas e mais rápidas nunca foram seu forte. Nesta época do ano, quando precisa enfrentar frequentemente tenistas que jogam com bola mais reta, o paulista costuma enfrentar problemas. Foram meses difíceis – sempre em fim de temporada – que culminaram com as demissões de João Zwetsch e Larri Passos.

Em média, Bellucci costuma disputar cinco torneios depois do US Open. E, de 2009 (quando conquistou seu primeiro título ATP) até hoje, nunca somou mais de 205 pontos no período. Sua melhor campanha veio em 2012, quando foi vice no ATP 250 de Moscou. Ainda assim, aquele torneio foi exceção. Não foi uma bela fase. Apenas um belo torneio. No mesmo ano de 2012, Bellucci venceu apenas uma partida nos outros quatro torneios pós-US Open.

De 2010 a 2012, sempre considerei o calendário do número 1 do Brasil um tanto ousado. Mesmo sabendo de suas dificuldades no piso, o paulista optou por começar sua viagem asiática por torneios fortes. Pequim (500) em 2010 e 2011, e Tóquio em 2012. Nunca estreou com vitória. Nunca tentou começar a gira asiática pelos ATPs 250, como Metz, São Petersburgo, Bangkok, Kuala Lumpur. Sim, Bellucci sempre disputa a Copa Davis e ficaria cansativo atuar no domingo e correr para estrear na terça do outro lado do mundo. Ainda assim, sempre houve a opção de descansar uma semana e jogar na Ásia com algum descanso.

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Este ano começou diferente. Sem ranking para disputar até os ATPs 250, Bellucci tinha a opção de tentar a sorte nos qualifyings, mas não quis. Quase que forçado a ser cauteloso, apostou em Challengers fortes. Seu calendário tinha Orleans, Mons e Rennes, seguidos pelo 250 de Moscou (ainda precisa de desistências para entar), o 500 de Valência (vai jogar o quali) e o Masters 1.000 de Paris (quali). E o que aconteceu? No primeiro Challenger, um vice-campeonato. São 75 pontos na conta. Para quem costuma somar 150 no período, não é nada mau.

Mas calma lá, não é um calendário medroso? Pouco ambicioso? Acho que não, e o melhor argumento para defender minha tese está nos parágrafos acima. Bellucci já tentou o caminho ousado e se deu mal. Em 2011, só conseguiu 50 pontos depois do US Open – e isto porque somou 30 ao entrar de convidado no Challenger Finais, aquele torneio sem pé nem cabeça organizado por sua ex-promotora. Mas tem mais: Orleans e Mons são Challengers fortes, com premiação de US$ 150 mil dólares e 125 pontos para o campeão. Não é nada incomum ver tenistas do top 100 nestes torneios. Rennes, outro evento de bom nível, paga US$ 100 mil. Logo, não é como se Bellucci estivesse voltando para a América do Sul para jogar torneios de US$ 40 mil (como os que Feijão vem jogando – e bem).

Além disso, para quem viu as atuações de Bellucci durante a semana em Orleans ficou clara a adaptação ao piso e a consequente evolução no nível de jogo. Uma coisa é começar a semana contra Marc Gicquel e Laurent Lokoli, tenistas que nem no top 200 estão. Dá para errar e seguir vivo no torneio. A margem para erro é muito menor nos ATPs 250. O brasileiro, que vinha de jogos no saibro, cresceu e foi à final de um evento que tinha oito top 100 como cabeças de chave. Dado o histórico nesta época do ano, é um ótimo resultado. Com os pontos de Orleans, subiu 11 posições e já aparece em 68º no ranking. A cautela deu certo.

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Coisas que eu acho que acho:

– Não dá para fazer um post sobre Challengers sem ressaltar o bom momento de Feijão. Se ficou chateado com a não convocação para a Copa Davis, o número 2 do Brasil não desanimou e vem mostrando resultados em quadra. Desde que ficou fora do time brasileiro, foi vice-campeão em Medellín, alcançou a semifinal em Quito e chegou a mais uma final em Pereira. Em três semanas, somou 132 pontos e garantiu sua volta ao top 100. Aparece como 93º na lista desta semana.

– Para não parecer injusto: antes do US Open e da Davis, Feijão já vinha jogando bem. Fez, em sequência, duas semifinais em Challengers (Scheveningen e Poznan) e passou pelo qualifying do ATP 250 de Kitzbühel. Em sete eventos, o único resultado que ficou abaixo da expectativa foi a eliminação na primeira rodada do quali em Flushing Meadows.

– Feijão ainda tem 105 pontos para defender até o fim da temporada, então não há garantias de que o Brasil terá dois top 100 no começo de 2015. Entretanto, João Souza ocupa hoje o terceiro posto no ranking dos Challengers de 2014. Se continuar entre os sete primeiros, ganha uma vaga no Challenger Finals, em São Paulo. O torneio sem pé nem cabeça distribui US$ 220 mil em prêmios e dá até 125 pontos para o campeão.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.